“Coisas importantes aprendi na rua”

Notícia

“Coisas importantes aprendi na rua”

Charly Mingus, 37, é um artista de rua argentino que viaja pela América Latina com o violino, vivendo como mambembe. Natural da localidade de Longchamps, província de Buenos Aires, leva na mala o instrumento como companheiro. Vive das moedas colhidas…

“Coisas importantes aprendi na rua”
oktober-2024

Charly Mingus, 37, é um artista de rua argentino que viaja pela América Latina com o violino, vivendo como mambembe. Natural da localidade de Longchamps, província de Buenos Aires, leva na mala o instrumento como companheiro. Vive das moedas colhidas no farol, esquinas e calçadas.
• O que lhe fez ir às ruas com um violino?
Não consigo ficar parado em um lugar só. Preciso me movimentar. Eu gosto de artesanato, faço malabares e pensei em algo a mais para oferecer. Na rua, há muita poluição sonora, mas as notas do violino quebram essa dureza.
Aprendi a tocar com outros artistas de rua faz três anos. A maioria das músicas é clássica ou de trilhas de filmes.
• Como é esse convívio diário com pessoas desconhecidas?
Eu gosto. Prefiro mesmo não conhecer muito as pessoas. É interessante porque acabo vendo muita gente diferente e algumas param e ficam me ouvindo. Acho que o mundo precisa deste tempo. Outras chegam a voltar para me dar algumas moedas e eu agradeço. A música deixa tudo mais leve até onde o som acústico alcança. Eu percebo no sorriso das pessoas que, além de buscar minha arte e sobrevivência, estou oferecendo algo legal, que se aproxima a um momento de lazer.
• Por que Lajeado?
Já estive outras vezes aqui. Tem dias bons e tem dias ruins. Às vezes você é bem recebido em alguns lugares e outras vezes é mal recebido. Mas é tranquilo, não há nada para reclamar. Nesta semana foi fraco o movimento, o dinheiro mesmo. Tem sido bem pouco e mal consegui comprar almoço e janta.
• Você conhece muitos lugares?
Viajei pela Argentina e Brasil, conheci cidades como Rio Grande e outras em Santa Catarina. A cada verão, escolho um lugar diferente para ir. No próximo, não sei se vou à praia ou à Patagônia. Não costumo ir ao mesmo lugar. Lajeado é uma exceção.
• Você faz planejamento para as viagens?
Não planejo nada. Penso em alguns lugares para ir e, quando consigo dinheiro, eu vou e continuo minha vida de lá em diante. É uma coisa que não consigo ficar em um só lugar. Preciso conhecer pessoas diferentes e cidades que nunca vi.
• Esse tipo de vida lhe trouxe aprendizado?
As coisas mais importantes da vida aprendi na rua. Desde a importância do espírito solidário às diferentes formas humanas de se expressar. Quando não sou do lugar, consigo olhar de fora e percebo coisas assim, que talvez, quem more ali há anos não tenha percebido. Aprendi muito sobre mim e a sociedade.

Anderson Lopes: andersonlopes@jornalahora.inf.br

Acompanhe
nossas
redes sociais