Em pleno século 21 ainda existem pessoas que acham que tatuagem só deve ser feita na juventude. Na contramão desse pensamento arcaico, estão exemplos de pessoas maduras que moram no Vale do Taquari e não estão nem aí para a opinião dos outros quando o assunto é marcar o próprio corpo.
A juventude é, de fato, um período para experimentos. Desenhar na pele algo definitivo em épocas passadas era sinônimo de transgressão.
Hoje a prática da tatoo está muito mais para estilo de vida e empoderamento do próprio corpo do que outra coisa. Os “enta” da região podem ter passado pela juventude, mas mantêm o espírito jovem, com a ideia de inovação bem viva.
Tatuagem pode e deve ser feita quando a pessoa bem entender, sem dificultadores como a idade. Pensar bem antes de partir para as agulhas com tinta é recomendado, mas sem prazo de faixa hetária.
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O tatuador Mario Antônio Brito de Azambuja, 34, que atende em um estúdio em Lajeado, conta que o movimento de pessoas mais velhas procurando por tatuagens é nítido.
Ele tatua faz cerca de 15 anos e afirma que de uns cinco anos pra cá o público dos “enta” está bastante envolvido com a arte dos desenhos. “Tem muita gente que vai levando, tem medo, e depois dos 40 toma coragem e faz”, afirma.
Sobre cuidados especiais para as peles mais velhas, Azambuja é categórico. “Não há cuidados específicos. Higiene é fundamental e pomada cicatrizante também, como em qualquer idade”, sentencia. Ele lembra que a pessoa mais velha que já tatuou deveria ter seus 65 anos.
Quem sabe de tudo isso e resolveu se jogar no mundo das tatuagens depois dos 40 anos foi a auxiliar de Enfermagem Lúcia Oliveira Azevedo, 51. Ela mora no Alto do Parque e tem seis tatuagens. Quatro foram feitas depois dos “enta”.
Quando tinha 14 anos, Vera teve o primeiro contato com a tatuagem, mas de forma bem rudimentar. Ela morava no interior de Triunfo e, naquela época, os desenhos eram feitos com agulhas e nanquin, em casa mesmo, escondida dos pais. Foi nesse tempo que Vera escreveu a letra “S”, inicial do guri por quem era apaixonada. Resultado: casou-se com o inspirador da tatoo e está prestes a completar 32 anos de vida ao lado dele.
As outras tatuagens vieram de forma mais madura, em um estúdio, feitas por profissionais. Aos 42 anos, tatuou a palavra paixão, que simboliza o sentimento que ela coloca em tudo que se propõe a fazer. Dois anos depois, decidiu fazer mais uma. São borboletas e flores acima do cóccix. “O inseto simboliza fases, movimento, a mulher é isso, principalmente depois dos 40”, sugere Vera. Há cerca de um ano, ela completou a coleção e fez as palavras love e me, uma em cada pulso.
Vera acredita que a tatuagem, hoje, não é vista com preconceito como antigamente. Afirma que a família tem orgulho dos desenhos em seu corpo. A próxima arte na pele será uma pimenta no pescoço e o símbolo de infinito, junto das palavras pai e mãe, no braço.
Marcelo Petter é radialista na Univates e tem três tatoos, todas feitas depois dos 40 anos. A mais recente é o nome Pedrinho com asas de anjo, no braço esquerdo, em homenagem a um sobrinho que morreu em 2016. “Essa tatuagem representa a alegria e o agradecimento por ter podido compartilhar o pouco tempo dele por aqui”, complementa.
As outras duas fez com 45 anos, em Estrela. Uma é um símbolo do festival Woodstock, no pulso esquerdo, e a outra um trecho de uma música dos Beatles, no braço direito. Ele conta que não fez tatoo na adolescência porque, apesar de vontade, faltava coragem. “Claro que o medo de agulha apavora, mas chega uma hora na vida que dá um estalo, uma vontade de se desafiar, de perder o medo é até mesmo a vergonha de se expor”, conta. Foi esse o sentimento norteador que o levou até o estúdio de tatuagem.
Petter conta que seus desenhos têm muito a ver com ele, traduzem seu modo de pensar e refletem a esperança de que o mundo pode ser melhor. “O amor, que todos precisam, a música, os ideais de paz e a música de Woodstock. Acabou ficando tudo ligado”, reflete. Para ele, seus desenhos são partes de sua alma registrada na pele, e a arte servirá para reforçar, com o passar dos anos, quem ele de fato é.