A sala é o espaço aberto do Parque do Imigrante, o sofá é substituído pelos assentos do carro e o carpete dá lugar a uma espessa camada de barro. Com a combinação do frio e chuva, pode deixar de ser o cenário ideal para assistir a um filme em família. Porém, o público de 140 veículos que compareceu ao Cine Autorama nessa terça-feira à noite, 7, provou que o chuvisqueiro é apenas um detalhe diante da possibilidade de experimentar o cinema no estilo drive-in.
Até mesmo os títulos escolhidos para a mostra local ironizam a relação temporal: De Volta para o Futuro (1985) e O Homem do Futuro (2011) foram exibidos na terça e na quarta, respectivamente. Em cada edição, o longa principal é acompanhado de curtas: Nada Consta (2007) e Recife Frio (2009).
Assim como ocorria nos anos 1940 e 1950 nos EUA – país de origem desse modelo de exibição – a maior parte do público lajeadense era formada por casais. Abastecidos com refrigerante e salgadinhos, o mecânico Lucian Floriano Riboldi, 29, e a secretária Cláudia Dullius, 34, trocaram a programação da Netflix e as novelas do horário nobre pela experiência. Vindo de Porto Alegre e morando faz seis meses no bairro São Cristóvão, o casal elogiou a iniciativa e já se programava também para a sessão do dia seguinte. “Já assisti De Volta para o Futuro, mas é uma forma diferente de ver o filme”, comenta Cláudia.
A advogada Cíntia Helena Agostini, 35, se empolgou com a proposta logo de início, mas precisou insistir para que o namorado, o empresário Henrique Manica, 36, se animasse a sair de casa mesmo com a chuva. “Fiquei meio ‘assim’ no início, por causa do tempo, mas me surpreendi positivamente”, avalia ele.
O áudio do filme pôde ser ouvido por meio do rádio do carrou ou celular. Além disso, os organizadores disponibilizaram caixinhas portáteis para quem necessitasse.
Público superou expectativa
Segundo a produtora cultural do Cine Autorama, Luciana Pereira, o público superou a expectativa: eram esperados 120 veículos, sendo que o máximo registrado chegou a 140 carros e, desses, 130 ficaram até o fim do filme. Já pensando nessas situações, todo o trajeto era organizado a fim de formar ruas entre as fileiras de veículos, para que fosse possível manobrar sem atrapalhar os vizinhos. De acordo com ela, em geral, quem saiu antes do fim eram famílias com crianças menores. “O tempo não atrapalhou muito. Essa é a vantagem de poder ver o filme dentro do carro. Ligando o parabrisa, tudo se resolve”, diz. Cada carro tinha entre dois e quatro passageiros, totalizando cerca de 350 pessoas.
Ainda não há um levantamento oficial das avaliações preenchidas pelos espectadores, mas, pelos comentários na saída do evento, Luciana acredita que a receptividade foi boa. A produtora cultural considera a cidade apta para novas edições, inclusive de um projeto similar, o Cine Solar – cinema itinerante que projeta filmes com o uso da energia solar. Uma boa opção para quem foge da chuva.
