A política e o imponderável

Editorial

A política e o imponderável

A continuidade do governo de Michel Temer é uma incógnita. Apesar das diferenças no andamento do afastamento, caso seja por impeachment, ou com o afastamento por parte do Supremo na investigação por corrupção passiva, o substituto de Dilma Rousseff passa…

A continuidade do governo de Michel Temer é uma incógnita. Apesar das diferenças no andamento do afastamento, caso seja por impeachment, ou com o afastamento por parte do Supremo na investigação por corrupção passiva, o substituto de Dilma Rousseff passa por um cenário de ingovernabilidade muito parecido do qual afastou a petista.
Os dois momentos apresentam similaridades. Antes da cassação do mandato, Dilma havia perdido o apoio de partidos que compunham a base aliada. O mesmo tem ocorrido com Temer, quando aliados, como o senador Renan Calheiros, tornam público o seu descontentamento com as reformas apresentadas pelo colega de partido.
As duas defesas trazem argumentos procurando fazer com que fossem verificados como técnicos. Em relação à ex-presidente, as justificativas foram desconstruídas. Ainda que a decisão tenha como pano de fundo o conjunto da obra, o pretexto do impeachment foi a contabilidade criativa usada para esconder o déficit nas contas da União.
Talvez a maior similaridade entre os presidentes seja mesmo a rejeição dos eleitores. Enquanto Dilma alcançou 68%, um recorde na época, Temer superou e bateu os 85%. Míseros 7% aprovam a administração, o menor percentual obtido por um presidente desde 1989, quando José Sarney governava sob uma hiperinflação. Para 83% dos brasileiros, Temer teve participação direta em esquemas de corrupção, explicitados a partir da conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, conforme pesquisa do Datafolha divulgada no mês passado.
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Para se manter até 2018, o advogado do presidente, o experiente Antônio Cláudio Mariz, terá o maior desafio da carreira devido a tantos indícios e provas. Alegar, como fez Temer, que a acusação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é uma peça de ficção não convence.
Insistir em desqualificar a gravação não se sustenta. Em especial depois de peritos da Polícia Federal atestarem a veracidade do áudio. Outro ponto é a proximidade de Temer com o suplente de deputado, Rodrigo Loures, filmado quando recebeu propina de R$ 500 mil enviada por Joesley Batista. Esse episódio ainda tem como agravante o áudio em que Temer indica o ex-assessor para o empresário. Além disso, existe a ameaça das delações premiadas de ex-aliados, como Eduardo Cunha.
Em meio ao imponderável na política nacional, é latente a necessidade do país seguir em frente. Superar os desafios econômicos, a recessão e o desemprego. Para chegar a essa certeza, é preciso responder algumas questões centrais, como Quem será o substituto de Temer? Pela lei, o primeiro nome seria o presidente da Câmara dos Deputados, no caso, Rodrigo Maia (DEM), parlamentar também citado na Lava-Jato.

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