A INSTABILIDADE NO SETOR COLOCA EM XEQUE A MATRIZ ECONÔMICA DE VÁRIAS REGIÕES NO ESTADO E EXIGE UMA POLÍTICA PÚBLICA RESPONSÁVEL
O assunto de hoje diz respeito a todos os moradores do Vale do Taquari, sejam do interior ou da cidade. Não importa. Os reflexos da instabilidade mais severa no preço do leite atingem produtores, transportadores, indústrias e seus funcionários, o comércio e toda matriz econômica regional, direta ou indiretamente.
Preservar a cadeia leiteira é vital para o Vale. Dados mostram uma dependência umbilical do agronegócio no Vale. Mais de 80% da riqueza produzida na região tem origem ou passa por esse setor.
Essa preocupação essencial com a matriz econômica regional levou, recentemente, um grupo de líderes regionais a assumir posição. Liderados pelo Codevat, dirigentes de sindicatos, cooperativas, prefeitos, empresários e produtores de leite se reúnem, faz meses, para estabelecer uma agenda propositiva e evitar novas baixas no setor.
Em 2016, conforme dados da Emater, mais de 15% dos produtores dos vales do Taquari e Caí desistiram da atividade por insegurança. No RS, acredito, não seja diferente.
Bate à porta o pavor devido às importações de leite em pó do Uruguai. Dos 2,3 bilhões de litros produzidos pelos 3,2 mil produtores, 70% são vendidos ao Brasil, e mais da metade entra no estado.
Os uruguaios produzem apenas 9% em relação ao Brasil, mas são capazes de causar tamanho estrago a ponto de fazer os produtores gaúchos desistirem da atividade e engrossarem as periferias urbanas. O Governo do Estado se diz atento, mas ignora políticas claras para dar o mínimo de segurança e competitividade à produção e industrialização gaúcha.
No RS, as indústrias têm capacidade para processar até 18 milhões de litros ao dia, no entanto, ficam 30% abaixo. Falta leite. Na contramão dessa lógica, a importação do produto em pó aumentou mais de 300% desde 2014.
O efeito da francesa Lactalis sobre as indústrias também ameaça o setor e coloca em lados opostos a sustentabilidade e a competitividade. Principal responsável pelas importações, ela aproveita uma estrutura legal e terceirizada para trazer leite em pó e, após adicionar 8,5 litros de água a um quilo de pó, comercializa no mercado gaúcho.
Com a queda no preço pago pelas cooperativas ou pequenas agroindústrias do estado, a francesa se aproveita e avança sobre os produtores. Sem perspectivas, muitos se rendem às tentações e até mesmo para sobreviver. Com isso, a cadeia se desarticula e cria um clima hostil, nada saudável.
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O governador José Ivo Sartori (PMDB) parece distante desse problema. O secretário Ernani Polo (PP) se diz disposto a resolver. Ainda que de certo modo não está em suas mãos, sozinho, tal resolução.
Ainda assim, existe uma enorme expectativa para o debate promovido pelo jornal A Hora, nesta quinta-feira, 13, às 8h30min, no Tecnovates. Além de Polo, outro secretário estadual desembarca no Vale para debater o setor. Tarcísio Minetto aceitou o convite e se junta a quase uma dezena de debatedores. Sentarão à mesa para discutir alternativas.
Não bastassem as importações, os créditos presumidos – redução de impostos às cooperativas – estão com os dias contados, se depender do documento que tramita na Assembleia Legislativa. Tão vital quanto equacionar o problema das importações desmedidas é criar condições competitivas às cooperativas, uma vez que essas são importantes estimuladores dos arranjos produtivos locais.
Enfim, “não tá morto quem peleia”. Renovo minha expectativa no debate de quinta e, apesar das adversidades, acredito que existem maneiras e interesses genuínos para preservar o que é essencial.
Opinião
Adair Weiss
Diretor Executivo do Grupo A Hora
Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.