Em meio à ascensão tecnológica, a 27ª Feira do Livro demonstra o quanto o apreço pela literatura não perde espaço na comunidade. Lançado ontem à tarde, na Rua de Eventos, o evento contou com a participação de dezenas de estudantes. Todos em polvorosa buscavam um exemplar para chamar de seu.
Alunos do 2o ano do Ensino Fundamental da escola São Caetano, os amigos Gustavo e Cauê, de 7 anos, fizeram uma investigação em cada uma das nove bancas para encontrar o livro Authentic Games. Obra de Marco Túlio, um youtuber mineiro que dá dicas sobre o jogo eletrônico Minecraft.
Acharam caro, mas não desistiram de encontrar um outro livro que contemplasse seus gostos e lhes trouxesse mais conhecimento. “Queríamos muito esse, mas vamos encontrar outro, com certeza”, garantiu Cauê, antes de sair correndo pelo espaço montado no Clube Esportivo Arroio do Meio.
Um pouco mais calma, Luara Beatriz Souza da Costa, 7, já havia encontrado o seu. Também aluna do 2o ano, da escola São Caetano, ela preferiu um livro de atividades para pintar. Mas afirma que não deixa de ler. “Eu aprendo muito lendo. Gosto muito”, afirma a menina.
Além dos estudantes do 1o ao 4o ano que estiveram nesse primeiro dia, outros dos ensinos Fundamental e Médio e da Educação Infantil participarão da programação que se estende até sexta-feira. Ao todo, cerca de 1,5 mil alunos são esperados pela comissão organizadora. Além da feira, eles podem visitar outras atrações que integram a 15a CulturArte.
Na Rua de Eventos, conferem a biblioteca móvel do Sesi. Na Praça Flores da Cunha, acompanham a contação de histórias, promovida por seis escolas de Educação Infantil e a Vitrine do Saber – Mostra Pedagógica dos Anos Iniciais. Dentro do projeto Escritor Presente, Léia Cassol, Gisella Cassol e Carlos Augusto Pessoa de Brum falarão sobre suas produções literárias voltadas ao público infantil e jovem. Peças teatrais ocorrem amanhã, quinta e sexta-feira.
No Conhecendo a Casa do Museu, o público poderá conferir a exposição “Reflexos do Estado Novo na Educação de Arroio do Meio – década de 1950”, no Museu Municipal. Nas escolas, ainda ocorre a ação Leitura em Movimento.

Escolas da cidade são responsáveis por oferecer os livros. Formato tem o propósito de unir a comunidade
Colaboração e sustentabilidade
Ao contrário de outras feiras do livro, em Arroio do Meio os exemplares não são vendidos por editoras. São as próprias escolas municipais que colocam suas bancas para comercializar as obras literárias, além da Congregação Luterana. Cada instituição utilizará os recursos arrecadados na compra de novos livros para as bibliotecas, garantindo assim a continuidade do ciclo literário. “A literatura possibilita a criatividade, imaginação, a crença num mundo melhor. Também favorece a concentração, e nos faz pensar melhor. Então é por isso, e muito mais, que precisamos continuar com esse trabalho.”
A feira ainda instiga que os estudantes pensem no ambiente. Todos os livros adquiridos são entregues em sacolas feitas por eles com material reciclado. Segundo a secretária de Educação e Cultura, Mara Betina Forneck, desde papelão até restos de roupas serviram de base para a produção sustentável, que gerou uma economia aproximada de 3,7 mil sacolas plásticas.
Evento consolidado
Ex-professora na cidade, Greicy Wenschefelder agora é titular da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e sente orgulho ao ver o trabalho no município. “Participei da comunidade de Arroio do Meio como aluna, como professora, inclusive nesses dois eventos. Hoje, nesse cargo, dizer que sou daqui, de uma cidade que investe em educação, sem dúvida, é motivo de muita alegria.”
Ela acredita que a continuidade do mesmo projeto, ao longo dos anos e administrações, é o que faz a feira ter tamanho sucesso. “Quando tu queres investir em leitura, deve pensar a médio e longo prazo. Fazer todo ano. Quer dizer, o começo da CulturArte e da feira deve ter sido difícil, mas se bate na mesma tecla, até ver o resultado hoje: um evento consolidado.”
Este é o primeiro ano em que a Escola Estadual de Ensino Médio Guararapes participa de modo ativo da feira.
Programação
Hoje
• 8h, 10h e 15h30min – Visitação do Complexo CulturArte – Escritor presente com Léia Cassol, no Palco de Talentos sobre “ Histórias é bom ouvir, faz bem contar.”
• 8h30min, 10h15min, 13h30min e 19h – Escritor presente com Gisella Cassol, para as escolas de Ensino Médio, sobre o livro “Biocrônicas: o que não me contaram quando eu era criança”.
Amanhã
• 8h, 9h, 13h30min e 14h30min – Escritor presente com Carlos Augusto Pessoa de Brum que apresentará a “Oficina de Criatividade com Cadu” – no subsolo do Salão Paroquial – Visitação do Complexo CulturArte
• 10h e 15h30min – Apresentação da peça Sepé Tiaraju: o Guerreiro da Lua Crescente, do grupo Luz e Cena
Quinta-feira
• 15h – Peça A Menina da Biblioteca, grupo Luz e Cena. Em seguida, apresentação da banda The Kombi
Horários
•Hoje, dia 5, 8h às 18h
•Amanhã, dia 6, 8h às 20h
• Quinta-feira, dia 7, 14h às 19h
• Sexta-feira, dia 8, 8h às 11h
Entrevista
“É uma cultura que se passa de geração em geração”
Prefeito Klaus Schnack comemora a realização da 15ª CulturArte, iniciada em agosto, e a 27ª Feira do Livro, aberta ontem. Ambas são destaque no município e integram a comunidade.
Qual a importância de trazer a literatura para o foco dos estudantes em meio à ascensão tecnológica?
O livro é muito simbólico. Por mais que tenhamos muitas tecnologias à disposição, o livro é material, podemos folear, senti-lo. É uma cultura que se passa de geração em geração, que é muito importante para a transformação da sociedade. No nosso caso, Vale do Taquari em geral, é para avançar como sociedade. Não podemos dizer que as mídias vão substituí-lo, não. Nós temos que manter as coisas boas, e nos valer das tecnologias.
Como é ver a feira chegar aos 15 anos com tamanha participação comunitária?
Nós temos um orgulho muito grande. É um desafio para fazê-lá, deixá-la bem organizada. É uma construção, um projeto que a administração, o município acreditou e que a comunidade se engaja cada vez mais e vive isso. Temos o feriado pela frente, em que certamente as famílias vão estar presentes e participar das atividades. Isso é o que traz o diferencial para dentro das escolas e na cultura como um todo.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br