A sociedade não entende e não aceita

Editorial

A sociedade não entende e não aceita

O discurso do presidente Michel Temer, durante a abertura da 50ª Cúpula do Mercosul, de que “a população brasileira irá compreender” o aumento dos impostos cobrados nos combustíveis, “porque este é um governo que não mente, que não dá dados…

O discurso do presidente Michel Temer, durante a abertura da 50ª Cúpula do Mercosul, de que “a população brasileira irá compreender” o aumento dos impostos cobrados nos combustíveis, “porque este é um governo que não mente, que não dá dados falsos”, é um escracho. O chefe maior da República não goza de credibilidade para adotar esse tipo de posição.
Uma rápida revisão nos atos governamentais das últimas semanas mostra contradições. Em troca de apoio para aprovação da Reforma Trabalhista e para angariar votos contrários à aceitação da denúncia contra ele na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o presidente distribuiu um pacote de bondades. Liberou R$ 15,3 bilhões entre emendas parlamentares e programas para estados e municípios.
O resultado não poderia ter sido melhor para o presidente. De uma situação dramática, frente à iminente abertura do processo de impeachment, saiu vitorioso com a rejeição do parecer que recomendava a continuidade das aprovações contra ele. Também venceu nas mudanças da revisão nas leis trabalhistas.
Em um momento de déficit nas contas públicas, de cortes nos serviços à população, essa compra “legal”, mas amoral de votos corrobora com a análise de que os detentores do poder têm como prioridade se manter nas funções. A principal preocupação, no caso do presidente da República, é a continuidade do mandato.
Muito curioso que a revisão tributária do PIS e Cofins abre uma estimativa de arrecadar também R$ 15 bilhões. Mas essas informações o governo “que não mente” também não abre para o público. Não deixou claro por que a liberação das emendas parlamentares ocorreu nas vésperas de decisões importantes do parlamento.
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No país da desigualdade, da população esmagada por uma das cargas tributárias mais altas do mundo, políticos e o alto clero do serviço público mantêm seus benefícios. Em Brasília, não há crise. Para se ter uma ideia, o custo com salários, benefícios e auxílios para deputados estaduais e federais se aproxima de R$ 20 bilhões por ano. Em um dia, o gasto com os 1.652 parlamentares no país paga um ano de estudo para dez mil alunos matriculados no Ensino Médio da rede pública. Esse exemplo escancara a relação servil do povo frente às autoridades. Os políticos custam muito e entregam pouco à sociedade.
Todas as mudanças bradadas pelas ruas, o pedido por ética na política e pelo fim da corrupção fazem parte de um passado distante. Talvez com essa alta prevista de R$ 0,41 no litro da gasolina reacenda a inconformidade do povo. O pato amarelo da Fiesp voltou ao noticiário.
Importante ressaltar que esse aumento no preço dos combustíveis provoca um efeito cascata. Todos os setores da sociedade pagarão mais. A inflação precisará ser revista. A estimativa é para uma nova queda no consumo. Os primeiros a sentir serão prestadores de serviço e o comércio. O custo de vida do brasileiro, mais uma vez, aumentará.

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