“Não se pode falar em total isenção da prefeitura, entretanto, individualizar a conduta criminal é que não é possível fazer neste momento.” É com essa frase que o delegado, Juliano Stobbe, finaliza o relatório do inquérito policial sobre a morte de Sidnei Borges do Amaral, eletrocutado no Parque Professor Theobaldo Dick em 22 de fevereiro, durante torneio esportivo.
Para a Polícia Civil (PC), não há elementos para indiciamentos. A investigação durou sete meses e foi entregue ao Judiciário e ministerial ontem. O documento de cinco páginas faz menção à gravidade do fato, mas reitera a falta de “possibilidade” para apontar os responsáveis pela tragédia.
“Criminalmente não há possibilidade de imputar-se responsabilidade a uma pessoa física específica. o que se exige em casos como esse, tendo em vista que se trata de centenas de postes iguais espalhados pelos parques e praças da cidade, cuja substituição pelo material – concreto – que é o mais seguro, exige grande dispêndio de valores os quais sabe-se não existem à disposição”, cita, no documento, o delegado.
A vítima morava em Guaporé e estava em Lajeado para participar de um evento esportivo realizado pelo governo municipal em parceria com o Sesc: o Curta o Verão Lajeado 2017. No intervalo de um dos jogos de futevôlei e futebol de areia, o rapaz se encostou no poste de luz que estava em curto-circuito e recebeu um choque.
Um amigo de Amaral comunicou o caso à PC. A ocorrência policial é a de número 1489/2017/152104. Segundo a testemunha, a vítima caiu no chão após receber a descarga elétrica do poste de ferro. Outros amigos tentaram auxiliar, mas também acabaram recebendo a carga de voltagem elétrica. Amaral chegou a ser encaminhado ao Hospital Bruno Born (HBB), mas não resistiu.
Ele era conhecido por “Sidão”.Residia no bairro São José, em Guaporé, e trabalhava em uma empresa de joias. A vítima deixou a mulher e um filho de 7 anos. No evento esportivo, ele defendia a equipe Água Suja. De acordo com o laudo necroscópico da vítima, a causa da morte foi efetivamente o choque elétrico (eletroplessão).
“Péssimas condições de conservação”
Logo no início do Inquérito Policial (IP) foi ouvido um servidor da Secretaria de Obras. Ele relatou que “desde algum tempo antes do acidente já teria havido reclamações sobre pequenos choques elétricos em postes no Parque dos Dick, sendo que, apesar de ter demorado algum tempo, por falta de verba, houve o conserto e manutenção de vários postes no local, inclusive aquele que causou a morte da vítima.”
O servidor disse que os “postes são compostos por vários reatores com lâmpadas, e um desses, que se encontrava no interior daquele poste, entrou em curto-circuito”. Ele relatou ter recebido, no dia do acidente, a orientação para “ir até o local desligar a corrente de energia, tendo-o feito e também, por sua vontade, retirado o reator defeituoso do poste, mesmo com o local isolado para perícia.” A peça foi entregue aos peritos “que chegaram pela manhã”, cita o inquérito.
Conforme o laudo pericial, ficou constatado “ter havido curto-circuito no poste de iluminação, cujo material era ferro, altamente condutor de energia elétrica e, também que o reator que estava no interior desse poste, e que fora retirado pelo servidor estava em curto-circuito, além de estar em péssimas condições de conservação.”
Ausência de ambulância
O delegado ouviu o secretário de Esporte e Lazer (Secel), Carlos Reckziegel. Em relação à manutenção dos postes, não soube precisar se foi feita antes do evento, “mas que normalmente é solicitada revisão geral antes dos eventos maiores.”
Já quanto à ausência de ambulância no evento esportivo, Reckziegel referiu que “tal providência só é tomada quando se trata de grande aglomeração de pessoas, o que não teria sido o caso, pois estariam no local somente os atletas, familiares e frequentadores habituais do parque.”
Também foi ouvida uma representante do Sesc. A depoente confirmou a união com o governo para a realização do evento “e que foram unidos dois eventos separados para realização conjunta, no Parque dos Dick.” Ela também apresentou documentos relativos à parceria, “tendo ficado bastante clara a responsabilidade da prefeitura pela segurança do local e das instalações.”
“É um trauma. Lamentável.”
O secretário de Obras e Serviços Públicos (Seosp), Cassiano Jung, volta a lamentar a tragédia ocorrida em fevereiro. “É um trauma.”, resume. Após a morte de Amaral, explica ele, uma série de medidas foram tomadas pelo governo para levar mais segurança à rede elétrica do Parque dos Dick e também de outros pontos.
Foi feita a ligação dos circuitos elétricos com disjuntores residuais, sistema de segurança que desarma a energia quando acontece curto-circuito ou alteração na rede de energia. O governo gastou R$ 14 mil com os materiais necessários. O mesmo serviço já foi realizado nas praças da Matriz e do Chafariz e no Parque do Imigrante, e será ampliado para as demais praças e algumas vias públicas.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br