Concessão postergada frente à instabilidade política

Editorial

Concessão postergada frente à instabilidade política

Depois do edital para privatização das rodovias federais ser apresentado com o fervor de uma necessidade iminente, o governo recua. A urgência perdeu força. Mais pela crise política do que pela resposta negativa das comunidades à proposta da ANTT. O…

Depois do edital para privatização das rodovias federais ser apresentado com o fervor de uma necessidade iminente, o governo recua. A urgência perdeu força. Mais pela crise política do que pela resposta negativa das comunidades à proposta da ANTT. O fato é que a abertura da licitação não tem data prevista para ser lançada.
As circunstâncias se tornam favoráveis à comunidade local. Nas audiências públicas realizadas entre março e abril, uma das reclamações mais latentes era a necessidade de mais tempo para análise da proposta e para apresentação de outras demandas. Ao que parece, as denúncias contra o presidente da República resultaram em uma parada estratégica no andamento da volta dos pedágios na BR-386.
Para contrapor a impopularidade histórica, o presidente Michel Temer tende a incorporar o projeto de concessão da rodovia ao Programa Avançar. Um substituto ao PAC do governo petista. Nesse pacote, que deve ser apresentado após o chefe do Executivo nacional retornar de viagem à Rússia, estão previstos investimentos de R$ 59 bilhões até o fim de 2018.
Pelas informações prévias, abordadas durante a Marcha dos Prefeitos, o projeto da União é destinar cerca de R$ 22 bi para a área de transportes, com melhorias em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Os aportes do Avançar englobam outros três eixos: R$ 15,7 bilhões para habitação, saneamento básico e mobilidade urbana; R$ 13,5 bilhões para defesa; e R$ 7,4 bilhões para saúde, educação, recursos hídricos, cultura, turismo e esporte.
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A estratégia do governo federal de mostrar à opinião pública uma agenda positiva não reduz o quadro de ingovernabilidade. As delações da JBS pesam sobre Temer e tornam a relação com aliados cada vez mais difícil. Acreditar que uma nova promessa de obras estruturantes é capaz de reverter a insatisfação da sociedade é no mínimo ingenuidade.
Em meio a uma das maiores crises políticas da história, o presidente usa artifícios ultrapassados com propósito de condicionar a imprensa. Por mais que o país precise urgentemente de investimentos na infraestrutura viária, mais uma sinalização do governo não resulta em volta da credibilidade. A meta do presidente é chegar no fim do mandato. Aos trancos. Sobreviver às denúncias. Hoje, o plano de concessão das rodovias federais tem prioridade zero. Na melhor das hipóteses, o edital será lançado em janeiro. Para virar fato, depende de uma série de desdobramentos. Desde a continuidade do governo Temer, até a análise do Tribunal de Contas da União frente ao texto do edital de privatização. O incerto é aquilo que se tem de mais certo sobre a volta dos pedágios.

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