“É um voluntariado muito desafiador”

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“É um voluntariado muito desafiador”

Professora universitária e ex-delegada, Elisabete Cristina Barreto Müller, 50, é militante na luta pelos direitos das mulheres. Há quase 20 anos, fundou a Casa de Passagem, para abrigar vítimas de violência doméstica do Vale. • De que forma começou a…

“É um voluntariado muito desafiador”
(Foto: Divulgação/ Arquivo A Hora)
oktober-2024

Professora universitária e ex-delegada, Elisabete Cristina Barreto Müller, 50, é militante na luta pelos direitos das mulheres. Há quase 20 anos, fundou a Casa de Passagem, para abrigar vítimas de violência doméstica do Vale.
• De que forma começou a trabalhar na defesa de mulheres vítimas de violência doméstica?
Iniciei essa militância no próprio trabalho, no cargo de delegada de polícia. Após, dei continuidade como voluntária em várias ações particulares. Porém, a causa da defesa dos direitos das mulheres é mais antiga, ainda da época em que estava na faculdade. Participei da Pastoral Universitária, antes da Pastoral Secundarista, e, dentre tantas reflexões que fazíamos, a do papel da mulher na sociedade era uma delas. Devo grande parte de minha formação, além da minha família obviamente, a esses espaços de reflexão que tive a sorte de participar. Além disso, o fato de ser uma das poucas mulheres no curso de Direito e depois na Academia de Polícia, me levou a lutar sempre pela conquista de espaço e a busca da equidade de gênero.
• Qual foi o estopim para que decidisse trabalhar com mais afinco sobre isso, criando a Casa de Passagem?
Foi a morte de uma mulher em Arroio do Meio. Na ocasião, a vítima, após sofrer ameaças do marido, registrou o fato na delegacia de polícia e retornou para a casa do agressor, porque não tinha para onde ir. O fato foi anterior à Lei Maria da Penha, ainda não havia medidas protetivas e não era possível a prisão do autor. Naquela noite do registro, o marido a matou e se suicidou depois.
Imediatamente, iniciei uma campanha para a criação de uma casa-abrigo na região e fui acompanhada por um grupo de pessoas, dentre elas, a assistente social Magda Rigo, que também ainda atua na Casa de Passagem.
• Como é, para você, poder auxiliar essas mulheres?
É muito gratificante saber que estou em um projeto que salva vidas, que auxilia a mulher a se fortificar para tomar suas decisões e romper com o ciclo da violência. É um voluntariado muito desafiador. Para manter a Casa de Passagem, precisamos lutar contra grandes dificuldades, tais como a falta de apoio financeiro dos municípios e o preconceito da sociedade. Fico feliz em fazer parte de um grupo unido e incansável para a manutenção da casa-abrigo que, atualmente, tem como presidente a advogada Sílvia Feldens Whie; e também por participar de uma Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher.
• O que, no seu ponto de vista, deve ocorrer para que essa realidade se modifique no país?
Deve existir um trabalho contínuo e uma efetiva integração da rede de enfrentamento à violência; políticas públicas condizentes com a gravidade do fenômeno da violência contra a mulher; ações para que o agressor reflita sobre suas ações para não perpetuar a violência com a mesma mulher ou com uma nova família; informação e conscientização da sociedade para a problemática; trabalho de prevenção da violência para crianças e adolescente.

Carolina Chaves: carolina@jornalahora.inf.br

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