Fruta de aparência exótica e de sabor adocicado, a pitaia ainda é uma novidade entre os produtores do Vale do Taquari. Apesar de desconhecida nos supermercados e fruteiras, o cultivo está tão promissor que os amigos Rudimar Bertinato e Adelir Gregio, de Muçum, pretendem triplicar o número de plantas no pomar.
As primeiras mudas foram cultivadas há dois anos. Hoje são mil pés das variedades branca, vermelha, roxa e amarela. A primeira e única safra até o momento rendeu cerca de 600 quilos da fruta, comercializada em média a R$ 10 o quilo.
O primeiro contato com a fruta ocorreu em uma fruteira de Santa Catarina. O alto valor agregado chamou a atenção. “Pesquisamos na internet”, lembra Adelir. Na época, adquiriram duas mudas, que renderam mais de 60 frutos. A curiosidade despertada por vizinhos e amigos, aliada ao aumento da demanda pelos benefícios à saúde, transformaram a atividade em um negócio promissor. “Se tivesse 50 toneladas, venderia tudo”, assegura Adelir.
Técnicos da Emater auxiliaram com orientações sobre adubação e análise do solo. As facilidades de cultivo e de manejo – inclusive agroecológico – podem ser um atrativo, especialmente em locais mais secos e com alta umidade do ar, como é o caso da localidade onde moram, junto à encosta do Rio Taquari. “Dificuldades mesmo, só em relação à polinização, que ocorre à noite quando a flor se abre. Em locais com poucos insetos e pequenos animais polinizadores, deve ser feita manualmente”, ensina. Depois de polonizada, a frutificação inicia em 40 dias.
Os 500 mil pés de fumo cultivados por Alaor Saldanha de Oliveira, de Rio Pardo, 57, foram substituídos pela pitaia. Preocupado com os riscos causados à saúde, buscou auxílio da Emater para diversificar a lavoura.
Num primeiro momento, apostou na criação de frango caipira – 300 animais por lote. Ao mês, são abatidas 80 cabeças (240 quilos), vendidas ao preço de R$ 12 o quilo. A pitaia surgiu para complementar a renda após desistir da fumicultura no último ciclo.
O interesse surgiu ao assistir uma reportagem na televisão com um produtor de Santa Catarina. Comprou 70 mudas, ao custo de R$ 850. O pomar foi implantado em setembro e as primeiras frutas, colhidas em fevereiro. A média por planta chegou a 20 unidades. Até 2018, projeta colher mais de cem por pé.
Com a demanda garantida, pretende ampliar o pomar. Até dezembro, estima chegar a quatro mil pés. Além dos frutos, quer se especializar na produção de mudas. “Cada planta rende 250 unidades a cada 12 meses”, observa. A muda enraizada custa R$ 20, mesmo valor cobrado pelo quilo da fruta.
Para iniciar o cultivo, recomenda solos arenosos e áreas com bastante incidência de sol. São resistentes a pragas. O controle de formigas é feito com despejo de água com vinagre sobre a planta. “Meu cultivo é orgânico”, reforça. A adubação é feita com esterco e por meio de cultivo de amendoim forrageiro, que age no controle de ervas daninhas e produção de matéria orgânica para fortalecer o solo.
Segundo o técnico em Agropecuária da Emater/RS-Ascar, João Francisco da Silva Gomes, de Rio Pardo, existem três produtores no município. Para garantir maior oferta e tornar o fruto mais conhecido, será criada uma associação. Em setembro, ocorre um seminário para esclarecer dúvidas sobre cultivo, manejo e vendas.
Gomes é cauteloso quando o assunto é cultivo. “É preciso analisar as condições do solo, as variedades, a demanda e a existência de mercado consumidor. O cultivo é para, no mínimo, 15 anos”, orienta. Por hectare, o ideal é cultivar 1,1 mil mudas. O custo chega a R$ 50 mil.
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Por ser uma fruta desconhecida e de alto valor, a maioria costuma comprar por curiosidade e dificilmente será incorporada à rotina alimentar, explica. Segundo Gomes, a produção de pitaia é uma nova modalidade de renda que ajuda a reduzir a dependência do tabaco. A rentabilidade do fruto chega a ser três vezes maior, além de não utilizar agrotóxicos.
Consuma
Rica em vitaminas A e C, a fruta pode ser consumida in natura, além de ser utilizada para produção de sorvetes, geleias, licores, caipiras e produtos cosméticos, entre outros. Exótica, é destaque em cálcio, ferro, fósforo, potássio, flavonoides (antioxidantes), fibras, vitaminas A e C e zinco, elimina radicais livres, reduz o colesterol ruim e previne o câncer.