O avanço do empreendedorismo jovem em um cenário de dificuldades econômicas foi evidenciado em pesquisa que desvenda o perfil dos empresários gaúchos. Realizado pela PUCRS em parceria com GeraçãoE, Sebrae/RS e Fajers, o estudo mostra que 76% dos jovens do RS tem a intenção de abrir um negócio próprio.
Vice-presidente jovem da CDL Lajeado, Carlos Oliveira, entidade percebe um crescimento do interesse de pessoas com menos de 29 anos no empreendedorismo. Ele acredita que o DNA empreendedor da região e a grande oferta de informações na área de gestão estimulam esse movimento.
“Temos aqui o exemplo de empreendedorismo dos nossos pais e avós, com vários deles ainda ativos”, afirma. Segundo Oliveira a própria criação da CDL Jovem é um reflexo dessa realidade regional.
“A entidade identificou o avanço dos jovens nas empresas de varejo, seja como sucessores nos negócios familiares ou como iniciantes e donos do próprio empreendimento”, ressalta. Segundo ele, a região possui diversos exemplos de jovens que se tornaram empresários de sucesso, o que incentiva novas iniciativas.
Proprietário de uma empresa de chapeação e pintura, Alexandre Schendler, 26 assumiu o negócio aberto por seu pai aos 18 anos. “Eu já trabalhava na firma e com o tempo meu pai acabou se ausentando, devido a idade. Foi quando me tornei responsável pela empresa.”
Segundo ele, mesmo já sendo conhecido dos clientes, os primeiros tempos à frente do negócio foram de dificuldade. “Meu pai cuidava da parte de orçamento e administração. Até eu pegar o jeito e conquistar a confiança dos clientes levou tempo.”
Schendler passou a estudar noções de administração e buscar aprimoramentos voltados para o segmento, como novas técnicas, ferramentas e materiais capazes de melhorar o produto final. “Temos que sempre evoluir, principalmente devido ao avanço da tecnologia.”
A juventude do empresário também trouxe novos elementos ao negócio. Ele criou novas ferramentas de divulgação e relacionamento com os clientes por meio das redes sociais, entre outras iniciativas, como patrocínios e brindes.
Conforme Schendler, nada disso teria funcionado, não fosse a persistência. Lembra que a empresa passou por dificuldades no auge da crise, mas ressalta a resiliência para superar o momento. “Quem se esforçar e se dedicar realmente, mantendo a cabeça erguida, sempre vai conseguir.”
Para Carlos Oliveira, a informação é um dos pontos mais importantes para o sucesso do empreendedorismo. Segundo ele, a formação de uma boa rede de contatos, relacionamento e um perfil de profissional destemido e disposto a enfrentar os desafios inerentes à rotina também são fundamentais.
Nesse sentido, ressalta o papel do CDL Jovem em promover a integração e a troca de informações entre os diferentes empreendedores. Também relata a realização de jornadas de qualificação que visam aprimorar o desempenho nos negócios.
Familia empreendedora
A estudante de Engenharia Civil, Tuanny Rabaiolli Ramos, 23, percebeu a necessidade de abrir um negócio devido a dificuldade de encontrar um emprego que se adaptasse ao horário da faculdade. “Eu fazia muitas cadeiras, e algumas eram de dia, logo não tinha oportunidade.”
Como a família de Tuanny tem uma história de empreendedorismo na área da alimentação, começou a pesquisar com a mãe as possibilidade de negócios no setor. “Começamos a pesquisar sobre o assunto e então decidimos comprar um trailer.”
Aos 21 anos, ela se tornou empreendedora e começou a enfrentar as primeiras dificuldades do ramo. “O mais difícil foi conseguir o dinheiro para o negócio. Vendemos nosso carro para dar a entrada no trailer e compramos todos os equipamentos e a matéria-prima de forma parcelada.”
Outra dificuldade foi aliar as necessidades da empresa com estudos e estágio. No começo, o acúmulo de tarefas atrapalhou os estudos. “Como eu faço toda a parte da contabilidade do trailer, acabava acumulando os trabalhos da faculdade nos fins de semana.”
A iniciativa deu certo e, um ano depois de abrir, a empresa pagou todas as contas acumuladas. Com o sucesso do negócio, o trailer se tornou a única fonte de renda da família. “Se a gente tem uma boa ideia, qualidade naquilo que oferece e sabe administrar a questão financeira, não tem como um negócio dar errado.”
Apesar dos riscos assumidos com o empreendimento, Tuanny diz nunca ter duvidado da capacidade de tocar o negócio. “Acho que é um dom, porque meus pais sempre tiverem empresa própria e sempre gostei de opinar. Além disso, não gosto de rotina e não me sinto bem em um emprego fixo tendo que cumprir horário e obedecer ordens.”
Para Carlos Oliveira, o exemplo da empreendedora demonstra os preceitos para o sucesso empresarial. Segundo ele, o ponto de partida para qualquer empreendimento é a ideia. Em seguida, ressalta, é fundamental analisar as oportunidades e procurar saber o potencial de viabilidade econômica e de mercado.
Resultados da pesquisa
O estudo foi realizado por meio da aplicação de um questionário online, com 1732 pessoas convidadas. A coleta de dados ocorreu entre os dias 14 e 26 de dezembro de 2016, e teve como foco referência o conceito amplo de empreendedorismo.
Entre todos os participantes, 58% já possuíam um empreendimento próprio. Ao todo, 63% dos entrevistados disseram estar interessados em abrir um negócio. As principais características empreendedoras apontadas pela pesquisa foram o “planejamento”, para 38,8% dos entrevistados, e a “persistência” (30,9%).
Entre os homens participantes , um total de 62,5% afirmaram ser empreendedores. Já entre as mulheres, o número chegou a 53,7%, o que demonstra um crescimento nos dois grupos. Na mesma pesquisa realizada em 2015, 42,4% dos homens e 36,4% se declaram empreendedores.