Credibilidade desafia o futuro do jornalismo

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Credibilidade desafia o futuro do jornalismo

Painelistas do 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo citam a importância dos jornais do interior para a segurança da democracia e a recuperação do crédito junto ao leitor, falam sobre os riscos das notícias falsas e a responsabilidade dos meios digitais, e apresentam novidades na área da comunicação para satisfazer e manter os leitores

Credibilidade desafia o futuro do jornalismo
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“Mais de 30% da população não confia fielmente no jornalismo. Não podemos desprezar quem não confia na gente. Precisamos recobrar a nossa autoridade.”

A frase é de Carlos Eduardo Lins da Silva. O jornalista paulista começou a carreira nos jornais Diário da Noite e Diário de S.Paulo. Chegou à redação da Folha em 1984, onde foi repórter, redator, editor, secretário de Redação, diretor-adjunto de Redação, correspondente em Washington e ombudsman.

Durante o painel Pós-Verdade, credibilidade e inteligência digital, chamou a atenção para a recente perda de credibilidade do jornalismo. Ao mesmo tempo, lembrou que, desde antes da criação do primeiro jornal, já haviam falsas notícias. Hoje, são denominadas popularmente de fake news.

“Mas é arriscado achar que isso faz parte da vida. Há particularidades neste momento que merecem mais atenção por parte dos jornalistas e leitores. Nunca vi tantos questionamentos a mídias tradicionais, como a Folha de São Paulo e a revista Veja, por exemplo.”

O diretor-executivo da Folha de São Paulo, Sérgio Dávila, concorda, mas com ressalvas. “Nunca fomos tão lidos. Hoje temos uma audiência mensal de 35 milhões. São mais de 300 mil assinantes pagos. São mais pessoas para criticar. Acho que o ponto fundamental é que, desde a abertura, nunca houve tanta polarização política. A crítica, às vezes, é mera posição ideológica.”

Sobre a perda da credibilidade, Dávila fala da dificuldade enfrentada pela maioria dos jornais: a redução de profissionais nas redações. “Na década de 80, por exemplo, tínhamos uma Editoria de Checagem. Hoje, com a diminuição da redação, perdemos essa ferramenta e utilizamos consultorias terceirizadas que fazem um trabalho posterior à publicação.”

Apesar da queda na credibilidade, os jornais impressos, conforme pesquisa do Ibope de 2015, ainda são os meios de comunicação mais confiáveis na opinião dos leitores, em comparação com sites e revistas. Entretanto, profissionais demonstram preocupação com os números. Segundo o estudo, apenas 27% dos brasileiros confiam “sempre” nos periódicos.

Incentivo aos jornais locais

Angela Pimenta é jornalista e presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor). Para ela, diante da quantidade de fake news, o jornalismo local e regional ganham ainda mais importância. “Esses têm autoridade por estarem mais próximos aos fatos”, cita.

De acordo com ela, os jornais do interior preenchem diversos critérios e indicadores de credibilidade. Entre esses, cita a geolocalização próxima da notícia, as informações obtidas pessoalmente com as fontes, e o fato de a maioria dos veículos de comunicação menores publicarem notícias próprias e originais.

Sérgio Gomes, do projeto Repórter do Futuro (Instituto Oboré), também enaltece a função dos pequenos jornais, “primordiais para a democracia”, segundo ele. Vítima de tortura durante o regime militar, cita a necessidade cada vez maior do comprometimento social dos periódicos ameaçados pela imersão da internet.

“Vou citar um exemplo simples e rotineiro: se a rua está boa, não é notícia. Mas se a via púbica estiver cheia de buracos, ou se as pessoas estão morrendo atropeladas, bom, daí sim temos uma notícia relevante. E isso os pequenos jornais impressos fazem muito bem.”

Notícias falsas nas redes

Luís Renato Olivalves é diretor de Parcerias de Mídia do Facebook. Ele aponta diversas iniciativas da empresa para reduzir a propagação de fake news. As principais providências foram tomadas após a plataforma ser usada para espalhar inverdades na campanha presidencial nos Estados Unidos que elegeu Donald Trump.

Entre as iniciativas, o Facebook pretende reduzir os incentivos econômicos para a publicação de informações falsas. Outra ação é desenvolver novos produtos com o objetivo principal de combater as fake news e ampliar a exposição de fontes confiáveis de notícias. Sobre as notícias inverídicas, cita que o rápido compartilhamento ou o pouco tempo do usuário dentro do link aberto são indicadores do problema.

“Estamos muito preocupados pois o dano de uma matéria falsa é grande. Queremos criar mecanismos para devolver a credibilidade ao jornalismo sério e ajudar os bons profissionais da comunicação”, diz, alertando para o risco do chamado analfabetismo digital. “Precisamos ensinar as crianças, principalmente, a navegar e compreender notícias desde já”, complementa Dávila.

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Opinião

O repórter e colunista do A Hora, Rodrigo Martini acompanha o principal congresso nacional sobre jornalismo investigativo, em São Paulo.

Para o A Hora, o jornal se manterá relevante e fundamental à sociedade se preservar os princípios fundamentais da atividade, baseadas, sobremaneira, na credibilidade, independência e engajamento comunitário.

Reportagens e investigações profissionais acompanham o jornalismo contemporâneo e são aposta cada vez maior do A Hora.

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(SEM LEGENDA)

Investigar para transformar

A equipe do Grupo De Investigação (GDI) da Zero Hora apresentou os resultados de seis meses de trabalho. Segundo o editor, Carlos Etchichury, o serviço busca conquistar mais assinantes em vez de anunciantes.

“O GDI não vai trazer mais anúncios. O objetivo é resgatar a credibilidade e, consequentemente, atrair mais assinantes. E essa é a grande mudança de que os jornais carecem: fazer com que o assinante seja mais importante que o anunciante.”

Para isso, diz o repórter Jonas Campos, tanto a empresa como a sociedade precisam “abraçar” esse tipo de projeto. “Isso porque a parte contrariada na matéria sempre vai reclamar, tentar processar.”

Sobre isso, Etchichury cita que todas as pautas desenvolvidas pelo GDI passam por uma análise criteriosa do setor jurídico da empresa. “Nunca derrubaram uma matéria, mas nos abastecem com elementos suficientes para algumas tomadas de decisões que servem para evitar processos.”

Em seis meses, foram 76 conteúdos que resultaram em exonerações, aberturas de procedimentos disciplinares e investigações das promotorias de Justiça.

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