Estar sempre ocupado acaba com a criatividade

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

Estar sempre ocupado acaba com a criatividade

Eletrônicos estão entre os maiores vilões para roubar tempo e o equilíbrio mental
“A mente intuitiva é um dom sagrado e a mente racional um servo fiel”, já dizia Albert Einstein. A sociedade moderna parece não entender muito bem a importância dessa frase.
“O fluxo ininterrupto de e-mails, textos, contas a pagar – e eu acrescentaria o wats, redes sociais e toda parafernália tecnológica moderna – nos deixam num estado cerebral contrário ao foco aberto”, escreve o psiquiatra Daniel Goleman em seu best-seller, Foco.
As pessoas não têm mais tempo porque usam toda folga para se distrair e ocupar no celular. “O tempo livre deixa o espírito florescer. O problema é que as pessoas não deixam mais momentos ociosos. Todos os minutos ou segundos são ocupados com o aparelho que Steve Jobs apelidou de “extensão do indivíduo”. Eis o vilão da criatividade e da concentração.
O resultado é uma sociedade cada vez mais neurótica, atucanada e ansiosa que beira o colapso social. Já virou questão de saúde pública, mas a massa insiste em continuar a todo vapor. E não é preciso ser desinformado para pertencer a essa legião de dominados pelo vício da tecnologia.
Estar com a mente sempre ocupada com demandas externas não cria terreno favorável para “pensar fora da caixa”.
Estudos mostram que a mente precisa repousar. Cochilos, meditação, ociosidade e passeios pela natureza favorecem a atenção e criatividade. Li um artigo muito bom do jovem jornalista e escritor americano, Ferris Fabr, na revista Scientific American, exatamente, sobre esse tema.
Ele comenta que volta e meia, no trabalho, geralmente pela meia tarde, uma dor familiar começa pressionar sua testa e latejar nas têmporas. O brilho da tela do computador parece ficar mais forte. Seus olhos percorrem a mesma frase várias vezes… “Meu cérebro está me dizendo para parar. Ele está exausto e precisa de um pouco de descanso”, escreve.
De fato, a sensação de que tantas coisas confluem ao mesmo tempo exige atenção. Há tanto a ser processado pela nossa mente que às vezes não conseguimos lidar com tudo. Nos poucos minutos livres, ainda mexemos no celular, acabando de vez com a chance de oxigenar o cérebro.
A prática de atividades como retiros, caminhadas em meio à natureza e distanciar-se dos eletrônicos é algo quase impossível para a maioria. Entretanto, é o antídoto eficaz contra o estresse moderno.
“A mente não pode estar cheia. Precisa esvaziar”, afirma outro estudioso de meditação, o jornalista e professor Michael Taft. Atualmente, o acelerado ritmo de vida não permite intervalos de tempo suficientes para que as coisas simplesmente se acomodem, sugere Taft.
Esta semana virou polêmica, na câmara de Lajeado, o afastamento de funcionários públicos pelo excesso de atestados médicos. Ainda que seja um exagero, esse tipo de problema tende a aumentar.
Pesquisas mostram que os funcionários gastam mais da metade de suas jornadas de trabalho recebendo e gerenciando informações, em vez de usá-las para realizar seu trabalho. Nos Estados Unidos, Canadá, Japão e Hong Kong, os trabalhadores tiram em média dez dias de folga por ano.
Mesmo quem sai de férias não se desliga do celular. Fica on-line.
E não é apenas com trabalho que as pessoas se ocupam. Aliás, as redes sociais e a inundação de informações irrelevantes compartilhadas pelas pessoas durante o dia e à noite chegam ao limite. Tamanha conexão não se traduz em produtividade ou conhecimento maior, nem é saudável. O cérebro precisa descansar para permanecer focado e gerar ideias inovadoras. “A ociosidade não é só um período de férias, uma indulgência ou um vício. Ela é tão indispensável para o cérebro como a vitamina D é para o corpo e sem ela sofremos uma aflição mental que desfigura tanto quanto o raquitismo”, escreveu o ensaísta Tim Kreider no The New York Times.
“O espaço e a tranquilidade que o ócio proporciona são uma condição necessária para se afastar da vida e vê-la como um todo, para fazer conexões inesperadas e esperar que os violentos relâmpagos de verão estimulem a inspiração – ela é, paradoxalmente, necessária para realizar qualquer trabalho”, finaliza.
Portanto, trabalhar oito horas, voltar para casa e nem mesmo ao volante desgrudar do celular pode ser tão maléfico quanto trabalhar em jornadas forçadas.
Dar-se conta desse desiquilíbrio é o primeiro passo para retomar a vida saudável e normal.


A culpa é do poste

Seria hilário se não fosse vergonhoso. Após uma década de descaso, o governo conseguiu um novo álibi para atrasar o início das obras da ponte, em São Bento, Lajeado. O poste de energia elétrica faz anos que está lá. Ontem, sexta-feira, após a matéria , a concessionária recebeu o pedido de remoção do poste.
Vamos aguardar a próxima desculpa para não começar as obras conforme o programado.


É preciso separar o joio do trigo

A coluna e o editorial nas páginas 2 e 3 desta edição deram espaço ao posicionamento institucional do A Hora. O conteúdo aborda os desafios e oportunidades do jornalismo sério. Ao mesmo tempo em que as pessoas ficam mais informadas, não significa que elas consomem notícias melhores. Pelo contrário, a disseminação de inverdades com o advento das redes sociais se tornou um grave e perigoso dilema da sociedade moderna.
Nunca é demais reiterar as últimas palavras do escritor Umberto Ecco. De fato, estamos à beira da insanidade. A era pós-verdade é um enorme atentado à democracia, ao intelecto e à ética.
Nunca os jornais e os demais veículos comprometidos com a verdade foram tão importantes para a sociedade. O leitor deve estar atento para não ser inundado com tanta desinformação a ponto de perder o discernimento mínimo para separar o joio do trigo.

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