Foco no pequeno produtor

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Foco no pequeno produtor

Envolto em dificuldades de mercado, que se somam à desconfiança após recorrentes casos de adulteração, o setor leiteiro tenta se recuperar. Indústria e produtores buscam alternativas e traçam estratégias para qualificar a atividade, aumentar a renda e evitar que milhares…

Foco no pequeno produtor

Envolto em dificuldades de mercado, que se somam à desconfiança após recorrentes casos de adulteração, o setor leiteiro tenta se recuperar. Indústria e produtores buscam alternativas e traçam estratégias para qualificar a atividade, aumentar a renda e evitar que milhares de famílias deixem a atividade.

Uma das ações voltadas para pequenos e médios produtores é idealizada pela Cooperativa Languiru em parceria com demais entidades ligadas ao setor. O Programa de Inclusão Social e Produtiva no Campo atenderá 210 famílias com produtividade média de 80 a 300 litros por mês, em 21 municípios onde a cooperativa atua.

Segundo o gerente regional da Emater de Lajeado, Marcelo Brandoli, em cada cidade, dez propriedades serão selecionadas e contarão com supervisão de extensionistas e técnicos. Eles farão coleta de indicadores técnicos, econômicos, sociais e ambientais. “Queremos evitar a exclusão de quem tem menor oferta e com a crise não conseguem reagir”, enfatiza.

Conforme dados da Languiru, no ano passado, 124 famílias deixaram a atividade. Segundo Brandoli, em algumas regiões do RS, a crise afastou cerca de dez mil produtores da cadeia produtiva. Nos vales do Taquari, Caí e Rio Pardo, mais de oito mil agricultores são responsáveis por produzir cerca de 400 milhões de litros de leite por ano.

De acordo com o presidente da Languiru, Dirceu Bayer, a proposta busca dar sustentabilidade à pequena propriedade, onde existe dificuldade de produzir volumes que compensem a captação da matéria-prima.

Segundo ele, o projeto é acima de tudo uma ação social. Quem não tiver viabilidade financeira no leite será orientado a migrar para outras atividades como produção de grãos, fruticultura, piscicultura, entre outras. “As frutas e verduras poderiam ser adquiridas pela cooperativa e revendidas nos supermercados. Hoje parte é comprada da Ceasa”, relata.

Em busca de conhecimento

Eduardo Brune, 25, mora na Linha Berlim Fundos, Westfália. Líder de núcleo da cooperativa, ele assume aos poucos a gerência da propriedade ao lado dos pais. É técnico em Agropecuária, formado pelo Instituto Federal de Bento Gonçalves (IFRS).

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Na propriedade, foram feitos investimentos para ampliar o faturamento e garantir a permanência de Brune. A produção atinge cerca de 21 mil litros ao mês, com um plantel de 30 vacas em lactação. A expectativa com o projeto é qualificar ainda mais as atividades. “Conhecimento é fundamental”, afirma.

Bayer destaca a necessidade de qualificar os produtores e incentivar a diversificação de culturas nas propriedades

Bayer destaca a necessidade de qualificar os produtores e incentivar a diversificação de culturas nas propriedades

Orientação é garantia de lucro

Em 2015, Paola Closs, de Marques de Souza, trabalhava como costureira em uma empresa de Arroio do Meio quando foi convidada pelo noivo Paulo Wommer para auxiliar na produção leiteira. “Nem tinha noção de como funcionava tudo”, lembra. Uma área de terras foi arrendada dos antigos patrões de Wommer. Na época, as 11 vacas em lactação rendiam apenas130 litros de leite diários e o casal quase desistiu da atividade.

No entanto, a partir da visita de um técnico da Emater, começou a mudança. “Foram diversas ações, como análise de solo, acesso ao crédito e orientação técnica permanente. Tudo melhorou o planejamento e os resultados”, ressalta o técnico em Pecuária, Diovane Cardoso.

Wommer recorda da resistência quanto às mudanças. “Quando foi embora, comentei com a Paola que nunca mais alguém viria dar pitaco aqui”, sorri.

Hoje a parceria e os investimentos em uma sala de ordenha, equipamentos como distribuidor de esterco líquido, um silo para armazenagem de ração e em ampliação de áreas de pastagens – contando com o acesso ao crédito por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), são responsáveis pela permanência na propriedade. “Quebramos paradigmas e nossa forma de trabalhar causa estranhez a muitos. Sem isso, muito provável teríamos desistido”, afirma.

Para qualificar ainda mais os processos, o casal foi incluído pela Emater no programa de Gestão Sustentável da Agricultura Familiar da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), do Governo do Estado. “Saber gerir, incentivar o protagonismo da juventude, da mulher na propriedade, aumentar a renda e a qualidade de vida. Isso de fato mantém os produtores na atividade”, comenta.

Entre as mudanças, é destacada a implantação de pastagem permanente. A ação reflete em um aumento de 196% de produção na litragem e de 81% na produtividade, no que diz respeito a litros por animal. Hoje as 18 vacas em lactação rendem uma média diária de 385 litros de leite.

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