O acesso de pedestres e veículos aos trilhos do Viaduto 13 sempre foi proibido. Mesmo assim, empresas de esportes radicais e milhares de turistas frequentam o local todos os fins de semana, em busca de aventura e contemplação. A 143 metros do chão, é um dos mais belos mirantes da região. Nesta semana, a Empresa Rumo, concessionária responsável pela malha ferroviária, construiu um obstáculo de terra e pedras para dificultar o acesso. Foi em vão.
A vala aberta pelas máquinas e o amontoado de pedras e terra vermelha foram colocados lá na segunda-feira. Ontem, já haviam pelo menos três pequenas novas trilhas entre a estrada de chão e o entroncamento entre o túnel e o viaduto de número 13, o famoso “V-13”. Sinal de que turistas desrespeitaram a “cancela” improvisada.
Da saída do túnel até o início do viaduto, são cerca de 10 metros de trilhos. Só naquele espaço, duas placas pretas – uma delas bastante desgastada – anunciam em letras amarelas: “Área de Tráfego Ferroviário. É expressamente proibido o trânsito de pessoas, veículos e equipamentos”. Essa é, aliás, uma recomendação fixa para toda e qualquer malha viária do país.
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Mesmo com os avisos, governo municipal, Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales) e pelo menos duas agências de esportes radicais anunciam eventos sobre terreno proibido. Nesta semana, o excesso de pessoas e os recorrentes abusos – muitos trafegam de moto sobre os trilhos do viaduto – geraram novas reclamações por parte da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a empresa Rumo.
Inaugurado em 1979 pelo Exército, o Viaduto 13 é o mais alto da América Latina. Tem 143 metros de altura, e 509 de extensão. Práticas de base-jump e rappel atraem esportistas
A recomendação ocorreu, também, em função de série de reportagens sobre esportes radicais praticados no local, segundo confirma o prefeito de Vespasiano Corrêa, Marcelo Portaluppi. Ele informa que na segunda-feira à tarde equipes estiveram no local para a construção de barreiras para os turistas. A ANTT e a empresa reclamam da insegurança gerada pela presença de pessoas, assim como atrasos na logística dos transportes.
O Viaduto 13, um dos maiores do mundo com 143 metros de altura e 509 de extensão, é um dos principais pontos turísticos do Vale do Taquari, e o mais visitado de Vespasiano Corrêa. Portaluppi garante que buscará a liberação do acesso.
“Já estamos preparando ofício para ser encaminhado para a empresa. Mas, mesmo com essa dificuldade de acessar pela entrada principal, não vejo como impedir o acesso de turistas. São muitos, e por diversos municípios”, afirma o prefeito, reiterando a importância do ponto turístico para o município e a região.
No local, além de base-jump e rappel, é comum a prática de trekking e acampamentos. Segundo o prefeito, duas pessoas estariam fazendo a guarda do local durante a noite dessa segunda-feira, para evitar a entrada de turistas. “Acho que isso será temporário”, reforça. Ontem à tarde não havia ninguém no principal ponto de acesso, onde a barreira foi instalada.
“Tomar as medidas cabíveis”, avisa a Rumo
Questionada sobre a construção da barreira no acesso ao viaduto, a empresa Rumo reitera o que consta nas placas próximas ao túnel e o V-13. Cita, em nota, que “é proibida a circulação de pessoas e veículos não autorizados, bem como a prática de esportes radicais no viaduto ferroviário denominado ‘Viaduto 13’, em Vespasiano Corrêa/RS.”
A concessionária responsável pela malha também esclarece que “já notificou as empresas que promovem tal prática, a fim de resguardar a segurança de todos.” segundo a Rumo, o local é área operacional, “destinado exclusivamente ao transporte de cargas e não deve ser utilizado sem autorização da Rumo e da ANTT.” Por fim, avisa que “caso a área seja utilizada irregularmente, a companhia tomará as medidas cabíveis.”
Placas deterioradas provam que a proibição do acesso é antiga, porém, nunca foi respeitada
A reportagem também questiona os índices de acidente. Entretanto, a empresa não soube precisar dados. Não há registro de mortes de turistas no local. Um dos poucos acidentes que se tem notícia aconteceu com um praticante de base-jump, cujo paraquedas ficou preso em uma viga de ferro, no mais alto pilar do viaduto. Ele foi socorrido por meio de rapel e não sofreu ferimentos.
Sobre a periodicidade dos trens que passam sobre o viaduto, a Rumo não soube precisar os horários e dias. Cita que como “isso depende de operações de carga e descarga, não há horário determinado para passagens de trens.”
“Nunca agimos de má-fé”
Proprietária de uma empresa de esportes de aventura, Mairi Dagnara lamenta a decisão da empresa de tentar impedir os acessos ao viaduto. Segundo ela, as atividades já são realizadas naquele local faz mais de 18 anos. “Nunca fomos notificados por ninguém. Fizemos aquilo que todos fazem, com a diferença que nós limpamos sempre o local e tentamos conscientizar os visitantes”, afirma.
Ela diz que a maioria sabe da proibição, mas que tanto a administração municipal como a própria Amturvales anunciam o ponto turístico. “Participei de cursos de turismo onde citavam e divulgavam o V-13 como um ponto de visitação. Nunca agimos de má-fé ao trazer pessoas para cá. Sempre priorizamos a segurança e o cuidado com a natureza”, reitera.
Apesar de questionar a necessidade de proibir todos os acessos, ela faz um alerta para os órgãos fiscalizadores. “Faz muito tempo que há excesso de pessoas visitando o local. Fazem muita sujeira, andam de moto sobre os trilhos, e não respeitam a natureza. Talvez, se os responsáveis tivessem evitado que chegasse a tal ponto, não seria necessário tomar essa decisão mais dura” lamenta.
“Vamos buscar uma solução”
Junto com o prefeito, o presidente da Amturvales, Rafael Fontana, já encaminhou um ofício para a empresa Rumo. A intenção é chegar a um acordo que permita o acesso e a prática de esportes sobre o viaduto. Para tal, sugere que sejam acordados horários pré-estabelecidos com a concessionária, para evitar riscos aos turistas e problemas para as locomotivas.
“Fomos pegos de surpresa. Mas o local é um patrimônio nacional. Vamos trabalhar para que as pessoas tenham acesso seguro. Mas é a empresa que autoriza. Assim como estamos negociando o trem turístico na Ferrovia do Trigo”, diz, reiterando que as visitações ao local seguem liberadas sob o V-13, onde existe uma cascata e um pequeno bar. Só o acesso aos trilhos e túneis é proibido.
Opinião dos internautas
“Que se sinalize a área sobre os riscos, e que o desrespeito fique por conta e risco de quem o fizer, se coloque obstáculos para qualquer tipo de veículos e se cobre responsabilidade de eventuais danos físicos e ambientais de quem explora economicamente as respectivas áreas e/ou eventos. E que, em caso de eventuais acidentes, a Justiça penalize exemplarmente quem desrespeita as regras ou legislação.” – Sérgio Luis Hepp
“A última vez que estive lá foi em outubro, e nesse dia haviam tantas pessoas fazendo de tudo: fotos de pré-casamento, noiva no rapel, rating, caminhadas nos trilhos acompanhadas por carretinha com rodas de trem, e para completar um bêbado ameaçando pular com uma lata de cerveja na mão em cima do alambrado. Então, isso tudo indica que saiu do controle ou o sem controle ficou perigoso. Desejo que encontrem uma solução viável para todos.” – Isolete Krein
“Há várias maneiras de chegar lá, se fechar essa entrada, haverá muitas outras. Achem outra solução. Lugar maravilhoso.” –
Márcio Gds
“Isso já é um ponto turístico. Só pode que não estão ganhando em cima, daí querem barrar.” – Tiago Martins
