Principal vilão do endividamento familiar no RS, o cartão de crédito passou a operar com juros menores devido a mudanças no rotativo. A taxa média anual caiu pela metade, saindo de 456% em março para 234% em abril.
Os dados são da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).
Ao mês, os juros da modalidade caíram de 15,4% para 10,6%. De acordo com o economista Rogério Wink, a queda é significativa, mesmo assim, os consumidores precisam planejar o uso do cartão para evitar a falta de pagamento.
“As taxas continuam absurdamente altas, pois são feitas para as pessoas não caírem na inadimplência”, afirma. Para ele, a redução nos índices indica a tendência de melhores condições de consumo para o futuro.
Conforme Wink, tanto a queda dos juros do cartão de crédito quanto os sinais de melhora na economia são resultado da redução nos índices da inflação e da taxa Selic. “Como consequência, há uma diminuição nas taxas de financiamento, dando mais condições de acesso ao crédito.”
Segundo o economista, as recentes mudanças nas regras do rotativo visam evitar que os consumidores fiquem inadimplentes e acabem arcando com juros elevados. Para ele, o cartão só deve ser utilizado de acordo com a capacidade de pagamento das prestações.
Novo rotativo
As regras para o rotativo do cartão de crédito passaram a valer no mês passado. Desde então, consumidores cujos débitos ultrapassam 30 dias de atraso têm a fatura parcelada automaticamente pelas instituições financeiras.
Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a mudança quer evitar o efeito “bola de neve” das dívidas com o cartão. Pela regra antiga, quem deixava de pagar uma fatura de R$ 1 mil teria em 12 meses uma dívida de quase R$ 5,8 mil, devido ao mecanismo de juros compostos.
Assim, se um consumidor não pagava uma fatura, o atraso resultava em juros simples no primeiro mês. Caso a conta continue em aberto, no segundo mês, a dívida será o valor da parcela corrigida duas vezes, pelos juros do primeiro e do segundo mês de atraso. O processo se repetia a cada 30 dias.
Com a nova regra, os bancos são obrigados a oferecer opções de parcelamentos com juros e prazos pré-determinados, 30 dias após o vencimento da conta. A alíquota cobrada pelas instituições bancárias nas negociações varia entre 0,99% e 9,99% ao mês, e os prazos vão de quatro a 24 meses.
Endividamento cresce no RS
A Fecomércio-RS apresentou nova edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). A entidade aponta crescimento no índice de famílias endividadas no RS, que chegou a 75% em abril – 5% acima do registrado no mesmo período do ano passado.
De acordo com o presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, os dados mostram a prevalência do cenário de queda no emprego e na renda. Mesmo assim, ele aposta em melhora nos índices nos próximos meses devido à redução nas taxas de juros.
Conforme o levantamento, o cartão de crédito ainda é o principal meio de dívida dos gaúchos, apontado por 85,2% dos entrevistados.