Produtores da JBS estão apreensivos

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Produtores da JBS estão apreensivos

Escândalo bilionário envolvendo os empresários Joesley e Wesley Batista e o presidente Michel Temer deixa cadeia produtiva e líderes angustiados quanto ao futuro da produção e dos empregos gerados. Empresa atua no RS desde 2012 quando assumiu as operações da antiga Doux Frangosul.

Produtores da JBS estão apreensivos

Fernando Heid, 28, de Marques de Souza, trabalhou durante dez anos em uma granja de suínos em Travesseiro. Com experiência suficiente e garantia de crédito, resolveu empreender. Com ajuda dos pais Décio, 59, e Marli, 58, e do irmão Leonardo, 15, investiu R$ 1,3 milhão na construção de quatro chiqueiros com capacidade para alojar 1,7 mil suínos no sistema de terminação.

O escândalo de corrupção bilionário envolvendo a JBS e o governo federal é acompanhado com preocupação. “Eles nos garantiram que está tudo bem, mas estamos apreensivos. Eu vou pagar a primeira prestação do financiamento em dezembro”, conta.

O ciclo na granja dura 120 dias. A média de peso de cada suíno é de 110 quilos, cuja rentabilidade chega a R$ 30 por cabeça, valor considerado excelente por Heid. Após o abate, o alojamento é feito em dois dias e o pagamento em um mês, sem atrasos por enquanto.

Décio está entusiasmado e pretende abandonar a produção de leite em agosto para se dedicar integralmente ao novo empreendimento. “Temos que trabalhar, caprichar, ter qualidade e cuidar da sanidade. Não podemos interferir ou mudar o cenário administrativo da empresa. Isso cabe aos diretores resolver”, comenta.

Marli demonstra angústia quanto às dívidas contraídas. O valor foi todo financiado e será pago em dez anos. “Era o sonho dos meus filhos. Rezo para que fique tudo bem. Não sei o que faríamos se a produção fosse interrompida”, diz.

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Os planos de construir mais duas estruturas no ano que vem foram prorrogados. Apesar da JBS incentivar o projeto de expandir o plantel e existirem linhas de crédito para fazer o investimento, Fernando pretende esperar o quadro se estabilizar.

Assim como a família Heid, outras centenas de produtores e mais de cinco mil colaboradores de 12 unidades do estado vivem um cenário de incertezas. A empresa arrendou as unidades da Doux Frangosul em 2012.

A preocupação aumenta à medida que avançam as investigações envolvendo os empresários Joesley e Wesley Batista e o presidente Michel Temer, aliada às quedas sucessivas das ações da JBS no mercado e o aumento do boicote aos produtos da marca. A empresa é a maior produtora de proteína animal do mundo.

Venda de ativos

Para combater a crise de confiança criada por sua delação premiada, os irmãos Joesley e Wesley Batista colocaram à venda diferentes negócios.

O objetivo é obter recursos (R$ 15 bilhões) para abater parte dos R$ 70 bilhões que as empresas devem no mercado e garantir a renovação das linhas de crédito. O endividamento total chega a R$ 47,8 bilhões, com 62% nas mãos de bancos comerciais, que exigem a venda de ativos para renovar as linhas de crédito.

Já foram comercializadas as operações de carne bovina na Argentina, Paraguai e Uruguai. Podem ser colocadas à venda fábricas que processam carne de frango na Irlanda, França, Inglaterra e Holanda; empresa de engorda de gado com unidades nos EUA e Canadá; Vigor – fabricante de produtos lácteos, Eldorado – fabricante de celulose com unidade em Três Lagoas (MG); Alpargatas (marca Havaianas); Flora – fabricante de produtos de higiene e limpeza e linhas de transmissão de energia elétrica.

Economia ameaçada

Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado, Lauro Baum, a concentração de mercado sempre foi uma ameaça. Com elevados incentivos, recursos e isenções governamentais, não oferecidos às empresas locais, trabalham exclusivamente em cima de resultados, com raros compromissos sociais. Manipulam os produtores a realizar investimentos faraônicos, na promessa de resultados milagrosos, deixando-os dependentes e, o pior, sem garantia, em caso de falência, resume.

O sindicalista reforça a importância do produtor seguir o modelo cooperativista.

Em Bom Retiro do Sul, a unidade processadora de embutidos de frangos emprega 400 pessoas. O prefeito Edmilson Busatto demonstra preocupação. “Apesar de não faturar aqui, é muito importante para a economia. É uma planta antiga, mas é rentável. Pagam bons salários. Seria um caos se fechasse. Torcemos para tudo dar certo”, diz.

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