Importação de leite do Uruguai recria instabilidade no setor

Vale do Taquari

Importação de leite do Uruguai recria instabilidade no setor

Líderes querem reunião com o governador para expor dificuldade

Importação de leite do Uruguai recria instabilidade no setor
Vale do Taquari
oktober-2024

O ingresso de leite em pó do Uruguai desregula o setor primário do RS. Algumas indústrias já reduziram em R$ 0,05 o valor pago pelo produto in natura. Caso o ressarcimento aos agricultores fique abaixo dos R$ 1,29, não se cobre nem o custo de produção, alerta a presidente do Codevat, Cintia Agostini.

“Estamos muito preocupados com isso. As condições que trouxeram crise para o setor lácteo no ano passado estão se repetindo agora”, alerta. No primeiro semestre de 2017, a redução no pagamento do preço por litro de leite ao produtor alcançou R$ 0,40.

O motivo central para esse descompasso é a redução de 18% para 4% no ICMS de itens importados do Uruguai, frisa Cintia. “Estamos falando de milhares de famílias gaúchas atingidas por essa política do Estado.”

Para tentar solucionar o impasse, instituições regionais pretendem agendar uma reunião com o governador José Ivo Sartori. Para levar dados concretos, uma série de repartições organizam dados sobre o impacto na cadeia produtiva, frisa a presidente do Codevat.

A partir de informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, três grupos industriais lideram as importações. Na avaliação de líderes regionais, a continuidade dessa situação provocará uma exclusão maciça de produtores, quebra de empresas gaúchas. “Isso significa prejuízos econômicos e sociais decorrentes desta política”, frisa Cintia.

“Estamos próximos de uma nova crise”

O secretário de Agricultura de Estrela, José Adão Braun, teme a volta do cenário visto em 2016. “Estamos próximos de uma nova crise. Não há quem aguente tanto revés em um período tão curto de tempo.”

Estrela é a cidade com maior produtividade na região. Por ano, 410 famílias entregam à indústria 43 milhões de litros de leite. Já o Vale do Taquari representa 8% da produção no RS. Equivale a um milhão de litros por dia.

Na avaliação dele, é preciso verificar a condição dos produtores. Muitos fizeram financiamentos para atender as exigências de sanidade das indústrias e agora enfrentam dificuldades para quitar os débitos, afirma. “Temos de levar essa inquietação ao governador. Baixar o imposto e prejudicar a produção interna é inconcebível.”

Dúvidas sobre a qualidade

O leite em pó vindo do Uruguai é diluído pelas indústrias junto ao in natura. No ano passado, 25 toneladas do produto entraram no RS. Com esse montante, foram produzidos mais de 431 milhões de litros.

Em 2017, a entrada ultrapassa a marca de 14 mil toneladas, equivalente a mais de 130 milhões de litros de leite fluído. Para o secretário de Estrela, esse formato de beneficiamento levanta dúvidas sobre a qualidade do produto. “Não sabemos a procedência desse produto, a qualidade, o modelo de beneficiamento.”

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Relembre

Em dezembro do ano passado, uma audiência pública em Porto Alegre debateu as dificuldades enfrentadas pelos produtores de leite do RS. Na ocasião, foi solicitado ao secretário estadual de Agricultura, Ernani Polo, medidas efetivas para garantir o sustento das famílias atuantes no setor.

Particularidades da cadeia

•95% da produção deriva da agricultura familiar;

• Produção diária no RS alcança 12,5 mi de litros. É a 2ª bacia do país, perde apenas para Minas Gerais;

• Atividade presente em 467 (94%) dos municípios do RS;

• Equivale a 9,3% do PIB gaúcho.

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