A peça Pois é, Vizinha é daquelas em que, diante da temática, o público ri para não chorar. A personagem Maria, interpretada pela atriz Deborah Finocchiaro, é um acúmulo de dores e amores, muitas vezes típicos das mulheres vítimas de violência. Mesmo sendo agredida física e emocionalmente pelo marido possessivo, a personagem se sente na obrigação de ser grata por ter todos os eletrodomésticos necessários para manter a casa limpa, como se a vida se reduzisse a manter o chão liso ao ponto de “patinar”.
Maria finge que está tudo bem em estar trancada em casa há mais de um mês e em submeter aos abusos sexuais do cunhado doente, a quem ela serve também como cuidadora permanente.
Mesmo enjaulada no próprio lar, ela não consegue se livrar do assédio de alguém que lhe telefona todos os dias e de um vizinho que a espia com binóculos.
Aventuras amorosas com um rapaz 18 anos mais jovem e tentativas de suicídio fecham a conta de uma vida da mãe e esposa que acumula sofrimentos e vive picos de euforia e histeria.
Inevitável que o público não encontrasse na personagem traços de uma conhecida ou familiar.
Em determinado momento, do meio da plateia que ocupava o Teatro da Univates na noite de quinta-feira, 8, foi possível ouvir: “ela parece a Margarete”. Todos riram.
Mais tarde, uma espectadora comentou. “Tu ri e depois pensa: ‘por que estou rindo disso? É errado’”.
Estudantes de Venâncio Aires se surpreenderam com a temática da peça
Plateia jovem
Se um dos desafios das artes é atrair o público jovem, a equipe da peça Pois é, Vizinha sai de Lajeado com pelo menos uma vitória. Entre o público que ocupou o Teatro da Univates, chamava a atenção um grupo de alunos ainda vestidos com uniforme escolar. Eram integrantes de duas turmas de 9º ano do Colégio Gaspar, de Venâncio Aires. Conforme os alunos, a atividade teatral faz parte da grade curricular do 6o ao 8o ano. Além disso, a escola tem um grupo de teatro de participação opcional.
Ao fim da peça, os adolescentes, de 13 a 14 anos, se reuniram ao redor da atriz Deborah Finocchiaro para debater a temática e falar sobre artes cênicas. A estudante Amanda Ribeiro de Oliveira se mostrou impressionada com o espetáculo. “Foi incrível! Uma coisa tão complexa e tão irônica, e ela (Deborah) passou uma energia muito grande”. A protagonista retribuiu ao jovens contando alguns fatos da carreira.
“Excedeu minhas expectativas de uma forma que tu não tem ideia!”, comentou outra aluna, enquanto Deborah se despedia do grupo.
