Mais de 50 famílias foram retiradas de casa

Vale do Taquari - Segunda enchente no ano

Mais de 50 famílias foram retiradas de casa

Dez dias após enfrentar a primeira enchente do ano, o Vale sofre com uma nova cheia. Só entre a madrugada e a tarde de ontem, o Rio Taquari havia subido mais de dez metros no Porto de Estrela até as 17h. Alta que obrigou mais de 50 famílias a deixarem as casas em Arroio do Meio, Estrela e Lajeado. Ruas ficaram interditadas em Marques de Souza, Travesseiro, Mato Leitão, Colinas e Forquetinha. Em Westfália e Boqueirão do Leão, os problemas foram os desmoronamentos

Mais de 50 famílias foram retiradas de casa
Vale do Taquari
oktober-2024

Resultado do solo encharcado, somado a chuvas da semana, os alagamentos registrados ontem prejudicaram centenas de pessoas e causaram prejuízos em municípios. Conforme o Núcleo de Informações Hidrometeriológicas (NIH) da Univates, em menos de 24 horas – da tarde de quarta-feira à quinta-feira – foram 90mm de chuva na região. Nesta sexta-feira, o Rio Taquari pode chegar a 25 metros no Porto de Estrela.

A medida apresentada pelo NIH representa mais da metade do que seria o normal para todo o mês de junho. “Tínhamos uma previsão de que choveria muito, tanto aqui, quanto nas cabeceiras. O que nos surpreendeu foi a rapidez com que o rio subiu”, afirmou o coordenador da Defesa Civil de Lajeado, Heitor Hoppe.

O município foi o primeiro a iniciar a remoção dos moradores das áreas de risco. Entre o fim da manhã e a tarde de ontem, 20 famílias foram levadas para o Centro Esportivo Municipal, no São Cristóvão. Conforme subia o rio, outras 20 foram retiradas, e encaminhadas ao ginásio do bairro Montanha.

A maioria delas é moradora das ruas Borges de Medeiros, Francisco Oscar Karnal, Carlos Spohr Filho, no São José; e da Dois Irmãos, no bairro Conservas.

Na região central de Lajeado, mais de 20 famílias precisaram sair de casa. Alguns moradores decidiram permanecer, como no “Cantão”

Na região central de Lajeado, mais de 20 famílias precisaram sair de casa. Alguns moradores decidiram permanecer, como no “Cantão”

Muitos moradores, porém, insistiram em permanecer nas casas. É o caso dos catadores de papelão e material reciclável, Tiago dos Santos e Vanderlei da Silva. Por volta das 16h de ontem, eles ainda estavam dentro de uma casa de madeira próxima da esquina entre as ruas Francisco Oscar Karnal e a Carlos Spohr Filho, na região conhecida como “Cantão do Sapo”.

“Depois a gente vai sair nadando mesmo. Não dá nada”, diz Silva, levando quase na brincadeira toda a situação. Ainda sobre uma cerca mal instalada ao lado, duas galinhas se equilibravam para não cair na água.

Segundo Hoppe, mais famílias ainda podem ser levadas para o pavilhão quatro do Parque do Imigrante. “Está diminuindo a intensidade do rio. Isso nos dá uma certa tranquilidade. A tendência é estabilizar, chegar até os 25 metros”, informava ele, por volta das 16h30min de ontem.

Naquele momento, em Encantado, o Taquari subia 11 centímetros por hora, e em Estrela 25. Bem menos do que pela manhã, quando o nível chegou a aumentar 94 centímetros em menos de 60 minutos.


O pescador Ari Noll, 61, já perdeu a conta de quantas enchentes enfrentou em 30 anos

O pescador Ari Noll, 61, já perdeu a conta de quantas enchentes enfrentou em 30 anos

11 famílias removidas em Arroio do Meio

Até o fim da tarde de ontem, seis famílias haviam sido abrigadas no salão do Glória, três foram para casas de familiares e outras duas para a antiga Escola São Paulo. No município, ficaram interrompidas as ruas Dom Pedro II, São José, a estrada geral de Forqueta Baixa, em dois pontos; a VRS- 811 que liga Forqueta ao centro; a estrada geral da cascalheira; e a rua Maurício Cardoso, que liga a Lajeado pela Ponte de Ferro.

Por volta das 17h, no bairro Navegantes, o pescador Ari Noll, 61, que mora às margens do Rio Taquari, se preparava para arrumar móveis e demais utensílios domésticos. Temia a chegada da água. Um vizinho, que mora um pouco mais próximo ao leito, já havia deixado a residência que, naquele momento, estava parcialmente submersa.

“Moro aqui faz 32 anos e já peguei mais de uma dezena de enchentes. Esta noite vou ficar por aqui, ajeitando as coisas devagarinho. Se o nível do rio chegar a 26 metros, vou ter que sair. Mas já estamos acostumados”, afirma. Já um familiar, que prefere não se identificar, pede apoio do governo municipal para deixar a área de risco.

Jandira Santarém mora faz 30 anos a poucos metros da casa do pescador. Quando a cheia é alta, só parte da garagem é atingida. O restante da casa foi reconstruída cerca de um metro e meio mais alta. “Não dormi nesta noite. Quando o céu está despejando água desta forma, boa coisa não vem. Queria comprar uma casa em outro lugar. Pois mesmo que não venha água, a gente fica nervosa.”

Devido aos estragos causados pelas chuvas da semana passada em 150 quilômetros de estradas e também em várias pontes, o Executivo decretou situação de emergência. Segundo o coordenador da Defesa Civil, Paulo Heck, são R$ 2 milhões em prejuízos. Cerca de R$ 800 mil só para a reconstrução de uma ponte na rua São José. Também houve estragos nas lavouras.


Famílias residentes nos bairros Imigrantes, Oriental e Moinhos precisaram sair de casa

Famílias residentes nos bairros Imigrantes, Oriental e Moinhos precisaram sair de casa

Atuação da DC em Estrela

Na princesa do Vale, o trabalho de retirada das pessoas que vivem em áreas de risco iniciou após o meio-dia. Mais de 20 famílias residentes nos bairros Imigrantes, Oriental e Moinhos foram abrigadas no ginásio da Escola Municipal de Ensino Fundamental Odilo Afonso Thomé. Até o fim da tarde de ontem, ainda haviam pontos de interdição por alagamento em mais de dez vias.

Um desses, já com menor intensidade, era na divisa entre os bairros Oriental e Marmitt. Na rua São Roque, Roberto da Silva, que mora faz três anos no porão de uma casa de dois pisos, mostrava preocupação com o nível do rio. “Se chegar a 24 metros, vai inundar de novo minha casa. Agora está em 21 e pouco”, calculava. “Se continuar chovendo, não tem mais para onde essa água fugir.”

Próximo dali, na esquina entre as ruas São Roque e Egon Diedrich, mora José Carlos Marmitt, que vive no bairro faz mais de 40 anos. Ele parece mais tranquilo. “Aqui na minha casa, só chega água se o rio passar dos 26 metros. É muita água”, comenta. Naquele momento, a passagem de carro, mesmo que arriscada, já era possível.

Na cidade, ficaram parcialmente bloqueadas as ruas Albino Francisco Horn; Estrada Municipal da Cascata; Travessa Muller; Estrada Nicolau T Hoss; Rua João Lino Braun; Rua Mathias Petter Sobrinho; Estrada da Divisa; Rua Pedro Balduíno Finck; Rua Olinda Mallmann; Estrada Municipal Antônio Barth (RS129); rua Arnaldo J Diel; e rua Princesa Isabel, no bairro Imigrantes.


Em Encantado, lixo pode ser visto boiando. Resíduos vieram de um depósito na rua Panambi

Em Encantado, lixo pode ser visto boiando. Resíduos vieram de um depósito na rua Panambi

Defesa Civil atenta em Encantado e Roca Sales

As equipes acompanham o nível do Rio Taquari. Nenhuma família precisou ser retirada. Entretanto, algumas vias foram trancadas. Em Roca Sales, a rua Júlio de Castilhos, próximo do viaduto, foi interrompida. Nas linhas 21 de abril, Pôr do Sol, Constância e Júlio de Castilhos alguns trechos ficaram alagados.

Em Encantado, parte do Parque Multiesportivo foi invadido. O campo do Ouro Verde ficou parcialmente submerso. Na linha Pinheirinho, a estrada velha ficou trancada, assim como duas ruas na Barra do Jacaré: a Zeferino Demétrio Costi e a Panambi, além da estrada Equador, no Loteamento Lago Azul.

Na Barra do Jacaré, moradores reclamam de um suposto aterro que virou lixão. No local, situado na Rua Panambi, plásticos, isopor e outros materiais são colocados em uma área. “Só queremos que resolvam isso. Fica o alerta para as autoridades, pois além de contaminar o ambiente”, diz o morador Sérgio Luiz Cornelli, 64.

Segundo ele os vizinhos reclamam muito da quantidade de ratos que surgiram após o início da colocação dos entulhos na área. Além disso, nos finais de semana há carroceiros que recolhem materiais no local. Cornelli salienta que os moradores não são contra a realização do aterro, mas não querem que virem um lixão e um criador de animais peçonhentos.


Próximo à Vila Stork, no acesso a Forquetinha, água interrompeu o trânsito

Próximo à Vila Stork, no acesso a Forquetinha, água interrompeu o trânsito

Forquetinha e Colinas ilhadas

Nenhuma família precisou ser retirada de casa nos dois municípios. Porém, em Forquetinha, os acessos principais à cidade foram bloqueados. Na ERS-421, no ponto conhecido como a várzea, a água baixou na metade da tarde, enquanto o acesso à Vila Storck continuava fechado. Sérgio Gall, que mora próximo ao pórtico, foi até o local visualizar os estragos.

“Vim só para olhar mesmo e orientar alguns motoristas que param. Muitos não conhecem outros caminhos.” Já em Colinas, dois acessos à cidade ficaram interrompidos no fim da tarde. Além do acesso principal, pela ERS-129, a entrada por Linha Roncador também ficou fechada pelo transbordo de arroios.


Na “Cidade D'Água”, em Marques de Souza, água impediu famílias de voltar para casa

Na “Cidade D’Água”, em Marques de Souza, água impediu famílias de voltar para casa

Marques de Souza, Travesseiro e Mato Leitão

Em Marques de Souza, diversas estradas foram bloqueadas. Com a baixa do nível do Rio Forqueta, só o acesso a Bela Vista do Fão e Linha Atalho permanecia bloqueado à tarde. Lá, Márcia Gross aguardava a liberação da estrada para voltar para casa. Junto dela, os dois filhos que ela havia buscado cerca de três horas antes na escola Carlos Gomes.

Em Travesseiro, a situação também foi pior no interior. Houve interdição em vias de Três Saltos Baixo, Felipe Essig e Linha Cairu. Em Mato Leitão, quatro pontos ficaram interditados pela manhã. À tarde, só o acesso à Linha Conceição, na divisa com Cruzeiro do Sul e Venâncio Aires, seguia fechado. O município decretou situação de emergência.

Só no setor primário, os prejuízos superaram R$ 1,7 milhão. Na segunda-feira, 12, o prefeito Carlos Bohn participa de reunião na Famurs.


Boqueirão do Leão. Chuva provocou série de estragos e prejuízos em estradas do interior

Boqueirão do Leão. Chuva provocou série de estragos e prejuízos em estradas do interior

Desmoronamentos em Westfália e Boqueirão

Os Bombeiros Voluntários de Teutônia passaram o dia em atendimento a desmoronamentos em dois pontos da Rota do Sol, em Westfália. O primeiro ocorreu por volta da 1h da madrugada, no km 62. Além das rochas e terra, um pinheiro caiu sobre a estrada, interrompendo a passagem entre às 2h e 5h. Até as 10h, o trânsito ficou em meia pista.

O trabalho foi finalizado às 11h30min, porém, uma hora e meia depois, houve novo desmoronamento e queda de árvore. Até o fim da tarde, os bombeiros continuavam no local. Uma casa, no bairro Canabarro, Teutônia, também ficou alagada. Outras árvores caíram em Linha Harmonia, devido ao vento da madrugada.

Em Boqueirão do Leão, estradas ficaram bloqueadas por deslizamentos em diversos pontos. O acesso aos municípios de Sinimbu e Gramado Xavier via Sinimbuzinho ficou interditado desde a madrugada de ontem devido ao alagamento. Em Passo de Pedras Brancas, o deslizamento de terra provocou o bloqueio da estrada de acesso a Canudos do Vale.

Conforme o coordenador da Defesa Civil do município, Leandro Peterson, as aulas foram suspensas, pois não há condições de transporte em segurança. Na semana passada, o município decretou situação de emergência, quando já acumulavam prejuízos acima de R$ 400 mil.

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