A corrupção de cada dia

Editorial

A corrupção de cada dia

Som de panelas. Protestos. Ruas trancadas. Pessoas clamando por ética e pelo fim da corrupção. Por diversas ocasiões, essa foi a rotina no país. Em especial durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Com a troca na chefia da República,…

Som de panelas. Protestos. Ruas trancadas. Pessoas clamando por ética e pelo fim da corrupção. Por diversas ocasiões, essa foi a rotina no país. Em especial durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Com a troca na chefia da República, manifestações continuam, mas com menos apelo midiático e com menos intensidade.
A população deixou claro nas ruas o descontentamento com o chamado “jeitinho brasileiro”. Para muitos, se tratou de um sinal. Uma mudança de comportamento. Mostrou uma necessidade de construir um país com uma nova classe política.
Mas a corrupção é endêmica. Não está só na classe política. Esse mal está impregnado na nação. Formas de burlar as leis e levar vantagem aparecem em todos os segmentos da sociedade.
[bloco 1]
O caso das falsificações para o pagamento do DPVAT em Taquari é mais um exemplo. Até agora, 22 pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil. Em tese, escritórios que encaminham o pedido do seguro falsificavam documentos e induziam pessoas a mentir em ocorrências policiais.
A investigação juntou provas e ouviu algumas que teriam recebido indevidamente o DPVAT. A PC comprovou a irregularidade. Envolvidos confirmaram os fatos, alegaram que precisavam do dinheiro, mas não foram responsáveis pelas adulterações dos documentos. Não há ideia de quanto foi desviado com o esquema.
O fato mostra que muitos se corrompem na ilusão de conseguir dinheiro fácil. Ao mentir nas ocorrências, as pessoas incorrem em crime. Serão investigadas, entre outras coisas, por falso testemunho.
Como o jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador Ruy Barbosa sentenciou: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
Frases escritas em 1914 são aplicáveis ao momento do país, tal é a capilaridade dos casos de corrupção. Como uma infecção, mata aos poucos. Não há organismo nacional em que a decomposição moral não esteja presente.
Devido à corrupção, o Brasil continua um país das diferenças, das desigualdades. É esse mal que interfere no atendimento de saúde, na melhoria da infraestrutura viária, no avanço da criminalidade e de tantos outros exemplos.
O advogado Luiz Otávio Amaral, professor de Direito faz mais de 25 anos, ressalta os efeitos dessa prática na sociedade. “Antes de ferir o patrimônio público ou particular, a corrupção degrada os valores íntimos de cada um, relativiza os costumes e a cultura da virtude, anulando, pois, os pilares, os princípios (estrelas guias da jornada humana) que mantêm a sociedade elevada e digna de seu próprio orgulho.”
Essa degradação, ensina, começa por pequenas concessões, pequenas inversões no dia a dia. Prossegue e corrói a sociedade.

Acompanhe
nossas
redes sociais