O Centro Cultural de Guaporé sediou a sétima edição do workshop Negócios em Pauta. O evento teve como palestrantes o gerente-adjunto de Planejamento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Marlon Bentlin, e o diretor de Negócios da Sicredi Região dos Vales, Fabrício Tombini, que abordaram o tema linhas de crédito.
Vice-presidente do Sincovat, Cíntia Fortes iniciou o painel falando sobre a importância de iniciativas inovadoras que agreguem conhecimento sobre e permitam a troca de ideia entre os participantes.
Em seguida, o diretor do A Hora, Adair Weiss, relembrou a trajetória dos workshops desenvolvidos pelo projeto e a forma como os temas abordados se conectam. “Iniciamos falando sobre planejamento estratégico e passamos por fluxo de caixa, indicadores de gestão, planejamento tributário, gestão de pessoas e educação financeira antes de chegar ao tema de hoje.”
Conforme Weiss, entender a necessidade do crédito, para quem e quais linhas estão disponíveis é fundamental para o avanço dos negócios, assim como saber o que uma empresa não deve fazer em termos de endividamento.
Fabrício Tombini iniciou a apresentação com um relato sobre as linhas de crédito disponíveis no sistema Sicredi. Segundo ele, são 117 cooperativas presentes em 21 estados administrando um total de R$ 84,5 bilhões.
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Em todo o país, são mais de 1,5 mil agências, 20 mil colaboradores e 3,5 mil associados. Na região dos Vales, a cooperativa atua em 18 municípios. “Temos 21 agências e 60 mil associados. Administramos mais de R$ 2,1 bilhões.”
De acordo com Tombini, o ponto mais importante da atuação da Sicredi é o incentivo ao desenvolvimento regional por meio do acesso ao crédito. Segundo ele, em 2016, o Sicredi Região dos Vales liberou R$ 191 milhões para indústria e comércio, R$ 126 milhões para pessoas físicas e outros R$ 103 milhões para o agronegócio.
Tombini abordou os principais fatores que motivam a tomada de crédito por parte das empresas. O primeiro deles é o financiamento de investimentos. “São recursos utilizados na ampliação de instalações e da capacidade produtiva de uma organização.”
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Outro motivo comum é o ajuste de fluxo de caixa, de forma a ampliar o capital de giro disponível para as operações da companhia. Os recursos também podem ser utilizados para aproveitar oportunidade de negócio ou promover a estabilização financeira de uma empresa em caso de dificuldades.
De acordo com Tombini, os créditos voltados para o investimento estão divididos entre financiamento empresarial, empréstimo com garantia de imóvel, recursos para construção e reforma, microcrédito e cartão BNDES.
Já os recursos voltados para fluxo de caixa estão disponíveis por meio de cheque empresarial, crédito rotativo, diferentes tipos de empréstimos para capital de giro e outras modalidades com garantias financeiras.
O diretor de Negócios da Sicredi lembra que as modalidades de créditos disponíveis com recursos próprios da cooperativa são mais maleáveis se comparadas aos financiamentos realizados com verbas federais.
Financiamentos públicos
Gerente-adjunto do BRDE, Marlon Bentlin falou sobre o sistema público de financiamentos de longo prazo. Lembrou que a instituição é um banco público voltado para incentivar o desenvolvimento, e foi criada pelos governadores do RS, SC e PR faz 55 anos.
“É a única instituição interestadual do país e, devido à sua finalidade, não pode ter agência”, ressalta. Ao todo, o BRDE tem presença física em 15 cidades, sendo cinco no RS. As unidades estão localizadas em Porto Alegre, Lajeado, Pelotas, Caxias do Sul e Passo Fundo.
Conforme Bentlin, o banco tem um patrimônio líquido de R$ 2,4 bilhões, constituído ao longo de sua atuação. Por isso, não depende da arrecadação de impostos. Ao todo, a instituição tem R$ 15,5 bilhões em ativos e outros R$ 12,4 bilhões em financiamentos nos três estados.
“O BRDE não usa seu capital para financiamentos, porque existem fontes de recursos mais baratas para essas operações”, ressalta. A instituição utiliza verbas de fontes com agentes federais como o BNDES, Finep e FGTS.
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Lembra que boa parte dos recursos é subsidiada, portanto, há regras e burocracias diferentes na comparação com outras operações de crédito. “Dependendo da fonte que se utiliza, teremos uma ou mais normas federais, estaduais e municipais para acessarmos esse dinheiro.”
Conforme ele, o BRDE tem mais de 30 linhas de crédito diferentes. Algumas são voltadas para financiamento de projetos, o BNDES automático e o Finame. “A primeira pode ser utilizada para qualquer tipo de reforma e ampliação em qualquer segmento de negócios, ou na compra de equipamentos, desde que seja um investimento.”
A diferença para o Finame, aponta, é que nesse o equipamento a ser comprado precisa estar previamente cadastrado em uma tabela. “Em tese, somente é permitida a compra de equipamentos produzidos no Brasil, salvo raras exceções.”
A regra geral para essas linhas de crédito é o financiamento de até 80% do projeto, mais um capital de giro de até 30% do total do projeto. Também financiado pelo BNDES, o Progeren é uma linha de crédito voltada para capital de giro, com prazo de pagamento de até cinco anos.
Conforme Bentlin, outra fonte de recursos ainda pouco conhecida no mercado é a Finep, voltada para investimentos em ciência, tecnologia e inovação. “Durante algum tempo, a Finep voltou sua atuação para o financiamento acadêmico, mas em 2011 conseguimos acessar essa fonte novamente.”
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Uma das linhas por meio dessa fonte de recursos é o Inovacred, que oferece crédito para projetos que ofereçam bens, métodos, serviços ou processos inovadores. Lembra que o primeiro financiamento realizado por essa modalidade nos Vales foi para a empresa Imply, de Santa Cruz do Sul.
Segundo ele, o projeto era para o desenvolvimento de um caixa eletrônico com tecnologia inovadora. “Era uma empresa fora dos grandes centros e voltada para a tecnologia, uma área completamente diferente da realidade econômica da cidade.”
O Inovacred também financiou projeto da Certel Artefatos de Cimento, para o desenvolvimento de postes para transmissão de energia elétrica. Por meio de uma parceria com a Ufrgs, foi adicionado sílica à composição do artefato, solucionando um passivo ambiental.
O gerente-adjunto ressalta que existem outras inúmeras linhas de crédito para diversos tipos de projetos e perfis empreendedores, seja na cidade ou no campo. Segundo ele, o BRDE é o banco com maior distribuição de recursos no sistema BNDES em todo o país.
Fórum de Gestão e Empreendedorismo
Presidente do Sincovat, Rui Mallmann falou sobre o principal evento do Negócios em Pauta, que ocorre em setembro. O Fórum Estadual de Gestão e Empreendedorismo será realizado no dia 27, no Teatro Univates, com atrações de âmbito nacional.
“O fórum tem abrangência estadual e é a cereja do bolo do projeto”, aponta. Segundo ele, a intenção é provocar a reflexão sobre a necessidade de profissionalizar a gestão, organizar o negócio e obter as informações necessárias para crescer.
O dia de qualificação terá a abertura do governador do Estado. José Ivo Sartori falará sobre o futuro do RS e as ações necessárias para evitar novas crises como a enfrentada hoje no Piratini.
O segundo palestrante será o economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa. Ele apresentará o painel “Como empreender no atual contexto econômico brasileiro”, em que abordará cenários e perspectivas mediante a instabilidade política.
Sócio e diretor criativo da Morya Comunicação, o publicitário Fábio Bernardi apresentará a palestra “Uma grande marca não precisa de uma grande verba.” Terceiro painelista do evento, Bernardi foi presidente da Associação Riograndense de Propaganda por duas gestões.
Jornalista e consultora em reputação corporativa e comunicação estratégica, Suzana Veloso será a quarta atração do evento, falando sobre Compliance. O conceito é um dos mais em voga no mundo corporativo e está relacionado com o valor da reputação das empresas.
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O evento encerra com palestra de uma das maiores autoridades em transformação digital do Brasil. CEO do Wallmart.com, Paulo Cesar Silva apresentará o painel “E-comerce: novos desafios e como fazer parte.”
As inscrições para o evento estão abertas no www.sincovat.com.br. Realizado pelo Sincovat e o A Hora, o Fórum Estadual de Gestão e Empreendedorismo tem parceria do CRIE/Univates e apoio do Grupo Independente, Sebrae, Governo de Lajeado e CIC Vale do Taquari.
Dúvidas frequentes nas empresas
O crescimento de uma empresa se acelera com acesso a crédito com juros subsidiados e parcelas alongadas. Porém as pessoas têm medo da burocracia desse tipo de financiamento. Os empréstimos nessa modalidade são realmente difíceis de se obter?
Ito Lanius
Marlon Bentlin – Acredito que isso está atrelado a uma correta identificação de que tipo de recursos ela está procurando. Nesse sentido, o profissional de contabilidade é muito importante porque o pequeno empresário está muito preocupado com o seu negócio. Pensando em crescer, ele decide fazer uma obra com recursos próprios porque não sabe que pode conseguir recursos do sistema BNDES ou outras instituições. Para isso, é preciso organizar a contabilidade, porque a primeira coisa que o agente financeiro vai verificar é o balanço. É preciso usar a contabilidade como ferramenta. O acesso à informação, com uma boa orientação profissional, resolve boa parte da questão. A outra parte é ter um projeto bem-feito, que pode demorar aí de dois a seis meses para ser elaborado, com a elaboração de planta entre outras exigências. Esse tempo também precisa ser levado em conta.
Fabrício Tombini – Esperamos que os empresários possam trazer o espelho da gestão da empresa. Assim, vamos saber qual a necessidade da empresa. Hoje nossa economia está muito pautada na micro e pequena empresa, mas é difícil recebermos essas informações detalhadas. No fim das contas, acaba se confundindo a pessoa física e a jurídica. Quanto mais pudermos avançar na fidedignidade das informações das empresas, melhor será o acesso ao crédito.
Quando se fala neste tipo de financiamento, outro fator que assusta são os limites mínimos dos empréstimos, geralmente altos. Como os pequenos negócios, micro e pequenas empresas podem usar essas linhas de crédito?
Adair Weiss
Bentlin – Por meio de parcerias. Temos o exemplo das cooperativas. Um pequeno produtor de leite não consegue acessar um mercado como o asiático. Mas uma cooperativa de produtores pode. Por que uma pequena empresa na área de comércio não pode entrar em uma rede? A questão do limite mínimo de um projeto pode parecer alto, mas depende da necessidade do projeto. Um projeto de R$ 20 mil não vai precisar de licença ambiental, engenheiro, registro no Crea, entre outros. Nesses casos, pode ser que um banco oferece uma linha que não tenha tantas exigências. A questão do valor mínimo passa muito pela realidade do negócio. Mas para valores maiores podemos pensar no associativismo, nas redes e em novas ideias como o coworking.
Tombini – Quando falamos em crédito, não estamos nos referindo apenas para empresas já constituídas. O mais importante é como está o plano de negócios, qual o embasamento que o empreendedor tem na sua ideia. O ponto fundamental para a Sicredi é conhecer o associado para ter uma definição adequada, mesmo em uma empresa que ainda não exista. Fazemos muitas perguntas para entender e esclarecer para o investidor se ele está se atentando aos detalhes do negócio e do projeto.
Rui Mallmann – Se eu preciso fazer um investimento para uma linha nova de produtos, qual o financiamento mais adequado e por quê?
Rui Mallmann
Bentlin – Depende da empresa. Se for uma indústria tem acesso ao Fundopen, que financia no prazo de oito anos o ICMS que resultará do projeto, em uma taxa de 3 a 4 % ao ano. Junto com o Fundopen, ainda tem o Integrar, que consegue o abatimento do ICMS a pagar. Por exemplo, se uma empresa consegue 50% do Integrar e a parcela do Fundopen for de R$ 100 mil, ele pagará em oito anos R$ 50 mil corrigidos de 3% a 4% ao ano. Nem precisa fazer a conta. Se a taxa de retorno de um financiamento for atraente, de 13% por exemplo, qualquer financiamento com taxa menor que isso vale a pena. Tem que avaliar o custo e o ganho. Se a linha de produto tiver algum componente de inovação, é possível acessar o Finep, cuja taxa é de 7%. Também se pode buscar dois financiamentos para o mesmo projeto. São muitas opções, o importante é fazer a conta. Não temos uma resposta pronta, mas sim um modelo de pensamento que novamente mostra a importância do profissional de contabilidade para encontrar o melhor modelo.
A segurança de um investimento de longo prazo depende também da estabilidade da economia. Quais as projeções para o cenário econômico?
Edmilson Zortéa
Bentlin – O que posso dizer nesse contexto nacional é que estamos em restrição. Vemos tudo o que ocorre em Brasília. O BRDE buscou muito mais recursos nos últimos anos, projetos longos, com dois a três anos de carência. Por isso, o banco retorna menos dinheiro ao BNDES do que a própria demanda. O governo também está tentando ampliar o caixa do Tesouro. O cenário é de menos disponibilidade de subsídios das linhas de financiamento e a tendência é de manter restrito pelos próximos anos. Mas, se entrar com projeto no BRDE, tem recurso. Depende muito da empresa, porque o crédito existe.
Tombini – Na Sicredi, não temos sentido muitas restrições. Em relação a recursos próprios, a cooperativa continua como apoiadora das comunidades. Assim foi em 2008, quando o cenário retraiu e as instituições estavam retirando recursos do mercado, a Sicredi fez o contrário. Se o projeto for viável é isso que importa. Não vai ser por falta de recurso que um bom projeto não vai para frente. Queremos estimular a geração de renda e para isso precisamos das linhas de crédito. Nunca saímos do mercado devido a crises econômicas.