A mãe do Vale e da cultura

Taquari 168 anos

A mãe do Vale e da cultura

Terra de açorianos, a mãe do Vale completa 168 anos nesta terça-feira, 4. Uma história construída pela união e preservada em cada detalhe. Nas memórias, as marcas deixadas pelos antepassados na construção de uma região pujante e na formação de um povo trabalhador.

A mãe do Vale e da cultura
Vale do Taquari

Basta dar alguns passos pelo bairro Praia para presenciar o quanto a história vive em Taquari. Local de surgimento da cidade, também é moradia de Eva Pereira da Rosa, 74, faz cerca de meio século. Apreciar nas casas a arquitetura açoriana do século XIX, quando a quantidade de janelas e vidros demonstrava a riqueza da família. E ver, no canteiro da rua, o busto de Jacob Arnt. Pioneiro da navegação fluvial do RS, que fundou em 1879 sua própria companhia no município, e também foi dono da casa onde Eva reside.

“Acredito que foi construída no início de 1900.” Com dois andares, o espaço tem mais de 12 peças. Na porta, sobra espaço para Eva e o marido, Pedro Labres da Rosa, 69, aproveitarem o sol do fim do dia e a calmaria de uma cidade antiga.

“Aqui é tudo muito calmo. Tranquilo. As pessoas são todas amigas umas das outras. Podemos ficar a noite inteira se quisermos”, comenta a aposentada. Natural de Amoras, interior do município, ela não se cansa de apreciar o patrimônio da cidade. Se delicia com a paisagem da Lagoa Armênia. “Nunca é o suficiente. Sempre quero olhar mais.” Opinião que divide com quem ainda descobre as belezas da mãe do Vale.

Eva e Pedro vivem hoje na casa que pertenceu a Jacob Arnt, pioneiro da navegação fluvial. Construção data de 1900

Eva e Pedro vivem hoje na casa que pertenceu a Jacob Arnt, pioneiro da navegação fluvial. Construção data de 1900

Orgulho do passado e futuro

Cerca de 60 anos mais novas que Eva, Rafaela Porto de Souza, 14, Isabela Cardoso, 13, e Nicole Bins, 13, acreditam que tomar um chimarrão na lagoa seja a atividade típica de todo o taquariense.

Nesta semana, as colegas de dança desfrutavam do ar puro e fresco do local para jogar conversa fora. “Viemos muito na lagoa. Aproveitamos o centro. Coisas que poucos jovens podem fazer hoje, devido à insegurança”, ressalta Rafaela.

Assim como para dona Eva, a cultura é algo que já faz parte do dia a dia. Mas não traz monotonia, e sim orgulho. “Há muito espaço para dança, teatro, e isso é uma das melhores coisas daqui”, afirma Isabela.

Marcado na história

“É um local muito importante para nós. Um prédio bonito, que conserva a história dos primeiros moradores. A preservação é imprescindível”, comenta a estudante de História Lorena Suzete Silva de Souza, 38, falando em relação ao Museu Casa Costa e Silva.

Rodrigues é responsável por imprimir o Taquaryense faz duas décadas

Rodrigues é responsável por imprimir o Taquaryense faz duas décadas

Situado no centro, a uma quadra da lagoa, o local foi o berço do marechal Arthur Costa e Silva, e é um dos pontos da história viva de Taquari. Presidente da República entre 1967 e 1969, no período da ditadura militar, Silva viveu na casa no século 19, junto com a família. Descendentes de açorianos, eram donos de um armazém de secos e molhados. Abastados, conseguiram mandar o filho, de um total de 11, para a escola militar. De onde saiu presidente. Após a morte dos progenitores, toda a estrutura foi deixada à disposição da comunidade. A partir de uma reforma do Iphan, em 1985, o espaço foi aberto à visitação. O quarto dos pais do ex-presidente permanece intacto, com a cama de aço cromado e os espelhos de cristais. Assim como um piano, que fica na sala, com dois candelabros para iluminar.

Instalado na Lagoa Armênia, em 1976, o busto de Costa e Silva também integra o memorial desde 2014, quando foi retirado da Praça da Democracia. Além desses legados, Silva deixou para a cidade a pavimentação da rodovia Aleixo Rocha e a instalação da Satipel, atual Duratex.

Rosane Santos da Rosa orienta os visitantes no museu do ex-presidente

Rosane Santos da Rosa orienta os visitantes no museu do ex-presidente

Nas páginas de O Taquaryense

Obras, crescimento da economia, e valorização patrimonial que é retratada há quase 130 anos nas páginas de O Taquaryense. Atual diretora, Flávia Saraiva, 86, é filha de Plínio Saraiva, fundador do semanário. Ela conta com a ajuda do neto Pedro Harry, 21, de João da Rosa Rodrigues e um entregador para levar o jornal até a casa dos 360 assinantes.

Harry é responsável por produzir o conteúdo, enquanto Rodrigues faz a impressão. Numa máquina adquirida pelo jornal em 1910, do Correio do Povo, ele dispõe letra por letra das matérias. Assim como num computador, escolhe o que será caixa alta e caixa baixa. Depois de pronto, faz a matriz e as demais cópias.

O processo antigo o impõe quatro dias de impressão, um para cada página do jornal, que é distribuído às quartas-feiras. “É o segundo mais antigo em circulação, e o sétimo no país. Único impresso assim na América Latina. Enfim, é fundamental para a história da região”, resume Harry, que pretende levar adiante o negócio da família, e manter preservada as memórias do museu vivo da comunicação.

Infografico taquari

Cem anos de Taquari

A história viva de Taquari também está representada no rosto de Maria Luísa Pacheco Vilanova. A doceira, natural de Fazenda Concórdia, completa cem anos nesta terça-feira, junto com a cidade. Ela acompanhou a expansão dos açores no início do século 20, assistiu à presidência do conterrâneo, e continua mantendo uma relação de amor com a cidade. Casou-se com Osvaldo Pinto Vilanova, em 1939, com quem teve dois filhos: José Darci e Valderez. Hoje, é vó de seis netos e cinco bisnetos, e está viúva faz 13 anos.

Católica praticante, ainda participa do Apostolado da Oração. Também gosta de caminhar e cuidar do jardim. Aposentada como doceira, tem o crochê como principal atividade. O lugar preferido, além da casa, é a Lagoa Armênia. “Gosto muito do meu povo e do meu Taquari”. Neste sábado, a partir das 15h, será celebrada uma missa na Igreja Matriz em comemoração ao seu aniversário. Uma verdadeira celebração à história de Taquari.

“Temos muito orgulho da história da nossa cidade”

O prefeito Emanuel Haenssen de Jesus, o “Maneco”, prevê um futuro promissor à cidade. Acredita que a organização das cadeias e o estabelecimento de novos programas propicie o crescimento de Taquari.

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A Hora – A economia é baseada nos serviços, indústria e agricultura. De que maneira o município trabalha para propiciar mais crescimento?

Maneco – Hoje nosso foco está no comércio e serviços. Também temos grandes empresas. Mas, pelo tamanho da cidade, ainda precisamos de novas indústrias de médio e grande porte, que gerem mais empregos. Como é o caso da Call Center que vai gerar 600 novas vagas. Acreditamos que, com a criação da Sala do Empreendedor, ampliação dos serviços da Secretaria do Meio Ambiente, para licenciamento; e asfaltamento da Estrada de Aterrados, novas empresas ainda possam chegar. Na agricultura, há duas culturas fortes, que são o arroz e o eucalipto. Mas nossa meta é incentivar a diversificação. Para isso, retomamos a feira do produtor. E com a entrada do Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf) conseguimos que seis agroindústrias fossem credenciadas para vender a todo o estado.

A preservação histórica e cultural é uma das grandes riquezas. De que forma pretende trabalhar para que isso se mantenha?

Maneco – Preservar o patrimônio hoje é problema financeiro dos proprietários. Mas aprovamos uma lei na câmara para facilitar a arrecadação de recursos públicos para a manutenção desses espaços. O primeiro deles a receber o título de Patrimônio Histórico Cultural foi a Lagoa Armênia. Além disso, criamos o Conselho de Cultura, que trabalhará para ampliar isso a outros imóveis. Temos muito orgulho da história da nossa cidade.

Como o município melhora a educação e a saúde?

Maneco – Desde o início da gestão, essas foram as áreas em que mais investimos. Nos últimos dois anos, por exemplo, o número de estudantes na rede municipal cresceu 49%. As pessoas percebem a qualidade, e migram seus filhos da rede particular e estadual para a nossa. Já na saúde, apesar de aplicarmos muito na atenção básica, o Estado tem descumprido seu papel. Simplesmente deixou de nos pagar R$ 1,2 milhão. Mas seguimos. Já instalamos a sexta equipe de ESF, duplicamos o número de médicos e estamos sempre construindo ou reformando algum posto.

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