Lições do protesto

Editorial

Lições do protesto

As manifestações contra as reformas propostas pelo governo Temer uniram diferentes grupos. De representantes de sindicatos de classe, integrantes de movimentos sociais, agricultores até servidores do Judiciário e da Polícia Civil. Se trata de uma parcela relevante da sociedade consolidando…

oktober-2024

As manifestações contra as reformas propostas pelo governo Temer uniram diferentes grupos. De representantes de sindicatos de classe, integrantes de movimentos sociais, agricultores até servidores do Judiciário e da Polícia Civil. Se trata de uma parcela relevante da sociedade consolidando o caráter popular do movimento.
Nas capitais e regiões metropolitanas houve confrontos com as autoridades policiais, queima de pneus e de ônibus. Violência. São Paulo concentrou o maior número de ocorrências.
No Vale do Taquari, em específico Lajeado, a manifestação foi pacífica. Muito pelo perfil da comunidade local. Inclusive com os organizadores e líderes do movimento enaltecendo o motivo do protesto, de mostrar à sociedade o descontentamento com as mudanças em tramitação no Congresso.
O fato é que a sexta-feira foi um dia atípico. Enquanto os manifestantes gritavam palavras de ordem contra os políticos, o governador José Ivo Sartori se deslocava para Estrela.
O tom pacífico do ato também pôde ser comprovado por não ter havido interferência na agenda do governador. Ainda que Sartori tenha sido alvo de críticas, os grupos que promoveram o ato em Lajeado não se deslocaram para a cidade vizinha. A única manifestação partiu de alunos da escola Martin Luther.
Importante também citar que houve transtornos. O fato de a principal rodovia da região ter sido fechada trouxe animosidades. Entregas de produtos atrasaram, uma empresa panificadora, inclusive, cita ter perdido negócio devido ao ato.
Nesse aspecto, a manifestação perde apoio. Incomodados com a interferência no direito de ir e vir, rotulam os participantes. Limitam o ato às rusgas político-partidárias, como se todos os integrantes do movimento dessa sexta-feira pertencessem ao PT ou outro partido de esquerda.
Diferentemente de outros protestos, o dessa sexta-feira veio puxado por um chamamento de greve geral. Faz parte da identidade do Vale do Taquari valorizar e referendar o trabalho. A palavra greve, em muitos momentos, provoca aversão. Trata-se de uma questão cultural. Tanto que nas redes sociais comentários argumentam nesse sentido.
Em síntese, a Constituição garante o direito à livre manifestação e à greve. Pessoas contrárias aos atos também têm direito a emitir opinião. Essa é uma das bases da democracia. O que fica do dia é que a voz dos descontentes com os rumos políticos do país foi, mais uma vez, ouvida.
Mas isso não quer dizer que será atendida. O governo federal ligou o sinal amarelo. Acompanhou, sobremaneira, os atos nas maiores cidades. Lá, o resultado pode ter assustado. Como a Câmara dos Deputados é a instituição mais suscetível à pressão popular, há possibilidade de o governo Temer ter perdido algum apoiador, em especial no projeto para mudar a Previdência.

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