Cervejeiros artesanais conquistam lugar no mercado

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Cervejeiros artesanais conquistam lugar no mercado

Enquanto grandes marcas veem o consumo cair, pequenas cervejarias abrem espaço nas geladeiras dos consumidores e estimam um crescimento gradativo para os próximos anos

Cervejeiros artesanais conquistam lugar no mercado
Vale do Taquari

Tradição que acompanha eventos sociais e esportivos, o consumo de cerveja no país é um dos maiores do mundo. O Brasil é o terceiro em produção da bebida. A crise econômica trouxe uma retração nas vendas das marcas mais famosas nos últimos anos.

Levantamento feito pelo Instituto da Cerveja do Brasil (ICB) mostra que as marcas famosas venderam 2% a menos em 2015 na comparação com 2014. No ano passado, os dados também foram negativos, com queda de 1,8% no volume de vendas. Em contrapartida, um pequeno nicho começa a ganhar mais apreciadores.

Entre 2005 e 2015, o número de cervejarias artesanais passou de 46 em todo país para 372. O estudo do ICB aponta que uma microcervejaria é aberta no Brasil por semana. A representação no mercado global do produto ainda é pequena, representando apenas 0,7% do total consumido por ano.

Dificuldades de mercado

Para o sommelier Eduardo Pelizzon, os cervejeiros apresentam produtos de alta qualidade. Ainda assim, avalia dificuldades para conquistar uma fatia maior de mercado. “Acho que o Brasil precisa de consistência, as empresas precisam crescer em processos e, claro, que temos problemas de matéria prima, que é cara.”

Os problemas não se limitam ao alto preço do malte e do lupo, mas também à falta de uma lei que regule o trabalho dos microcervejeiros, como destaca o presidente da Confraria Ratz Bier, Marcelo Nolibos. “Hoje não existe uma legislação específica para cerveja artesanal. As regras são as mesmas para a Ambev e para mim.”

Nolibos defende uma política que permita aos produtores vender a bebida apenas nos municípios. “Quero algo parecido com o que acontece com os frigoríficos, onde o dono pode produzir uma linguiça, ser fiscalizado no município e vender só em Lajeado.” Ele usa o exemplo de outros países, que regulamentam as pequenas produções. “Carecemos de legislação para que seja possível ter uma torneira local, distribuída apenas no município. Isso existe em toda a Europa.”

Outra regra contestada pelos cervejeiros é quanto à tarifação do produto, que segue as mesmas regras das grandes empresas. Dono da empresa Maniba, de Novo Hamburgo, Cristiano Maniba reclama dos entraves para expandir a empresa. “A produção consome 100% do tempo, mas investir no Brasil é um risco, porque a tributação é injusta.”

Veterinário por formação, Maniba deixou a carreira de lado para se dedicar só à produção de cerveja. Para isso, teve que investir R$ 400 mil na compra dos equipamentos necessários. O desejo de produzir veio do consumo experimentado fora do país. “Quando descobri que dava para fazer cerveja em casa, eu enlouqueci. Na época, eu tomava muita cerveja importada, então, foi o que me motivou.”

PrintReação do mercado

Mesmo com as limitações apontadas por pequenos produtores, o crescimento nas vendas de cervejas artesanais acendeu o sinal de alerta nas grandes empresas. Não demorou muito para os conglomerados começarem a comprar pequenas cervejarias e incluírem bebidas especiais junto às tradicionais e conhecidas dos consumidores.

O que poderia parecer uma ação capaz de acabar com as pequenas cervejarias é visto por Nolibos como um estímulo. “As grandes cervejarias compraram empresas menores e isso ajudou na distribuição e na compra de insumos”, analisa o microcervejeiro que evita o discurso de animosidade entre os diferentes consumidores. “Tem espaço para todo mundo e todos os gostos.”

Criar nova cultura

Nolibos integra uma confraria que reúne cerca de 30 pessoas, as quais produzem cervejas dos mais variados tipos. Na sede do grupo, tabelas estão afixadas nas paredes com detalhes de como cada uma deve ser feita, respeitando padrões de coloração, maturação, amargor, entre outros.

Ele começou a beber cervejas artesanais após participar de uma edição do Beer Fest. O encontro com produtores e a possibilidade de entender melhor como a bebida é feita motivou Nolibos. Ele trocou de lado no balcão. Passou de apreciador a produtor.

Hoje Nolibos está envolvido na organização da próxima edição do Beer Fest Vale, evento que ocorre no dia 20 no Clube Tiro e Caça, em Lajeado.

Pelizzon é um entusiasta desse tipo de evento, por acreditar que eles têm a capacidade de aproximar o público dos produtores e criar uma nova cultura de consumo. “Um evento desse tipo tem uma equipe que conhece muito bem o produto, e até o próprio cervejeiro. Essa proximidade permite que ele tenha uma explicação muito grande sobre a cerveja.”

O sommelier ressalta também que festivais do tipo são uma oportunidade para quem quer conhecer os variados tipos de cerveja. “É uma chance de testar o seu paladar para aquilo que você vai achar bom ou ruim. Não existe cerveja para mulher, para jovem, existe cerveja para paladar.”

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