Cidades em Pauta discute uso da arte em espaços públicos

Lajeado

Cidades em Pauta discute uso da arte em espaços públicos

Evento abordou as intervenções artísticas como forma de a população ocupar áreas urbanas. Evento faz parte do Cidades em Pauta. Projeto foi elaborado pelo A Hora, Univates e Seavat. Primeira edição ocorreu nessa quinta.

Cidades em Pauta discute uso da arte em espaços públicos
Lajeado

Com objetivo de discutir com especialistas e comunidade soluções para as cidades do Vale do Taquari, foi lançado nessa quinta-feira o ciclo de debates Cidades em Pauta. A ação é uma parceria entre o Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Taquari (Seavat), Univates e A Hora.

O primeiro encontro abordou o tema Cidades Criativas. Durante cerca de duas horas, cinco debatedores apresentaram formas de usar manifestações artísticas como elemento de incentivo à ocupação do espaço público.

Arquiteto e urbanista, mestre em Planejamento Urbano e Regional, Marcelo Arioli Heck defende que as manifestações artísticas transcendem a ideia de simples embelezamento das cidades. “Associamos arte à beleza, e não é isso necessariamente. Ela é uma questão cultural.” Heck defende o papel de provocação que as intervenções urbanas ocasionam na comunidade.

Debater mudanças

Mestre em Direito e especialista em Direito Civil, Ney Arruda Filho mostrou preocupação com a falta de humanização no desenvolvimento das cidades. “O ser humano tem que pensar o seu espaço dentro da natureza para que ele seja harmônico e acolhedor.”

Um dos pontos apontados por ele foi o fato das poucas ciclovias em Lajeado, mesmo com a Univates tendo um projeto de incentivo ao uso da bicicleta. Arruda também destacou a importância dessas mudanças serem discutidas no Plano Diretor, que está em análise pelo atual governo.

Na avaliação do advogado, essas mudanças no desenho da cidade precisam ter, essencialmente, a participação de toda a população. Ele lembrou o caso de São Paulo, onde o prefeito, João Dória Júnior, ordenou que os muros grafitados fossem pintados de cinza. “Ele mandou pintar o que ele achava que era sujeira na cidade. Se tu vais intervir no espaço público, tem que consultar as pessoas diretamente envolvidas.”

Limitar sem censurar

Heck lembrou o papel da arquitetura no desenvolvimento de espaços que permitam intervenções possibilitando a criação de locais capazes de acolher os moradores das cidades. “Trabalhamos com a ideia de que o espaço é uma coisa abstrata, enquanto o lugar dá uma sensação de acolhimento.”

Representante do Seavat, Adriana Nunes Machado falou do desafio de pensar esses espaços sem descumprir legislações municipais, estadual e federal. “Um dos desafios que a gente (arquitetos) tem é como regrar essas intervenções artísticas de forma a não podá-las.”

Entusiasta das intervenções de artistas nas ruas, Adriana Machado lembrou da necessidade de criar um ambiente seguro para os artistas. “Existem limites, precisamos pensar como essa manifestação pode se tornar saudável sem ser censurada.”

Heck contrapôs a colega ao questionar o papel das autoridades na limitação do trabalho artístico de rua. “Eu sinto que o estado tem muito essa cultura do controle, do regramento, como se tivesse medo das manifestações.” Para o arquiteto, cada ação cultural incentiva outra. “Tem países onde a pichação é permitida e as cidades não ficaram pichadas. De uma certa forma, cultura traz mais cultura, ela incita e provoca.”

Projeto Arte na Escadaria, em Estrela, foi enaltecido durante o primeiro painel do Cidades em Pauta

Projeto Arte na Escadaria, em Estrela, foi enaltecido durante o primeiro painel do Cidades em Pauta

Exemplo de Estrela

O escultor Marcos Datsch criticou a falta de uma política cultural que permita aos artistas se manifestarem de forma mais contundente em Lajeado. “Eu saí daqui porque morreria de fome. Em um período de 40 anos, o município só teve um ápice de cultura que foi no período do Leopoldo Feldens (ex-prefeito).”

Na avaliação de Datsch, a cultura dos colonizadores do município interfere na falta de um olhar mais cuidadoso às manifestações artísticas. “Cultura na região é um buraco negro, e cada artista tem que vender sua arte. Acho que as regiões italianas valorizam a arte mais do que as de colonização alemã.”

Responsável pelo projeto que deu origem ao novo espaço às margens do Rio Taquari em Estrela, a arquiteta Patrícia Pedotte apresentou como foi o desenvolvimento da obra na Escadaria. O local é considerado um exemplo de como o espaço público pode ser ocupado pela população.

Tão logo a obra foi finalizada, um grupo de moradores dos arredores começou a organizar a promoção. “O Arte na Escadaria não foi só um movimento, as pessoas que moravam naquele local começaram a se mobilizar para que aquela rua voltasse.”

Desde agosto de 2015, músicos, artesãos e artistas plásticos se encontram na rua Arnaldo Diel, em frente ao antigo prédio da Polar. O evento entrou no calendário do município e atrai dezenas de pessoas para a beira do rio, que utilizam o espaço como lazer.

De acordo com Patrícia, a parceria entre poder público e iniciativa privada foi fundamental para finalizar a obra. Entretanto, essa integração não foi aceita de forma fácil pelos moradores. “Houve um estranhamento inicial, até as pessoas começarem a se conscientizar que a junção entre o público e o privado é a nossa chave”, defendeu Patrícia.

A união entre público e privado não foi o único impulsionador do movimento de ocupação da Escadaria. Na avaliação de Patrícia, o interesse da comunidade foi um dos pontos fundamentais para fortalecer o evento.

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