Maria Ceni da Costa, de Bom Retiro do Sul, utiliza a estufa de fumo para processar as geleias, rapaduras, melado e schmiers. Após 13 anos na fumicultura, o marido buscou emprego na cidade e ela assumiu a gerência da propriedade. A primeira decisão foi diversificar e apostou na produção leiteira. “Produzir schmier era um hobby. Com ajuda da Emater, legalizei o processo”, conta.
Toda matéria-prima é oriunda da propriedade. Carambola, goiaba, laranja, melancia-de-porco, physalis, tudo vira ingrediente para novas receitas. São quatro hectares de cana-de-açúcar. “Produzir alimentos, de forma natural e sem agrotóxicos, faz bem para todos, não só para meu bolso, mas principalmente para a saúde de quem consome”, afirma.
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Apesar de o marido ter voltado para ajudar na lavoura após se aposentar, quem cuida dos negócios é Maria. “Ele me ajuda em tudo, mas sou eu quem negocia preços e busca novos clientes. O segredo é ter conhecimento e força de vontade”, destaca.
A poucos quilômetros da residência de Maria, moram os apicultores Germano e Nelci Weidle. Mantêm 300 colmeias. Cada quilo de mel é vendido a R$ 23. “É um remédio natural, sem contraindicações”, diz Weidle.
Nelci é outro exemplo de que a mulher pode sim auxiliar tanto no trabalho como na gerência dos negócios. Na ausência do marido, é ela quem faz todo serviço de cuidar das abelhas e colher o mel. “Aprendi com ele. Meu marido me dá essa liberdade e tudo é decidido em conjunto”, observa.
“Tem muitos sacrifícios, mas é gratificante”
Cirley Lorenzeti é responsável pela agroindústria Sabores da Montanha desde 2005. A moradora de Pinto Bandeira mudou sua realidade quando resolveu apostar no empreendedorismo. “Me casei aos 19 anos e desde antes já sabia que eu queria bem mais que viver só na colônia. Foi então que eu decidi utilizar os produtos que plantava para abrir o meu próprio negócio”, afirma.
De geleias a frutas desidratadas, a empreendedora aproveita para comercializar os seus produtos em feiras e eventos de agroindústria. “Eu perco alguns momentos com a família, mas vale a pena. É importante que a mulher tenha isso em mente se quiser começar uma agroindústria. Tem muitos sacrifícios, mas ver o resultado é muito gratificante”, reconhece.
A empreendedora Iracema Konzen, da Agroindustrial Tigre, concorda e afirma que é preciso ter pulso firme. “Tem que ter muita força de vontade e organização. Uma mulher que comanda uma agroindústria familiar não pode baixar a bola, tem que estar sempre olhando para frente”, aconselha a moradora de Arroio do Tigre, que comanda a empresa da família faz 15 anos.
Aumento da oferta de alimentos
De acordo com estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), além de justiça social, o empoderamento da mulher do campo pode representar um aumento de 30% na produção agrícola e garantir a segurança alimentar do planeta.
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O diretor de Agricultura Familiar e Agroindústria da SDR, José Alexandre Rodrigues, explica que as mulheres se diferenciam na hora de buscar mais conhecimento sobre o setor. “Na agroindústria, o homem se envolve mais com a produção de matéria- prima, enquanto as mulheres procuram participar de capacitações e novas técnicas de comércio, levando mais informações para o crescimento do negócio”, esclarece.
Segundo a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) do governo federal, as mulheres são responsáveis por 45% da produção de alimentos no Brasil e nos países em desenvolvimento. Quase tudo o que lucram, 90%, reinvestem na educação e no bem-estar da família. Trabalham cerca de 12 horas semanais a mais que os homens, mas somente 20% são proprietárias das terras onde produzem.