O filme do roteirista e diretor lajeadense Ismael Canepelle, Música para Quando as Luzes se Apagam, que estreou durante o 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, levou o Candango de melhor ator social para a atriz Emelyn Fischer.
Na história, uma autora, interpretada por Julia Lemmertz, vai a uma pequena vila na Região Sul, com a intenção de transformar a vida de Emelyn em uma narrativa ficcional. Quanto mais a autora provoca Emelyn com suas câmeras, mais ela se torna Bernardo, um adolescente dividido entre viver o seu desejo ou continuar só desejando.
Segundo Canepelle, a Emelyn do filme surgiu de um trabalho coletivo. “Criamos um personagem juntos. Eu, Emelyn, Julia Lemmertz, Carina Sehn, Germando de Oliveira e Pedro Gossler, contando com a participação de muitos atores sociais locais”. E foi sendo adaptado ao longo do tempo. “Pode-se dizer que todos juntos construímos partes de Emelyn ao longo de quase três anos de trabalho, entre filmagens e o filme pronto”.
De acordo com os organizadores, diferentemente dos atores profissionais, “atores sociais são personagens dos documentários que representam para a câmera suas próprias vidas”. O prêmio especial do júri de melhor ator social foi concedido a Emelyn “pela coragem em expor sua transformação pessoal, pela simplicidade da trajetória, no envolvimento pleno com um projeto audacioso”.
Classificado como documentário, o longa de 70 minutos deve cumprir um circuito de festivais e mostras e, posteriormente, ser distribuído nos cinemas e outras plataformas, segundo Canepelle. Até lá, a equipe vai se acostumando com a novidade. “Eu não esperava sequer estar entre os nove selecionados para a Mostra Competitiva. Ainda estamos digerindo esse Candango que trouxemos na bagagem”, comenta o diretor.
Análise da crítica
Rodrigo Fonseca, do Blog P de Pop (Estadão): “Indecifrável: essa é a maneira como Música Para Quando as Luzes se Apagam foi recebido (e percebido) por multidão […]. O que o Festival de Brasília viu nascer no sábado foi não apenas um novo cineasta, e dos corajosos. […] O que vale em filmes como o de Caneppele é sensorialidade, a experiência sinestésica, calçando-se em personagens de identidades performáticas (fluídas), como a de Emelyn e mesmo a da Mulher, esculpida por La Lemmertz em um desempenho transcendente”.
Felipe Moraes, do Portal Metrópoles: “Entre dores e delícias, frustrações e seduções, Música evoca um pouco de Gus Van Sant nessa proposta de traduzir mudanças de corpo e de mente na forma de crônica teen particular, próxima dos gestos (sim, há passeios de skate), delicada nas palavras. Música brinca com os aspectos de tela (do 4:3 dos flagrantes filmados por Julia ao 1.85:1 em cenas pontuais), mas ao mesmo tempo parece truncado e difuso na tentativa de converter essas intimidades (de Emelyn/Bernardo e da cineasta cada vez mais envolvida pelo personagem) em algo para além do experimento”.
Ricardo Daehn, do Correio Braziliense: “A firmeza de laços entre o foco do documentário (a jovem Emily Fischer) e a narradora (Julia Lemmertz, dona de senso maternal afloradíssimo) compõe a completa singularidade da fita. Divagações juvenis, descompromisso (movido a acrobacias de skate e excessos etílicos) e o espanto das descobertas (da sexualidade e do autoconhecimento) dão as coordenadas para a entrada no mundo de Emily; trans, nos moldes de Brendan (o interiorano protagonista de Meninos não choram). […] Música não é pavimentado por explicações: é filme para ser sentido”.
Marcelo Müller (membro da Abraccine), do Papo de Cinema: Música para Quando as Luzes se Apagam transmite, em diversos momentos, uma sensação de aleatoriedade, disfarçada de sensorialidade, como se os planos estivessem desarranjados por conta da ausência de habilidade de quem tentou dispô-los e, posteriormente, justapô-los com pretensos efeitos expressivos para falar de juventude e do eu”.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br