A crise econômica enfrentada no país foi tema da reunião-almoço promovida pela Cacis nessa sexta-feira, 21. Gerente de Análise Econômica do Sicredi, o doutor em Economia pela Ufrgs, Pedro Ramos, palestrou sobre o tema no Estrela Palace Hotel.
Para o economista, o cenário para 2018 continua favorável ao crescimento do país, apesar da crise política que alcança o núcleo do governo federal. Segundo ele, as denúncias de corrupção envolvendo o presidente Michel Temer colocam uma interrogação nessas projeções, diante da perspectiva de troca de comando no Planalto.
Ramos alega que Temer recebeu um voto de confiança do mercado quando assumiu o cargo no lugar da presidente deposta, Dilma Rousseff. Conforme o economista, isso ocorreu devido ao programa de governo apresentado pelo presidente. “A chamada Ponte para o Futuro agradou os agentes do mercado.”
Entre os motivos para a retomada da confiança, Ramos aponta o domínio de Temer sobre o Congresso e a adoção de medidas como a lei do teto de gastos e a intenção de realizar as reformas da Previdência e trabalhista.
Para o gerente do Sicredi, as recentes delações da JBS que colocam o governo na mira da Operação Lava-jato podem pôr fim a esse cenário favorável e recolocar o país no caminho da incerteza. “O primeiro sinal é a debandada de quatro partidos do governo. Hoje, não existe mais o domínio sobre o parlamento para aprovar mudanças constitucionais.”
Com isso, alega, a própria reforma da Previdência fica ameaçada. Segundo Ramos, o ajuste fiscal apoiado pelo mercado fica em xeque em caso de saída do presidente, uma vez que não há certeza da continuidade da política econômica nesse cenário.
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Motivos para a crise
O economista afirma que a maior recessão da história brasileira foi causada pelo descontrole nos gastos federais. Segundo ele, desde 1998, as contas públicas crescem em média 10% ao ano, acima dos índices inflacionários e de crescimento do PIB.
“Isso ocorreu independente do partido que estava no poder”, ressalta. Segundo Ramos, 77% do total de gastos da União é com a Previdência e o funcionalismo público, o que inviabiliza cortes drásticos no orçamento.
Para ele, descontrole de gastos públicos no último governo de Dilma Rousseff atingiu seu limite, e a União passou a cortar subsídios, repassando ao setor privado a conta da crise. Os preços da energia elétrica e combustíveis dispararam, ao mesmo tempo em que a falta de confiança do mercado fez disparar a cotação do dólar, resultando em inflação da casa dos dois dígitos.
Para tentar controlar a inflação, o governo ampliou os juros, pressionando ainda mais o cenário econômico. Diante dessas mudanças, a rentabilidade das empresas passou a cair acentuadamente, resultando em desemprego e ampliando a recessão.
Segundo ele, dois fatores contribuíram para essa redução da rentabilidade. “O primeiro foi o crescimento em anos anteriores a patamares que são suportados pela nossa infraestrutura, e o segundo foi o superaquecimento no mercado de trabalho.”
Conforme o economista, enquanto as empresas precisaram aumentar salários dos funcionários devido à falta de mão de obra, a ausência de infraestrutura resultou em ineficiência.