Amazônia transforma professora em guia turística

Lajeado

Amazônia transforma professora em guia turística

Aprendizado sobre a Região Norte foi base para pesquisas. Textos eram vendidos para jornalistas europeus e dinheiro repassado à escola

Amazônia transforma professora em guia turística
Lajeado

Aos 84 anos, Noemia Werlang Beppler lembra com exatidão o dia em que largou a docência para aventura-se na Amazônia. Tranquila em casa, na cidade de Belém, capital do Pará, foi surpreendida por um motorista. Ele estava pronto para levá-la a uma agência de turismo, empresa de um austríaco.

“Disse não, eu não vou. Ele respondeu sim. O seu Henz está lhe esperando. Então, como eu conhecia o austríaco, fui.” Chegando lá, Henz lhe informou que um navio com 300 turistas alemães estava prestes a chegar na cidade, mas não havia ninguém que pudesse guiá-los, a não ser Noemia.

Isso porque era uma das poucas fluentes na língua alemã em Belém. “Eu não tinha conhecimento suficiente da Amazônia para fazer isso. Estava há pouco tempo lá. Mas ele insistiu, me disse que uma guia faria um city tour comigo para que eu soubesse o que falar. E também me deu um livro sobre a Amazônia.”

Em oito dias, o navio chegou. Noemia fez o passeio e depois foi dar adeus ao trabalho. “Falei para o Henz, cumpri o prometido. Agora chega. Ele disse: não. Em três dias chega outro navio, precisamos de ti. E aí, fui ficando. Foi onde me realizei.”

Noemia mostra aos turistas o matapi, usado para pescar camarão

Noemia mostra aos turistas o matapi, usado para pescar camarão

Do Sul para o Norte

Natural de Paverama, Noemia estava fazendo o curso de Contabilidade quando se casou. O marido era funcionário da Souza Cruz, e tinha uma função estável na empresa. Em 1970 foi convidado a ser gerente de transporte em Belém.

De mala e cuia, o casal se mudou de Lajeado para lá. “Fui tão feliz. Cheguei lá, vi toda aquela natureza, já gostei de cara”, conta Noemia. Na cidade, estudou Letras, onde aprendeu diferentes línguas e passou a lecionar. Até receber o convite do amigo, e desvendar as maravilhas do Norte. “Entrei de cabeça na Amazônia, e me apaixonei.”

Ensino e aprendizagem

Por 21 anos, trabalhou como guia de turismo. Em um certo ano, de outubro até março, chegou a receber 27 navios com estrangeiros. A maioria da Europa. Um transatlântico desembarcou com quase cinco mil turistas de uma vez.

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“As pessoas queriam conhecer a Amazônia. Ver de perto.” Pela capital do Pará, Noemia as levava a pontos turísticos, como o Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, onde são expostos artigos indígenas, e uma mostra da fauna e flora amazônicas. Além de ir a maior feira aberta da América do Sul, o Mercado Ver-o-Peso. “Por lá, eu mostrava e explicava diversos utensílios usados pelos paraenses, como o matapi – uma armadilha de pesca para pegar camarão.

A paixão de Noemia

De lá, eles seguiam para a paixão de Noemia: a Ilha de Marajó, o maior arquipélago fluviomarinho do mundo. Chegavam ao local de barco, pelo Rio Amazonas – que em alguns trechos chega a 12 quilômetros de largura, e tem quase 1/5 de toda a água de rio do mundo.

Conheciam os igarapés, outros rios menores, os açaizeiros, e as castanheiras com mais de 30 metros de altura, e alguns dos 123 tipos de fruta que nascem no Pará, dentro da Amazônia.

“Eles ficavam maravilhados. Gritavam de tanta felicidade. Diziam: Esse é o nosso pulmão. Não deixem desmatar.” Na ilha, deparavam-se com típicos caboclos. Descendentes do povo indígena, eles conservam costumes e características originárias.

“Dormem nas redes. Tiram o alimento das árvores, do rio, sem desmatar. Lembro como se fosse hoje, um dia em que estava na ilha, vendo o sol nascer, as araras cobrindo uma árvore, quando avistei algumas crianças em cima de um búfalo. Me impressionei, como eram mansos, e conviviam em paz com eles”, relembra.

Noemia também procurava mostrar aos turistas a rica gastronomia paraense. “É a única totalmente brasileira. Sem nada importado.” Entre os pratos preferidos, e mais famosos, o pato no tucupi e a maniçoba.

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