Promessa por mais polícia e a arte de desconfiar

Editorial

Promessa por mais polícia e a arte de desconfiar

A resposta do Piratini para o clamor da sociedade gaúcha por mais segurança foi anunciada ontem. O governador José Ivo Sartori promete contratar mais de seis mil servidores para atuar nas corporações policiais. Serão mais de quatro mil soldados à…

A resposta do Piratini para o clamor da sociedade gaúcha por mais segurança foi anunciada ontem. O governador José Ivo Sartori promete contratar mais de seis mil servidores para atuar nas corporações policiais. Serão mais de quatro mil soldados à Brigada Militar (BM), além 1,2 mil para agentes da PC e cem para delegado. Também somam-se efetivo de oficiais da BM e bombeiros. Desse total, o governo promete nomear quatro mil servidores até o fim do ano.
As nomeações dão fôlego às corporações, mas não resolvem o problema. Por lei, o total de policiais militares no estado nunca deveria baixar de 36 mil. Hoje, o quadro de agentes em serviço não chega a 20 mil. Na PC, a situação é semelhante. O total de agentes hoje é inferior ao que se tinha na década de 80.
Dar mais garantias à população de que o Estado tem força para combater a criminalidade vai além de reforçar os efetivos. Claro que a medida é relevante, tendo em vista o déficit histórico, mas é preciso uma política clara de combate. Seja mais efetividade contra o tráfico de drogas, ao furto e roubo de veículos, aos latrocínios e homicídios, como também um sistema carcerário do qual possa-se acreditar no domínio do Estado sobre os detentos.
O fato é que a estratégia para contabilizar a criminalidade e adotar formas de coibi-la segue defasada. Só há crime se houver o registro. Exemplos positivos, com adoção de sistemas inteligentes de gestão, com mais controle, monitoramento e análise de informações, se perdem na práxis imutável.
A área da segurança pública é hoje a principal preocupação da sociedade. O medo frente à escalada da criminalidade faz com que as pessoas mudem a rotina. Famílias deixam de frequentar a rua, os parques e as praças nos fins de tarde e à noite.
O RS chegou em um momento crítico. Os gaúchos querem ações imediatas, sem procrastinação, discursos prontos e retóricas de que outros governos quebraram o caixa. O governo precisa agir, as pessoas querem ver polícia na rua, querem redução no número de homicídios, de roubos e latrocínios, para voltar a ter tranquilidade no dia a dia.
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Enquanto isso não ocorre, a defasagem no efetivo da BM – próxima dos 40% – obriga comandantes a adotar estratégias do “cobertor curto”. A partir dos registros, se faz um mapeamento das áreas críticas, onde há mais assaltos, roubos de veículos, por exemplo, e se destina patrulhas para esses pontos. Selecionam o que atender.
Em comparação com os anos 80, há menos policiais hoje. Por outro lado, a população cresceu, e por consequência, a criminalidade também. Diante desse cenário, o que resta aos líderes regionais é clamar ao Estado por reforço de efetivo.
O anúncio de quatro mil policiais até o fim do ano pode funcionar como uma injeção de otimismo à comunidade e às corporações. Agora é acompanhar e ver quanto desse montante reforçará os batalhões e delegacias do Vale. Importante desconfiar. Pois até o fim do ano não há tempo hábil para o concurso, nomeação e treinamento.

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