Oportunismo e desilusão

Editorial

Oportunismo e desilusão

A foto principal da capa desta edição do A Hora é emblemática, mais pelo descaso do que pela recorrência. Repetida dezenas de vezes nos últimos anos, é o retrato da ineficiência do setor público. Os fatos recentes em torno da…

A foto principal da capa desta edição do A Hora é emblemática, mais pelo descaso do que pela recorrência. Repetida dezenas de vezes nos últimos anos, é o retrato da ineficiência do setor público.
Os fatos recentes em torno da construção da nova ponte sobre o Arroio Saraquá, no bairro Moinhos d’Água, retratam, infelizmente, práticas costumeiras. No dia 13 de abril, o secretário estadual dos Transportes, Pedro Westphalen, mobilizou deputados, assessores locais, convocou vereadores e prefeitos de Lajeado e Santa Clara do Sul para um ato político à beira da ERS-421, ao lado da atual ponte.
Em meio aos discursos inflamados e eufóricos, prometia-se, outra vez, o começo das obras para a segunda-feira seguinte, dia 16. A informação e a garantia transmitidas pelo secretário de Estado, chanceladas por servidores da prefeitura de Lajeado e Daer, devolviam esperança aos usuários da rodovia e moradores vizinhos de verem uma nova ponte construída sobre o arroio.
As promessas de duplicar a passagem remetem ao início dos anos 2000. O Estado trocou pelo menos três vezes de governador entre a primeira e a última promessa. Uma novela que tem nome e sobrenome: incompetência.
Passados 40 dias do pomposo e ufanista ato de assinatura da ordem de início, nada, a não ser a retirada do poste de luz, ocorreu no local. Aliás, representantes do governo municipal e da própria secretaria dos Transportes e do Daer chegaram a culpar o poste como motivo pelo retardo do início das obras. A Certel, ágil e prestativa, retirou a estrutura do local três dias depois.
Sem a desculpa do poste, começaram a surgir outras alegações e explicações a respeito da demora para a construção. A mais recente é sobre a inexistência da licença ambiental para a instalação de placas informativas sobre a obra.
Sabe-se, e não de hoje, que a burocracia e os ritos legais costumam atrasar as obras públicas, mas tamanha enrolação é inaceitável para um projeto que já tramita sobre as mesas faz muitos anos. Faltou ao secretário e toda sua equipe, antes de projetar o ato político do dia 13, um detalhamento rígido sobre todos os encaminhamentos necessários para cumprir a palavra que seria empregada.
Passados os 40 dias do anúncio de início, perdura uma incerteza quanto à efetiva construção da ponte. A desconfiança de moradores e motoristas, alimentada a cada promessa infundada ao longo dos anos, só faz crescer o descrédito com a classe política. Até aqui, o evento às margens da rodovia, às vésperas da Páscoa, foi muito mais um oportunismo político e de promoção pessoal do que uma resposta concreta e decente a uma comunidade enganada e desiludida por sucessivos governos incompetentes.

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