Ação estimula produção sem agrotóxicos

Santa Clara do Sul

Ação estimula produção sem agrotóxicos

Programa incentiva cultivo de hortaliças orgâncias para gerar renda aos agricultores

Ação estimula produção sem agrotóxicos
Vale do Taquari
oktober-2024

A cidade referência no cultivo de flores deverá ser conhecida, em poucos anos, pela produção de alimentos orgânicos. Essa é a intenção da administração municipal. O plano é ousado, a partir do próximo ano, 100% da merenda escolar da rede municipal vai ser livre de agrotóxicos. Até 2020, a meta é ter pelo menos 300 hectares cultivados por meio do modelo agroecológico.

O lançamento oficial do programa ocorreu ontem às 19h30min, no Clube Centro de Reservistas. Durante o evento, foram apresentadas as etapas do projeto e a identidade visual do programa.

Representantes do Ministério de Desenvolvimento Social, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, da Embrapa e da Emater estiveram presentes.

Também houve a apresentação das entidades parceiras que prestarão os serviços de assistência técnica, pesquisa e desenvolvimento dos orgânicos.

De acordo com o prefeito, Paulo Kohlrausch, o projeto pretende transformar a saúde e a educação alimentar da população. Além disso, estimula a economia por meio da produção orgânica.

De acordo com o chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Osmar Redin, o mercado de orgânicos tem amplo potencial e comercializa R$2 bilhões ao ano.

Toda produção agrícola pode estar inserida no modelo. “Na área de lácteos, nos EUA 16% dos produtos comercializados vêm da agricultura orgânica. Na Europa são 30%. Temos um mercado espetacular a ser explorado. O poder público dará um marco diferenciado por meio deste programa.”

Segundo ele esta semana, o governo federal vai investir R$10 milhões por meio do Programa de Aquisição de Alimentos, mecanismo que garante a compra da produção orgânica.

O prefeito destaca o valor econômico, além disso a proposta atenta para a sucessão familiar no campo. Outro resultado esperado é a qualidade na saúde e na educação alimentar da população.

O projeto

O município terá parcerias com a Emater-RS e a Embrapa e com isso pretende tornar Santa Clara do Sul uma vitrina tecnológica da produção orgânica. O programa ganha apoio da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural e do Ministério do Desenvolvimento social.

Mercado em franca expansão

O diretor-geral da Embrapa Clima Temperado, com sede em Pelotas, Clenio Pillon, considera louvável iniciativas como esta. Para ele, o projeto com apoio do poder público tem todas as condições para ser bem-sucedido. Além disso, o modelo pode ser ampliado para outros municípios do Vale, tendo em vista o perfil regional, baseado essencialmente na agricultura familiar.

 

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A Hora – Quais garantias os produtores terão em apostar na produção agroecológica? Há mercado consumidor suficiente?  

Clenio Pillon – Existe uma expectativa muito grande da sociedade por alimentos saudáveis. A produção agroecológica é um formato tecnológico que permite garantir à sociedade alimentos saudáveis. Além disso, oferece saúde e qualidade de vida para as pessoas. Isso será cada vez mais procurado. Hoje existe um conjunto de políticas públicas, em âmbito federal, como o Programa de Aquisição de Alimentos como o PAA e o PNAE que de certa forma garantem em alguma escala a compra desses produtos para disponibilizar em estruturas públicas. Então existe um espaço de mercado que pode ser adquirido a partir das políticas públicas existentes.

Quais os principais desafios em apostar nesse modelo?

Pillon – É entender o sistema. Ele se diferencia do modelo convencional.  O modelo agroecológico é mais complexo e vai trabalhar princípios, entre eles, as boas práticas de manejo, como conservação do solo e da água. Também atua na diversificação e na integração com a produção vegetal e animal. Um fator limitante são os insumos. No sistema convencional, você vai em uma agropecuária e compra o insumo. No orgânico de base agroecológico, o produtor terá de produzir o próprio insumo. Isso é feito valorizando os resíduos vegetais, rejeitos orgânicos e dejetos de animais como fontes de nutrientes. Outro aspecto é a convivência com as pragas, o principal desafio. Não se tem à disposição produtos de base biológica para enfrentar pragas.

Todas as propriedades, em algum momento, recebem ou já receberam agrotóxicos. Nessa situação, em quanto tempo estará apta para produzir alimentos 100% orgânicos?

Pillon – É necessário um período de transição, isso leva, no mínimo, um ano. O produtor terá de adotar todo um conjunto de boas práticas. Não poderá usar produtos químicos naquela área para se ter a garantia que não terá nenhum tipo de resíduo.

Como será possível obter certificação tendo em vista que propriedades vizinhas podem não aderir ao programa e utilizare agrotóxicos. Nessa situação, como é possível produzir sem ter contaminação?

Pillon – Por isso o projeto precisa ser trabalhado de forma integrada dentro das localidades. É necessário passar informação aos produtores, seja nos riscos ou benefícios. Existem vários tipos de certificação. A produção orgânica tem todo um regramento e há empresas que fazem essa certificação. Na produção de base ecológica, existem outros tipos de certificação consideradas não oficiais, mas que são feitas por um próprio controle social estabelecido dentro do sistema e pela conexão com os consumidores.

Que experiências no modelo agroecológico existem no RS e vão servir de modelo para o projeto em Santa Clara do Sul?

Pillon – Na região da Embrapa Clima Temperado, há um trabalho muito forte em vários municípios, em especial, Pelotas, Morro Redondo e Canguçu com as feiras agroecológicas. Temos produtores que se organizam em associações de agricultores que produzem alimentos agroecológicos. Eles são comercializados em feiras abertas, ao ar livre. Esses produtos também são comercializados em instituicões no caso na Universidade Federal de Pelotas que utiliza boa parte da producao local para abastecer o restaurante universitário.

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