Um movimento liderado pelo ex-funcionário da Certel, Alexandre Schneider, reuniu cerca de 30 associados da cooperativa nesta semana. O grupo se diz insatisfeito com os rumos da Certel e reclama falta de transparência na atual gestão.
Uma nota elaborada pelos presentes foi expedida aos órgãos de imprensa nessa sexta-feira. Manifesta preocupação com o futuro da cooperativa. Avalia a situação atual como preocupante e entende necessária uma mobilização dos associados em defesa do patrimônio. “Um dos principais focos é maior transparência”, reforça Schneider.
Para o ex-funcionário, a Certel esqueceu os preceitos do cooperativismo, distanciou-se deles, o que motivou sua saída, após 25 anos. Schneider aponta que a Certel Desenvolvimento está comprometida e afeta, igualmente, a Energia. Reconhece a diminuição da dívida em R$ 70 milhões, mas alerta para a venda de patrimônio na ordem de R$ 140 milhões, desde 2012. Ainda acredita que o patrimônio da Certel não alcança os R$ 300 milhões anunciados nos balanços.
O atual presidente Irineu Henemann contrapõe. Rechaça colocar em dúvida números e dados apurados por profissionais e auditores altamente capacitados. “A Certel realmente tinha problemas. Assumi com o desafio de mudar isso. Estamos fazendo. Hoje estou seguro e orgulhoso pelo apoio e reconhecimento dos associados”. Afirma haver resultado positivo em todas as áreas, exceto no varejo, algo ainda em construção.
O atual dirigente vê o movimento com naturalidade, mas adverte para as transformações e mudanças estruturais na Certel. “Não se agrada todos, mas seguimos com medidas duras”. Ele projeta o fim da cobrança da cota capital em dezembro próximo, e anuncia um plano a partir de 2018 para devolver o dinheiro corrigido aos 40 mil participantes. “Esse gesto de cooperativismo e esse apoio foi fundamental”, elogia.
Lição para aperfeiçoar modelo
No caso acima, não se pode tomar partido. São dois lados com opiniões e argumentos divergentes. Está claro e assumido o ensaio de uma chapa de oposição aos atuais dirigentes da Certel. E isso faz parte do processo democrático. Legítimo.
A lição desse novo movimento e, em 2013, a tentativa oposicionista na Sicredi Lajeado denotam necessidade de alterações no modelo operacional. Em grande parte, as falhas resultam do modelo conservador. Começa na Ocergs, onde a troca de cadeiras apenas alterna os dirigentes, ficando comprometida a renovação.
Ainda assim, é prudente e necessário não mudar o corpo diretivo operacional a toda hora. Cairíamos na vala pública onde o objetivo maior é vencer as eleições. No setor privado, isso não se sustenta, pois a descontinuidade levaria as cooperativas à falência.
O Sistema Sicredi inovou e conseguiu estabelecer certa segurança jurídica eletiva. A votação por meio de núcleos faz uma espécie de blindagem para projetos ou líderes aventureiros. Preserva a possibilidade de oposição, com apoio da maioria dos sócios e assim elimina a chance de uma pequena parcela de sócios eleger diretoria em assembleia, onde comparece apenas 5% ou 10% do quadro social.
Outro acerto das cooperativas de crédito são os diretores executivos no quadro de carreira. Em Lajeado, por exemplo, a Sicredi tinha dois vice-presidentes remunerados com altos salários. No passado, a influência da diretoria nas decisões técnicas causou rusgas desnecessárias e danosas ao sistema. Felizmente mudou.
É preciso sair de cena o político da operação executiva e adentrar o técnico. Isso representa menos vulnerabilidade, pois se houver troca na direção social os executivos permanecerão. Os sócios podem exigir isso, ou então correr o risco.
A Dália de Encantado, Arla de Lajeado e Unimed têm se encaminhado para isso. Existe a figura do presidente na área social e, na operação, um executivo de carreira.
Assim como na Certel, a Languiru e várias cooperativas no estado mantêm um modelo em que os presidentes conduzem a operação. Por força das circunstâncias de um executivo, o trabalho perante o quadro social acaba em segundo plano. E isso abre brechas para insatisfações, afinal, os donos do negócio são os sócios e eles querem conversar com o presidente.
Pessoalmente, sou de opinião que o sistema cooperativo da região cresceu muito. Evoluiu em vários aspectos e devemos protegê-lo, com muita convicção. EUA é o poderio econômico a partir do sistema cooperativo.
Ao mesmo tempo, não vejo a disputa acirrada como algo salutar nas cooperativas, mas reconheço a oposição como importante para aperfeiçoar os processos. A Sicredi Lajeado é um bom exemplo.
Espero que o movimento, ora surgente na Certel, tenha maturidade para seguir com cautela e responsabilidade, assim como da atual gestão, espero abertura para fazer as reformas que seus associados, eventualmente, julgarem necessárias.