As cidades de Lajeado e Encantado foram alvo, ontem, da maior operação policial já realizada no estado para combater o tráfico de drogas nas proximidades de escolas. Coordenada pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), a ação intitulada Anjos da Lei foi coordenada no Vale pela Polícia Civil Regional.
Agentes da delegacia cumpriram três mandados de busca e apreensão pela manhã. Dois em residências do bairro Lago Azul, em Encantado, situadas em frente à Escola Municipal Tancredo Neves. O outro em uma casa no centro de Lajeado, que fica próxima a uma escola estadual e outra privada.
Não foram encontradas drogas ou armas. Porém, proprietários e moradores foram identificados. Em Lajeado, a equipe da delegacia fez o reconhecimento do responsável pela casa.
Em uma das residências em Encantado, havia um casal, suspeito de venda de psicoativos.
Na casa ao lado, onde foi cumprido outro mandado, não havia pessoas, porém, foram encontrados diversos objetos, que seriam resultado de furtos e assaltos. As equipes de Encantado, Roca Sales e Nova Bréscia, que atuaram na operação, apreenderam no local televisão, câmera fotográfica, liquidificador, grill, aquecedor, minisystem, roupas, além de três munições de calibre. “Normalmente são trocados por droga, ou comercializados a custo inferior, para posterior aquisição de substâncias ilícitas. Quem compra, incentiva”, alerta o delegado de polícia de Encantado, Silvio Huppes. Agora, a polícia pretende identificar se os produtos foram citados em alguma ocorrência, e devolvê-los aos proprietários.
O delegado regional, Miguel Mendes Ribeiro Neto, afirma que as investigações terão prosseguimento. Outros pontos próximos a escolas também são averiguados. O principal objetivo é coibir a aproximação entre estudantes e traficantes, a fim de evitar o consumo e também a coaptação desses jovens para o crime. “É sempre um risco, um perigo. O que foi feito hoje é resultado de averiguações anteriores, e denúncias recebidas. Então esperamos continuar contando com a ajuda da comunidade. Embora não tenha havido apreensão, a ação reprime a atuação de traficantes”, acredita Neto. Foi a primeira operação com este foco realizada na região.
Operação Anjos da Lei
Além de Encantado e Lajeado, outras 27 cidades foram alvo da operação, realizada após três meses de investigações. Até o fim da manhã, 27 pessoas haviam sido presas e sete armas de fogo apreendidas de um total de 53 mandados de busca e apreensão e cinco ordens de prisão. Ao todo 400 escolas foram verificadas e 102 monitoradas.
A Operação Anjos da Lei começou no Denarc em 2011 e desde 2016 é coordenada por todos os departamentos da Polícia Civil RS. Tem como objetivo coibir o tráfico de drogas dentro e nas proximidades de escolas.
Nestes seis anos, foram 804 presos em todo estado, 73 somente até julho de 2017. A Lei de Drogas prevê aumento de 2/3 na pena de quem for preso por tráfico nas imediações de escola. Além de prisões, a prevenção ocorre por meio de palestras e troca de informações com os jovens. Denúncias podem ser feitas pelos 197 ou 9 8418-7814, aplicativo de WhatsApp. As informações são recebidas em Porto Alegre, e repassadas para as delegacias regionais.
Entrevista
“Nós não negamos que acontece”
O combate ao consumo e tráfico de drogas nas imediações de ambientes escolares também é foco das instituições de ensino. A coordenadora da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Greicy Wenschenfelder, comenta acerca do trabalho realizado no Vale.
A Hora – A 3ª CRE percebe a venda e uso de drogas nas imediações de escolas?
Greicy Wenschenfelder – Aqui o que mais nos preocupa são o Castelo Branco e o Érico Veríssimo. Por depoimentos diversos, sabemos que existem traficantes nos arredores das escolas, como na praça e na avenida. São duas instituições essencialmente com alunos adolescentes, curiosos, e que acabam sendo uma porta de entrada. Nós não negamos que acontece, e conclamamos os pais para que nos auxiliem a conversar com eles, alertar sobre o perigo. Trabalhamos com o Cipave, e também temos uma parceria com a Brigada Militar no Érico Veríssimo, para evitar essa aproximação na entrada e saída das aulas.
É denotada somente a venda de drogas ou a coaptação para o crime? É uma das causas da evasão escolar?
Greicy – Sim, percebemos o uso, e que alguns são levados a participar. Nunca dentro da escola. Se algo desse tipo acontece, acionamos o Cipave e os pais. A questão de evasão ocorre especialmente no turno da noite, com estudantes do 1o ano do Ensino Médio. É uma fase da adolescência em que se quer extravasar, descobrir, e também é quando as pessoas são mais facilmente manipuladas. Então não há estudo tão atrativo quanto. A aula se torna chata. Mas a escola tem a função de mostrar que a curiosidade sempre vai existir, mas a vontade de vencer na vida deve ser maior. Precisamos agir especialmente na prevenção. Fazemos um trabalho forte nesse sentido.
A parceria com os órgãos de segurança é trabalhada? A CRE avança nesse sentido?
Greicy – Sim, a PC, a Justiça, e o Ministério Público nos demandam muito e nós a eles. Temos uma reciprocidade de informações, o que auxilia bastante nesse trabalho. A presença constante de delegados e juízes nas nossas escolas também é essencial. No fim de setembro, devemos concluir um mapeamento para o Cipave, em que identificaremos melhor essa situação. Outros problemas estão relacionados ao bullying, dano ao patrimônio e agressão verbal entre alunos e professores.