“É uma atividade de policiamento, não é dar aulinha”

Lajeado

“É uma atividade de policiamento, não é dar aulinha”

Proerd segue estratégia de grandes programas de treinamento e prepara crianças para fazerem escolhas quando se deparam com drogas e violência

“É uma atividade de policiamento, não é dar aulinha”
Lajeado
oktober-2024

Programa da BM para conscientizar crianças e adolescentes sobre os riscos do uso de drogas, o Proerd também tem o propósito de fortalecer valores e vínculos sociais.

Na área do 22º Batalhão de Polícia Militar, a iniciativa ocorre desde 1998. Por ano, cerca de mil alunos passam pela formação. Conforme a coordenadora do Proerd, a capitã Karine Pires Soares Brum, a meta em 2017 é alcançar dois mil estudantes de 9 a 11 anos.

Neste mês , 567 crianças do 5º ano de escolas estaduais e municipais de Lajeado concluíram o curso, que encerrou com uma cerimônia de formatura no Teatro Univates.

O programa tem dez encontros semanais. No treinamento, são apresentadas situações-problema. e eles precisam encontrar uma saída.

Segundo a capitã, os instrutores são policiais militares que têm afinidades com crianças ou experiência na área da educação.

Antes de irem à sala de aula, passam por duas semanas de curso, em que aprendem técnicas didáticas, dinâmicas e como trabalhar o tom de voz, por exemplo.

O comandante, diz a oficial, analisa quais policiais têm um perfil para atuação comunitária. “Quem é proerdiano diz que é o pior curso da Brigada, porque tem aula de manhã e de tarde e sempre há tarefas para o outro dia”, conta.

Participação da família

Segundo a capitã, o currículo do Proerd passa por atualizações constantes. Na revisão mais recente, notou-se a necessidade de mais envolvimento dos pais.

A partir disso, foram inseridas algumas lições para fazer em casa. São cinco conversas em família – uma espécie de tema de casa, que exige a participação dos pais.

Nessas ocasiões, discutem com os pais temas relacionados com as aulas. “Por exemplo, trabalhamos as regras do programa: para que servem e quais são. Então, a gente manda para a casa, para que os pais digam quais as regras que os filhos têm em casa e na escola e o que acontece se eles não cumprirem.”

Outras forma de engajar os pais é a formatura. “Por isso, fazemos um grande evento, e para que a criança se sinta valorizada”, diz. Além disso, existe um currículo do Proerd específico para pais. Apesar da dificuldade de atrair esse público, a capitão espera formar três turmas em Lajeado neste semestre. São cinco encontros semanais, em horário e local a serem definidos em conjunto com os interessados. O foco é orientar os pais a ajudarem os filhos.

Segurança para dizer “não”

A capitã do 22º BPM, Karine Pires Soares Brum, acredita que a proteção das crianças e jovens passa pelo fortalecimento das relações familiares.

Capitã-Karine

A Hora – Qual é a essência do Proerd?

Capitã Karine – Ele foi desenvolvido para melhorar as capacidades dos jovens de resistir às drogas e à violência. É norte- americano e existe faz mais de 25 anos. Começou trabalhando o efeito das drogas na saúde e, de cinco anos para cá, o currículo sofreu uma alteração, investindo muito mais no reforço da autoestima da crianças, na segurança, na forma de se comunicar e em estratégias para recusar essas ofertas. O objetivo, hoje, é fortalecer essas crianças para que elas, sozinhas – sem pais, sem professores, sem os policiais – saibam tomar a melhor decisão para a sua vida. Ela vai ser abordada por um traficante, por um usuário ou por um colega que queira praticar o bullying ou vandalismo, e o Proerd ajuda ela a dizer não de maneira segura.

Quais os desafios de executar um programa que une duas das mais importantes áreas da organização social: educação e segurança?

Karine – O desafio é a falta de educação. É diferente entrar numa sala de aula com tudo no lugar, com crianças bem alimentadas, bem vestidas, com a saúde em dia. Há escolas em que a gente sabe que têm crianças que sofrem abuso, que não têm um respaldo em casa ou que são agredidas. O principal desafio do policial é conhecer essas realidades e, mesmo assim, desenvolver o programa. O policial tem que saber adaptar seu comportamento e sua linguagem para cada uma das comunidades que ele vai. Esse é o maior desafio.

De que forma a aproximação entre policiais e comunidade escolar contribui?

Karine – O programa objetiva melhorar a imagem da polícia naquela comunidade e para as crianças. A gente tem relatos de crianças que dizem: “Eu não gostava de brigadiano e agora eu adoro”. Então, cria-se esse vínculo com essas crianças que nunca tiveram contato com um policial. A referência que eles tinham era do policial que prendia, que batia; que, quando a polícia ia na vila, as crianças tinham que correr ou avisar alguém. E eles acabam mudando essa visão. Por isso, o policial tem que estar em sala de aula fardado, armado, com colete: porque é uma atividade de policiamento, não é dar aulinha como alguns falam. Têm muitos relatos de mães que eram agredidas e depois que os filhos começaram a falar sobre violência se afastaram do marido, ou pai e mãe dependentes e as crianças começaram a falar e os pais ficaram com vergonha e procuraram tratamento; a própria criança dizendo que o pai morreu de cirrose e que ela nunca vai beber. Toda aula a gente escuta alguma coisa.

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