Professor é principal ator na transformação do ensino

Estrela - Fórum Internacional de Educação

Professor é principal ator na transformação do ensino

Especialistas sugerem romper modelo tradicional para estimular estudantes e desenvolver produção de conhecimento. Para eles a pluralidade deve ser respeitada e o educador tem o papel de ensinar o aluno a aprender.

Professor é principal ator na transformação do ensino
Estrela

A transformação no ensino depende de mudanças na prática pedagógica dos professores. Esse foi o principal apontamento feito por especialistas durante o Fórum Internacional do Vale do Taquari. O evento encerra neste sábado e reuniu mais de 1,3 mil profissionais da área.

A diretora do Gabinete de Educação Continuada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Ariane Cosme, falou sobre a necessidade de integrar as etapas de ensino.

Segundo ela, é necessário articular a Educação Infantil ao Ensino Fundamental. Além disso, educadores devem desenvolver ações que estimulem o pensamento e a aprendizagem do estudante. “A escola é uma ferramenta maravilhosa para construção do conhecimento, mas ela precisa respeitar a pluralidade, desenvolver as habilidades de cada estudante.”

Ariana defende que a escola seja símbolo de vida e os diferentes saberes sejam compartilhados. “Devemos ensinar o aluno a aprender e proporcionar que ele sonhe e brinque.” Diante desse cenário, ela critica o modelo denominado hiper-escolarização. Para ela, o excesso de atividades prejudica o tempo dedicado ao desenvolvimento lúdico e afetivo com a família.

Turno integral

Para a especialista, o turno integral proposto no Brasil requer uma ampla discussão. “Esse modelo significa ao aluno ter a possibilidade de fazer algo diferente. Se for para fazer mais do mesmo, não é preciso implementá-lo.”

De acordo com ela, a criança e o jovem do século 21 são ativos e não podem ser mantidos sentados em uma carteira durante excessivo número de horas. “Hoje temos um modelo arcaico, mas podemos fazer diferente. Temos estrutura. O professor não está mais sozinho e tem outros profissionais para apoiá-lo. Apenas precisamos romper esse modelo que está enraizado.”

Escola da Ponte é modelo

A ruptura da educação tradicional é defendida pelo professor português José Pacheco. O fundador da Escola da Ponte abriu as discussões sobre o tema na noite de quinta-feira. A experiência desenvolvida é referência e se consolida pela completa ruptura dos métodos tradicionais.

Na época, o país saía de uma ditadura e a instituição apresentava as altas taxas de reprovação e evasão. Esses aspectos fizeram Pacheco questionar o que estava errado. “Nós trabalhamos tão bem, dávamos boas aulas, então, por que os alunos reprovaram e não aprendiam? Naquele tempo não havia classes de apoio, educação de jovens e adultos, não havia nada.”

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De acordo com Pacheco, em determinado momento, ele e outras duas professoras se aliaram e buscaram mecanismos para mudar aquela realidade.  “Nosso trabalho foi experimentar sem fazer das crianças cobaias de laboratório e respeitando os professores que não tinham interesse em mudar.”

Com o tempo, os métodos deram resultados e os demais professores  se aproximaram. “Eles perceberam que nossos alunos aprendiam mais, que tinham atitudes diferentes e que os pais começaram a ser mais presentes. Hoje, quem dirige a escola são os pais. É a comunidade. Não tem diretor.”

Modelo do século 19

O modelo de educação desenvolvido nas escolas brasileiras é oriundo  da revolução industrial, dos séculos 18 e 19. Segundo Pacheco, essa proposta correspondeu com as necessidades sociais daquela época, mas hoje está obsoleta.

Para ele, a manutenção desse sistema é o principal responsável pelo analfabetismo altas taxas de reprovação e evasão é enorme. Segundo Pacheco, esse modelo se mantém por razões culturais e porque a formação de professores reproduz esse método. “

Eu costumo provocar e digo que em uma aula não se aprende nada. Os professores ficam calados diante dessa afirmação. Há 40 anos, quando eu dizia isso, falavam que eu era jovem e utópico. Hoje os índices mostram essa condição .”

Experiências se destacam

Pacheco contribui com mais de 200 instituições de ensino no país. Nesses locais, a prática pedagógica se difere do método tradicional. São desenvolvidos valores éticos e socioemocionais, por meio de projetos que agregam diversas áreas do conhecimento.

“O jovem chega no Ensino Médio capaz de fazer uma transição para universidade. São escolas de excelência acadêmica com inclusão social. Porque mudaram o modelo educacional. Não faz mais sentido nenhum o que está posto.”

Segundo ele, o que provoca o analfebetismo é o modelo de educação, por estar completamente errado. “Esse método tem que mudar. Não muda porque as escolas são geridas por burocratas e não por quem sabe de educação.”

Transformação necessária

O secretário de educação de Estrela, Marcelo Mallmann, faz avaliação do evento e afirma a necessidade de despertar a discussão quanto à construção de uma escola que faça a diferença. “As palestras dizem isso. Se nossa estrutura é arcaica, necessariamente precisamos mudar essa realidade. Isso vai passar pela mudança na prática do professor.”

“É preciso um compromisso ético com a educação”

Fundador da Escola da Ponte, José Pacheco defende a construção de um novo modelo de educação. Está no Brasil faz 16 anos e desenvolve mais de 200 projetos.

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(SEM LEGENDA)

 

A Hora – De que forma o modelo de educação da Escola da Ponte está estruturado?

José Pacheco – Todos aprendem. Não existem séries ou turmas, há outras conceitos baseados em propostas teóricas do século 20. Essa proposta foi construída a partir de um trabalho de pesquisa, feito com humildade, amor e intuição, um passo de cada vez, com isso, fizemos uma ruptura no sistema tradicional. A Ponte foi inspiração para muitos projetos em todo mundo.  Creio que há mais de mil projetos No Brasil são 200.

Em quais estados, alguma aqui no RS?

Pacheco – Estão presentes em todos os estados. No RS, tem vários. Um projeto quase saiu, em Lajeado, na escola municipal Guido Arnoldo Lermen. Mas o projeto ficou suspenso. Uma secretaria de educação começou a complicar e o projeto ficou suspenso.

Há chances de ser retomado?

Pacheco – Sim o projeto vai voltar. Estive reunido com o Ministério da Educação e, em um grupo de trabalho, identificamos 178 projetos, e esse está na lista. Eu espero que a Secretaria de Educação de Lajeado perceba que tem não só essa escola, mas outras, onde há professores que têm alguma dignidade profissional.

Que metodologia deveria ser usada pelos professores para proporcionar um ensino diferenciado aos estudantes em sala de aula?

Pacheco – Primeiro não deveriam ter salas de aula, por exemplo. Acompanho as melhores escolas do país. Voltei faz pouco de Roma e fui apresentar o Projeto Âncora,  considerado um dos melhores projetos do mundo. Os professores trabalham em equipe e são rigorosos. Não é o oba oba das modas pedagógicas. Esse é um trabalho sério, que traz bons resultados. Os jovens que passam pelas escolas que atuo não chegam ao Ensino Médio sem saber ler ou interpretar.

Na sua avaliação, o governo brasileiro dá a devida atenção para o ensino?

Pacheco – Os ministros não entendem nada de educação. Os técnicos são formados no velho modelo. Os professores são maltratados, mal pagos e humilhados. Então quando a universidade faz formação de professores no velho modelo é muito difícil de modificar. Vou ao encontro de professores que ainda mantêm um pouco da dignidade. A Escola da Ponte começou quando entendemos que éramos  competentes, mas não éramos éticos, porque não conseguimos ensinar todos. O problema é de ordem ética, é preciso um compromisso ético com a educação.

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