Mães modernas

Comportamento

Mães modernas

Dividir o trabalho e o cuidado dos filhos é um desafio das mulheres do século 21. Segundo pesquisa do IBGE, elas são responsáveis por manter 40% dos lares. Escolher o momento certo da gravidez e, por vezes, ter de optar pela carreira profissional ou a família são preocupações recorrentes.

Mães modernas
Vale do Taquari
oktober-2024

Cintia Agostini, 38, é reconhecida no Vale por ocupar o cargo de presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat). Mas faz sete anos que ela também é mãe da Lívia.

Uma menina esperta e independente, que é a representação de um sonho realizado. “Sempre fui mãezona de todos. Era algo natural em mim. Então eu sabia que um dia seria mãe, de verdade.”

Formada em Economia, Cintia começou a namorar Alexandre Englert em 2005. Juntos, decidiram que, assim que ela terminasse o mestrado, engravidaria. Na época, já era professora e funcionária da Univates.

Quando chegou a gravidez, ela ainda foi convidada a exercer o cargo de secretária-executiva do Codevat e do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. Duas novas tarefas que, ao invés de limitar, motivaram Cintia. Ela não desistiu do sonho de ser mãe.

Depois de alguns exames, cessou o uso de métodos contraceptivos e, em março do ano seguinte, engravidou.“Foi muito rápido. Mas exatamente conforme havíamos pensado.” O primeiro passo após o diagnóstico foi fazer uma planilha com todos os gastos que teria até o primeiro ano de vida da filha.

“Economista, né. Sabe como é. Fora as brincadeiras, se você tem como planejar, sempre dá para fazer melhor.” Ela lembra que, por conta da gripe A, precisou se afastar da sala de aula na época devido ao perigo de infecção. Mas com as outras atividades, Cintia nunca parou. “A gestação foi muito tranquila. Todos se lembram de mim com o barrigão.”

A vontade era de fazer parto normal, mas Lívia foi um bebê grande, e precisou nascer por cesárea. Um dia antes da cirurgia, Cintia decidiu se dar uma folga. “Me dei o direito, mas foi só também.”

Cíntia e Lívia aprenderam a conviver com o dia a dia cheio de tarefas e valorizam ao extremo o tempo juntas

Cíntia e Lívia aprenderam a conviver com o dia a dia cheio de tarefas e valorizam ao extremo o tempo juntas

Cotidiano multitarefa

Desde que a pequena completou 5 meses, frequenta a escola em turno integral. Hoje, na 2a série, mantém o mesmo ritmo. Enquanto Cintia faz o doutorado, preside o Codevat, a incubadora da Univates e também leciona.

“Ela e o pai dela precisam fazer parceria para ir a festas e praças, enquanto eu fico estudando. Tem dias que a gente nem se vê. Às vezes minha mãe ajuda, e uma ex-professora dela também.” Mas a situação não é tão fácil. Lívia cobra a mãe. Por vezes, até brinca: “Mãe, vou fazer um clone teu. Enquanto ele vai trabalhar, você fica comigo.”

Uma falta de convivência, que para Cintia tem aspectos negativos, mas também positivos. “Com isso, ela adquiriu independência, aprendizado e maturidade. Quando estamos juntas, aproveitamos cada segundo. Nos abraçamos, beijamos, dizemos muito eu te amo, e vamos fortalecendo nossa relação. Nos reconhecemos pelo cheiro, temos algo muito forte. E hoje meu maior sonho é vê-la bem.”

Daia optou por se dedicar exclusivamente ao filho Davi

Daia optou por se dedicar exclusivamente ao filho Davi

Maternidade em tempo integral

Daiane Caroline Bazzo tem 24 anos e é mãe do Davi, de 1 ano e 6 meses. Natural de Estrela, “Daia”, como prefere ser chamada, define a maternidade como um desafio. A mudança foi imediata com a chegada do bebê. “Foi a maternidade que me transformou num ser humano muito melhor. Que me fez ver a minha própria mãe mais de perto”. afirma.

Para aproveitar a infância do filho, decidiu largar o emprego. “Neste momento, estou sendo 100% mãe, é o tempo todo, durmo e acordo mãe, não tomo uma xícara de café sem ser mãe.” O dia a dia é com o marido, o filho e o cachorro da família. Mesmo no lar, Daia reforça que a correria ainda faz parte da rotina. “Quero viver a maternidade intensamente, sem deixar de ser gentil comigo mesma. Vou curtir bem a primeira infância do Davi e depois, aos poucos, retomo o foco na minha vida profissional.” Ser uma mãe em casa e se sentir completa pode ser desafiador. “A sociedade exige que sejamos milhares em uma só, não basta abraçar a casa, a gente tem que abraçar o mundo.”

Um novo tempo

Para Daia, a maternidade nos dias atuais é diferente da experiência que sua mãe viveu com ela. “Quando eu era criança, o mundo era imenso, hoje sei que o Davi vai crescer com o mundo a um clique. Isso assusta e me impõe a tarefa de ser muito mais próxima dele pra garantir seu desenvolvimento saudável”. Toda essa preocupação surgiu no momento do parto, quando ela viu o rostinho do filho pela primeira vez. “Eu revejo o vídeo e é avassalador o que me provoca. A Daia daquele vídeo não tinha a mínima noção do quanto seria grandioso ser mãe”.

O tempo livre em casa a aproximou não só da parte prática da maternidade, mas também da questão teórica. Tanto que falar sobre o assunto acabou virando hobby e ela criou a fanpage Mamãe Sem Vergonha. A ideia surgiu com textos poetizados que eram publicados durante a gravidez, em um blog com o mesmo nome. Hoje os assuntos amadureceram junto com a mãe, e a ideia romântica da maternidade deu espaço para olhares técnicos e temas polêmicos. “Uso esse espaço pra expressar o que a maioria delas tem vontade de dizer, ou que elas esperam ouvir de alguém. Elas se sentem abraçadas, compreendidas, acolhidas, e eu também. Isso é transformador”. Dividir as agonias, as dores e as conquistas com outras mães é a rotina mais gostosa que ela já teve.

Preocupação da mãe moderna

A rede social do projeto Mamãe sem Vergonha aborda os temas mais pedidos pelas mães. Algumas de suas bandeiras são a luta contra a cesariana e o leite complementar. “Deixo sempre bem claro que respeito a escolha e o protagonismo da mulher. Eu encorajo e dissemino informação no que tange a partos naturais e amamentação – exclusiva e prolongada – pra dar apoio e incentivo pra mulheres que querem isso”. Com isso, Daia é, muitas vezes, o apoio e a fonte de informação que falta no lar de muitas mães.

Maternidade é culpa e contradição

Daia aponta que as mães têm um dispositivo interno de culpa, do qual tentam se livrar constantemente. Para ela, há um sentimento de que sempre é possível fazer mais. Quando não é possível, há um pensamento de frustração, diz. “Nem todas desejaram ser mães, nem todas querem ser mães, mas todas são mães. Assim como nem todas amam o trabalho a ponto de priorizá-lo e nem todas estão dispostas a deixá-lo de lado.”

Semana passada, a família de Fernanda e Fiorioli comemorou os 3 anos da Vitória

Semana passada, a família de Fernanda e Fiorioli comemorou os 3 anos da Vitória

Luta pela maternidade

Advogada, Fernanda Goerck, 40, tem uma rotina profissional atribulada. Além de manter seu escritório, faz consultoria jurídica para três municípios da região. Dedica-se muito para resolver inúmeros processos, e ter tempo suficiente para cuidar, e amar, os cinco filhos.

O primeiro chegou há 17 anos. Gabriel, hoje vestibulando em Medicina, é fruto do primeiro casamento de Fernanda. Nasceu de uma gravidez perigosa, logo após ela ter perdido um bebê recém-nascido, por não produzir progesterona.

Ciente do problema, ao engravidar de Gabriel, Fernanda buscou tratamento. Mas precisou passar sete meses na cama, para poder ter o filho nos braços. “Era um medicamento muito forte. Mas tudo nos uniu ainda mais. Fez com que valorizassemos a nossa relação.”

Aos 5 anos, Gabriel ganhou duas irmãs. Na época, Valentina tinha 6 anos – hoje 18 – e Giulliana 3 – hoje 15. Ambas filhas de Carlos Augusto Fiorioli, atual marido de Fernanda. “Tanto eu quanto ele temos guarda compartilhada das crianças. Então, de cara, todos mudaram para o meu apartamento. Ele veio com o pacote completo.”

Mudança radical

No início, a convivência em grupo assustou. Mudou totalmente a rotina dela, e de Gabriel. “Parecia complicado, mas buscamos unir eles ao máximo. Passamos a fazer o banho em série, e colocamos os três para dormir no mesmo quarto, para que se conhecessem.”

Fernanda também tinha medo de não ser bem aceita pelas enteadas. “Ainda mais por serem meninas, temia que houvesse alguma disputa.” Mas não demorou muito para que passassem a se sentir como verdadeiras mãe e filhas. Irmão e irmãs.

“Elas vieram para alegrar a casa. Formaram laços de afinidade únicos com o irmão. E eu nunca fiz diferença entre eles. São todos meus filhos.” A casa precisou ser ampliada, e o coração ganhou espaço para mais duas alegrias na vida de Fernanda.

Coroação familiar

Há três anos, chegou Vitória. Depois de fazer diferentes tratamentos para engravidar, Fernanda havia optado por adotar. “Nada dava certo. Mas quando estávamos voltando de uma viagem, descobri que estava grávida, e foi maravilhoso.”

Meses depois, Estevão veio para coroar essa relação familiar. Hoje o bebê da casa está com 1 ano. “Quando eu estava na 8a série, escrevi uma redação e falei sobre a minha vontade de ser mãe. Queria ter cinco filhos, e Deus me atendeu. Mas ainda quero adotar, ser mãe é algo que nasceu comigo.”

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