O relatório divulgado na semana passada pelo Ministério da Saúde, no qual o município é líder nacional no número de suicídios, colocou as autoridades em alerta. Com o objetivo de reduzir o índice, de 78,7 casos para cada cem mil habitantes, a Secretaria de Saúde lança hoje o programa Valorização da Vida.
Aberto à comunidade, o evento ocorre a partir das 19h30min, no Salão de Pedras do Parque Christof Bauer e integra as atividades do Setembro Amarelo. Integrante do corpo clínico do HBB, de Lajeado, e preceptor de residência médica do Hospital São José, de Arroio do Meio, o psiquiatra Olivan Diniz dos Santos de Moraes palestra sobre fatores de risco e importância do tratamento.
Ele já trabalhou no município, e pretende desfazer mitos a respeito do tema. “Será um espaço para que as pessoas façam perguntas, se informem, falem mais abertamente sobre o suicídio.” O objetivo é incentivar a procura por tratamento, sobretudo por homens, que têm mais dificuldade em buscar auxílio emocional. “Muitos acreditam que as pessoas sofrem porque querem ou porque não têm força de vontade para sair dessa situação. Mas quanto mais falta de apoio, maior o problema.”
A psicóloga do município, Angélica Renner, ressalta a importância da participação comunitária. “Precisamos estar atentos a mudanças de comportamento, desde as mais simples às mais bruscas. Quando alguém abandona algo que gostava muito, é necessário ficar atento e encaminhar para atendimento.”
Fatores como a cultura alemã – com características rígidas – o uso abusivo de álcool aliado ao de medicação e ou algum transtorno mental, agricultura como base econômica e o uso de agrotóxico contribuiriam para os suicídios na cidade, aponta a psicóloga.
Para prevenir
Na ocasião, ainda serão anunciadas as ações que farão parte do programa, que foca no tratamento e prevenção. Entre elas, a contratação de um psiquiatra para 20 horas; um casal de professores, para dar curso de dança, além de um educador físico.
“Com a vinda de mais profissionais será possível ir até as comunidades, até a escola, enfim, descentralizar os serviços, dando a oportunidade de mais pessoas serem atendidas”, afirma Angélica.
Desde o início do ano, a administração organiza oficinas terapêuticas, atividades com o grupo de saúde mental, idosos, adolescentes, além de palestras e rodas de conversa. Em 2015, o município havia fechado o Cras, responsável pela execução desses serviços. “Já tínhamos noção desse alto índice, que vem de outros anos. Então começamos ações o quanto antes, na tentativa de melhorar essa situação”, afirma a secretaria de Saúde, Heide Grunewald.
Entre oficinas, consulta individual com psicológico e médico, o município realiza cerca de cem atendimentos semanais na área de saúde mental. No dia 10 de novembro, a cidade sedia o XVIII Encontro Regional de Saúde Mental. Representantes de 37 municípios do Vale reúnem-se na cidade para tratar do tema. Além de Forquetinha, Travesseiro também está no topo do ranking de suicídios.
Estudo do Ministério da Saúde
O relatório do Ministério da Saúde analisou dados entre 2011 e 2015, e apontou que todos os anos ocorrem em média 11 mil mortes autoprovocadas no país. A maioria é de idosos com 70 anos, devido à maior prevalência de doenças crônicas, depressão e abandono familiar. Mas não são só os idosos que sofrem com as consequências dos transtornos mentais. O suicídio é a quarta causa de morte de brasileiros entre 15 e 29 anos. O boletim ainda indica crescimento nos casos na faixa etária entre 10 e 19 anos, que passaram de 782 em 2011 para 893 em 2015.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br