Conforme o assistente técnico regional em Manejo de Recursos Naturais da Emater/RS-Ascar, Marcos Schäfer, a produção de alimentos orgânicos traz consigo valores que ultrapassam o simples ato de produzir mais.
Na agricultura orgânica, a qualidade e a diversidade são princípios fundamentais, resume. Nela se insere também o respeito à cultura e aos saberes locais, a preocupação com a preservação da biodiversidade, priorizando os mercados consumidores locais e, principalmente, não utilizando agrotóxicos e produtos químicos solúveis e não contém Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) ou transgênicos.
Segundo Schäfer, o consumidor tem mudado seus hábitos, optando por uma alimentação mais saudável. “E nada melhor para conquistar mais mercados do que uma relação de confiança, em que possamos falar com orgulho daquilo que produzimos.”
A adoção de cultivos mais limpos contribui não apenas para a nossa saúde e de quem consome, mas também para que haja um maior equilíbrio ambiental, observa.
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Ressalta a importância de manter no solo uma diversidade de plantas para garantir a recuperação, melhorar a produtividade e minimizar o ataque de pragas. Aconselha fazer a adubação com estercos, pó de rocha, fertilizantes minerais, calcário, compostos orgânicos ou biofertilizantes. A cobertura pode ser feita com aveia, nabo forrageiro, crotalária, entre outras.
Para quem pretende iniciar o cultivo, recomenda buscar auxílio técnico. “Isso dá segurança. Ajuda a mostrar os caminhos e minimiza as perdas”, comenta. Cita que os produtores usam a ferramenta de mensagem WhatsApp para esclarecer dúvidas e fazer a venda dos produtos. “O aplicativo auxilia no dia a dia da lavoura de forma imediata, sem custos”, afirma.
Mais espaço no supermercado
A maior parte da produção é vendida direto nas propriedades pelo sistema colha e pague, em feiras, fruteiras ou supermercados. No entanto, Schäfer entende que é preciso destacar ainda mais os benefícios e separar os produtos orgânicos dos convencionais nas gôndolas dos supermercados. “O consumidor ainda carece de conhecimento e essa confiança é reforçada quando ele consegue interagir, identificar a diferença entre os dois ou ver na prática o processo de produção”, explica.
Quanto ao preço maior, destaca que muitas vezes é uma estratégia dos intermediários para aumentar os lucros.
Reconhecimento da qualidade
Seis famílias de produtores – Três de Lajeado, duas de Cruzeiro do Sul e uma de Forquetinha – se articulam, desde o início do ano, para a formação de uma Organização de Controle Social (OCS), que receberá o nome de Orgânicos do Vale.
De acordo com a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar, Andréia Binz Tonin, o objetivo é estimular os agricultores para a produção de alimentos orgânicos, certificando-os e dando visibilidade a seus cultivos. “Será uma forma de atestar e dar confiabilidade àquilo que o público compra”, ressalta.
Para garantir o reconhecimento da sociedade, produzir de forma natural, permitir a visita de consumidores e órgãos fiscalizadores, as famílias recebem acompanhamento direto de técnicos e agrônomos da Emater. Os agricultores estarão comercializando produtos livres de agroquímicos, mas sem um selo que lhe ateste a condição de orgânico.
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Para Leandro Lange (foto), um dos primeiros agricultores de Lajeado a investir em produtos orgânicos, a consolidação da OCS será uma forma de dar uma visibilidade “diferenciada” para seus produtos, que são comercializados na propriedade – no bairro Conventos – ou na Feira Municipal. “Esse é um nicho de mercado que tem crescido junto com a ideia da importância de investir em uma alimentação saudável”, garante.
Mudança nos hábitos
Para conhecer o consumidor de produtos orgânicos no RS, seis universidades uniram forças para realizar uma pesquisa (Barômetro dos Orgânicos) que ouviu 2.732 pessoas em 80 municípios.
Marlon Dalmoro, professor do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis da Univates, e Wagner Junior Ladeira, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), são coordenadores do projeto.
Dados apontam que mais de 40% dos gaúchos passaram a incluir esse itens nas compras. E mais de 75% afirmam que são compradores frequentes, o que evidencia que o consumo está disseminado entre a população.
Outra constatação é a de que vegetais, hortaliças e frutas são os produtos mais comprados (veja detalhes da pesquisa ao lado). “São itens de fácil acesso e o consumidor enxerga neles o típico produto orgânico”, complementa Dalmoro.
Entre os desafios, está a melhoria dos canais de distribuição. Segundo os professores, os consumidores buscam uma alimentação mais saudável, descobrem locais que comercializam alimentos orgânicos, estando inclusive dispostos a ir a lugares alternativos para adquiri-los.
Conforme Dalmoro, as pessoas buscam esses alimentos pelo desejo individual de melhoria da qualidade de vida e longevidade sua ou de seus familiares, especialmente filhos. “A partir do momento que elas entendem que o alimento ajuda a ter uma vida mais saudável, enxergam no orgânico uma alternativa acessível e passam a consumir”, explica.