“Contratamos por currículo e demitimos por comportamento.”

Workshop

“Contratamos por currículo e demitimos por comportamento.”

Realizado em Encantado, workshop abordou a gestão de pessoas

“Contratamos por currículo e demitimos por comportamento.”

O centro administrativo de Encantado sediou no dia 27 o 5º Workshop Negócios em Pauta. A primeira edição do evento no município teve como convidado especial o empresário e trainer franqueado da empresa Dale Carnegie, Henrique Kuhn. Ele abordou o tema “Gente: como potencializar o desempenho coletivo e os talentos?”

Presidente do Sincovat, Rui Mallmann abriu o painel falando sobre o intuito de instigar os escritórios contábeis e empresários a fazer gestão. “Não podemos mais ser aquele contador à moda antiga que imprime Darf e trabalha para o governo, precisamos inovar.”

Em seguida, o mediador e diretor-geral do A Hora, Adair Weiss, apresentou os debatedores do painel. Integraram o evento a vice-presidente de CRC-RS, Ana Tércia Lopes Rodrigues; a conselheira do Conselho Regional de Psicologia do RS, Elizangela Zanelatto; o diretor do Sescon-RS, Flávio Dondoni Jr.; a professora de Psicologia da Univates, Liciane Diehl; e a gerente de recursos humanos da Fruki, Ana Luisa Hermann.

Consultora organizacional da Capital Verde, Raquel Winter destacou a sinergia do tema gestão de pessoas com os abordados nos quatro painéis anteriores. Segundo ela, os planejamentos estratégico, financeiro, tributário e os indicadores de gestão estão diretamente ligados aos recursos humanos.

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“Apesar de todas as tecnologias disponíveis, são as pessoas que fazem a diferença nas organizações”, aponta. Conforme Raquel, o principal desafio das empresas é fazer com que as pessoas percebam o sentido do seu trabalho e de suas obrigações em termos de desempenho.

Kuhn abriu a explanação falando sobre a Dale Carnegie, líder mundial no setor de treinamento em gestão, com 104 anos de existência. Ele apresentou dados de uma pesquisa lançada em março pela empresa, na qual foram entrevistadas 3,3 mil pessoas de 14 países.

Conforme o levantamento, um funcionário é dez vezes mais propenso a estar satisfeito com o trabalho quando o seu líder é 100% confiável nos relacionamento com os outros o tempo todo. O estudo mostra também que o trabalhador é sete vezes mais propenso a se manter em no trabalho quando o líder é congruente.

“A incongruência é não cumprir com as coisas que fala”, aponta. De acordo com Kuhn, um funcionário é quatro vezes mais propenso a buscar outro emprego quando seu líder raramente é confiável em seus relacionamentos.

A pesquisa ainda mostra que somente 9% dos funcionários procuram emprego imediato quando seu líder é genuinamente confiável por suas crenças e princípios todo o tempo. “Tem muitas empresas e muitos negócios que prevalecem ao longo dos anos por ter princípios sólidos.”

Kuhn citou o livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, para apontar as características básicas para ser um líder bem- sucedido. Segundo a publicação, 15% do sucesso de alguém se deve ao conhecimento técnico, enquanto 85% corresponde às atitudes e a habilidade de liderar pessoas. “Cada vez mais, contratamos por currículo e demitimos por comportamento”, alerta. Conforme a pesquisa da Dale Carnegie, enquanto pessoas que têm são admiradas e as que fazem são respeitadas, somente confiamos nas que realmente são.

[bloco 2]

“A confiança está relacionada à previsibilidade. O líder imprevisível perde a confiança”, alerta. De acordo com Kuhn, gestores que têm como característica a dificuldade em delegar tarefas precisam descobrir os motivos para isso. Segundo ele, se essa dificuldade ocorre por falta de confiança é de se supor que o líder também não tem a confiança dos liderados.

Kuhn questiona a imagem que os líderes e gestores passam para a equipe. Cita como exemplo o caso de um novo executivo, recém-contratado para uma empresa. “Muitas vezes ele assume o cargo que outra pessoa queria assumir”, ressalta.

Segundo ele, a primeira característica observada pelas pessoas quando avaliam a competência profissional é a aparência. Em seguida, aparece a forma como essa pessoa se comunica e, por fim, as atitudes e o autocontrole.

“Nossa atitude e nosso autocontrole são avaliados o tempo todo. Nós não somos o que pensamos, e sim e aquilo que demonstramos ser”, reforça. Muitas vezes, alerta, o resultado da empresa é medido pelo humor dos diretores.

“As pessoas vão classificar como nos relacionamos com outras pessoas para depois avaliar se temos ou não competência profissional”, afirma. Diante disso, alerta para a necessidade de manter uma atitude positiva na prática, mesmo diante das dificuldades.

Desafios dos líderes 

Elizangela Zanelatto apontou a necessidade de estabelecer estratégias para que os funcionários encontrem sentido em suas tarefas. “Que outras formas podemos pensar para potencializar essa pessoa, nesse espaço de trabalho que também enfrenta crise?”

Conforme Kuhn, a pesquisa da Dale Carnegie mostra que, entre as principais falhas apontadas em relação aos líderes, 28% dos entrevistados apontam o desrespeito às opiniões divergentes, e 32% a rejeição ou desvalorização das contribuições da equipe.

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Para ele, a estratégia mais eficiente é desenvolver um trabalho forte de liderança, que alcance os coordenadores, gestores e diretores. Citou como exemplo o período em que morou em Rio Grande, na época da expansão do polo naval.

Segundo Kuhn, era comum ver funcionários batendo o cartão sem trabalhar. “Quando falta liderança, falta tudo”, alerta. Conforme ele, a ausência de líderes que sirvam de referência pode ser observada também nas famílias, e explica parte dos problemas enfrentados pelo país.

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Para painelistas, líderes devem inspirar a equipe não apenas com palavras, mas com atitudes e valores condizentes com a empresa

“Na minha percepção, a ética e os valores morais afetam muito”, assinala. Segundo ele, os líderes precisam fazer a diferença e preservar valores. Alega que quem tem problemas de ordem moral ou ética não consegue engajar outras pessoas para um propósito comum.

Para a vice-presidente de gestão do CRC-RS, Ana Tércia Lopes Rodrigues, a formação multidisciplinar voltada para a liderança precisa ser incentivada na classe contábil. Segundo ela, a formação do contabilista está muito focada na parte técnica.

“Temos pitadas da área social, mas longe do que precisamos para assumir esse papel de gestor”, afirma. De acordo com Ana, caso o profissional não busque essa qualificação, não conseguirá desenvolver as características de uma liderança madura, saudável, positiva e reconhecida.

Diretor do Sescon-RS, Flávio Dondoni Jr. ressalta ser impossível manter a equipe motivada quando a empresa tem problemas no setor financeiro. Para ele, um dos principais desafios do gestor é fazer com que os liderados despertem a mesma paixão do líder pelo negócio

Exemplos de sucesso

O desafio de inspirar diariamente uma grande equipe foi abordado pela gerente de recursos humanos da Fruki, Ana Luisa Hermann. Segundo ela, para estabelecer essa relação de confiança, o líder precisa ser o exemplo da clareza dos valores da empresa.

“Na Fruki temos o seu Nelson Eggers, que é o exemplo prático de tudo o que acreditamos”, ressalta. Conforme Ana, a empresa trabalha com o perfil de líder transformador, e aposta em constantes avaliações de desempenho da relação entre os gestores e suas equipes.

[bloco 4]

De acordo com ela, essa atuação tem três pilares. Em primeiro lugar, aponta, o líder precisa se conhecer para saber onde pode contribuir. Em seguida, trabalhar a forma como se relaciona com a equipe, como dá e recebe feedbacks. Por fim, estão os desafios da empresa e o planejamento estratégico da organização.

Na opinião do presidente do Sincovat, Rui Mallmann, a empresa sempre terá a cara do líder. “Na minha empresa, a primeira pergunta que fazemos ao candidato é como ele se relaciona com as pessoas, e tem dado certo.”

Segundo ele, um dos métodos utilizados são reuniões mensais em que os funcionários são as estrelas. “Da mesma forma que os lideres atendem os clientes, os colaboradores também atendem”, destaca. Conforme Mallmann, maus e bons exemplos são capazes de contagiar a equipe de trabalho.

Novas gerações

O desafio de trazer significado ao trabalho desenvolvido pela equipe de funcionários se torna ainda mais complexo diante dos anseios das novas gerações. Adair Weiss questionou o público sobre as percepções em relação à forma como as empresas trabalham com essa juventude.

Empreendedora na área da moda e funcionária em um escritório contábil, Tainá Gross, 25, acredia que as organizações precisam apostar no conceito de comunicação não violenta. Segundo ela, mais do que saber se comunicar ou ouvir, o líder precisa aprender a dar o espaço necessário para o jovem se desenvolver na empresa. “Nossa geração busca ser ouvida, porque procuramos propósito e uma causa no que fazemos”, aponta.

[bloco 5]

Para Ana Luisa Hermann, uma das formas de envolver os jovens é incentivando a colaboração e a cocriação. “No momento que passamos para as pessoas a oportunidade de construir junto, unimos as gerações e alinhamos expectativas”, afirma. Segundo ela, algumas metodologias podem auxiliar nesse processo, mas o primeiro passo está no gestor ter a humildade de ouvir mais a equipe.

Reconhecimento

Presidente do CRC-RS, Antônio Carlos de Castro Palácios foi um dos participantes do evento. Para ele, iniciativas como a do Negócios em Pauta são fundamentais para o desenvolvimento dos contabilistas. “A classe contábil vibra com oportunidades como essa.”

Segundo Palácios, existe grande oferta de cursos e palestras voltadas para o setor, mas poucas iniciativas capazes de alcançar as necessidades do dia a dia do profissional da contabilidade. Conforme o presidente, o contador sempre teve a característica de ser uma pessoa ligada aos números, e falar em temas como a gestão de pessoas se torna cada vez mais imprescindível.

“Hoje o profissional precisa encarar a figura de uma pessoa indispensável na gestão de negócios”, aponta. Para isso, alerta, é fundamental buscar as informações da contabilidade e saber levar para o empresário, de forma a contribuir para os processos da gestão.

[bloco 6]

Segundo ele, quando falamos em gestão de pessoas, não basta apenas contabilizar uma folha de pagamento e estabelecer as normas trabalhistas e previdenciárias. “Tem que saber reter a mão de obra, recrutar as pessoas adequadas e criar condições para que seus colaboradores se mantenham motivados e alinhados com os objetivos da empresa.”

De acordo com Palácios, a série de workshops do projeto é capaz de oferecer aos profissionais das áreas contábil e administrativa a complementação necessária para as atividades do cotidiano.

Dúvidas frequentes nas empresas

1

Raquel Winter (Consultora Organizacional da Capital Verde)

Como sensibilizar os líderes de pequenas e médias empresas para entenderem que gestão é mais do que apenas venda, indicador e controle de orçamento?

Henrique Kuhn – É muito difícil ensinar algo para alguém que pensa que já sabe tudo. Na pesquisa da Dale Carnegie, a dificuldade de reconhecer seus próprios erros é apontada por 41% dos entrevistados. Isso causa muitos problemas. Quando assumimos nossos erros, demonstramos que somos humanos, que temos valores e princípios. Para mim essa é a maior lição de liderança. Tem pessoas que não escutam ninguém, tem outras que só ouvem o que querem. Como vou manobrar uma empresa, uma organização se eu não ouço as pessoas que estão comigo, meus clientes, minha esposa? Para mim, a sensibilização está muito ligada a essa dificuldade de reconhecer seus erros.

 

2

Flávio Dondoni Jr. (Diretor do Sescon-RS)

Um chefe extremamente carismático e motivador consegue ter esse reflexo na sua equipe e ser respeitado quando é alegre, carismático e brincalhão?

Kuhn – Dale Carnegie, em 1912, descobriu, pensou e começou a praticar algo que chamou de cinco propulsores do sucesso. Por mais que ocorram vários desafios, o gestor que consegue manter a autoconfiança, preservar as habilidades interpessoais, consegue engajar as pessoas mesmo em momento de crise. Isso não é novidade, as empresas que seguem crescendo no Vale têm na atitude o grande diferencial. As palavras emocionam, mas as atitudes são capazes de levar as pessoas ao mesmo objetivo.

 

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Rui Mallmann (Presidente do Sincovat)

Como agir para contratar com assertividade?

Kuhn – Tenho dezenas de pessoas na minha equipe. A primeira pergunta que faço para interessados em trabalhar comigo é justamente sobre a habilidade de se relacionar. Mas também gosto de conhecer onde a pessoa mora, os pais, a namorada e, se for preciso, vou na casa dela. Na minha atividade, o nosso colaborador é o próprio negócio. Às vezes, a pessoa que está em uma cidade representa nossa marca e nossa imagem. É muito sutil a empresa crescer ou não por conta do comportamento dessa pessoa. Procuro conhecê-la profundamente e saber mais sobre as pessoas e sobre mim. Daqui pra frente, se nós não entendermos de pessoas, o conceito é velho. A mudança é a nova era. Conheça profundamente sobre pessoas, buque aprender mais.

 

 

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Adair Weiss (Diretor-geral do A Hora e mediador do workshop)

O que fazer neste momento em que muitas pessoas se especializaram em enganar o psicólogo do RH?

Liciane Diehl – Na Univates, vejo se repetir essas dificuldades em sala de aula. É difícil as pessoas terem a humildade de reconhecer erros, liderar, ter empatia, colocar-se no lugar do outro. Muito disso passa pela falta de se conhecer enquanto pessoa, pois não somos estimulados a fazer isso. Desde a escola, o nosso foco é o conteúdo e não os relacionamentos interpessoais. Fiquei muito feliz quando minha irmã colocou as crianças dela em uma escola mais ligada às questões humanas. Tem aula de meditação, para aprender a parar. Acho que é isso que está faltando no adulto. Como isso não vem na educação, na Univates estamos preocupados em mudar os currículos conteudistas e trabalhar mais o autoconhecimento e o relacionamento interpessoal. Hoje, enfrentamos problemas laborais muito maiores que tendinite e bursite. É estresse, bipolaridade, esgotamento mental, depressão. É preciso pensar a relação com o trabalho de uma maneira mais plena. Temos a cultura de tomar decisões automáticas sobre as nossas vidas. Muita gente faz vestibular, se forma e vai trabalhar porque é isso que todo mundo faz, não por escolha. É um grande e instigante desafio.

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