Um dos grupos mais influentes na política entre as décadas 60 e 70, o movimento estudantil (ME) passa por um momento de reconstrução nos últimos anos. Enquanto no âmbito nacional, representado por entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE), segue sob disputas partidárias, nos municípios menores, os militantes tentam atrair mais atuantes.
Em Lajeado, um dos primeiros passos foi relembrar o passado do ME como resistência à ditadura militar. Para falar desse período, o DCE da Univates convidou o ex-militante estudantil Eduardo Jorge, candidato a presidente em 2014 pelo Partido Verde (PV).
Ao lado do jornalista e historiador Juremir Machado da Silva, Jorge debateu o cenário político do país e o papel dos estudantes neste momento de crise institucional. O encontro ocorreu na quinta, no anfiteatro do prédio 9 da Univates.
Jorge tinha 18 anos quando ingressou no ME, em 1968, mesmo ano da implantação do Ato Institucional n°5 (AI 5). “Vivíamos em meio a Guerra Fria. Hoje temos a democracia, então, o movimento não pode, nem terá, as mesmas práticas.”
O ex-presidenciável demonstrou preocupação com as questões ambientais, chamando atenção à necessidade de engajamento dos jovens sobre esses temas.
“Não confiem em ninguém depois dos 40 anos”
Jornalista e escritor, Juremir Machado da Silva foi mais incisivo sobre a importância do ME nas transformações do século XX. O colunista do Correio do Povo demonstrou pouca crença na capacidade dos atuais mandatários e das gerações anteriores de promoverem as mudanças políticas e sociais do país. “São os estudantes que mudam o mundo. Não confiem em ninguém depois dos 40 anos”, ironizou. Segundo ele, a partir dessa idade, os ânimos e o desejo de mudança diminuem.
Interiorizar o ME
A primeira edição do Sarau Estudantil buscou fortalecer o movimento no Vale. O diretor do Movimento Estudantil do DCE Univates, Renato de Britto Júnior, realça o fato de os convidados terem debatido muito mais do que o proposto antes do evento. “Eles falaram tanto do movimento quanto do contexto político brasileiro atual. Acho que os temas discutidos aqui transcenderam o mote principal.”
“Não quero mais ser revolucionário profissional, nem político profissional”
Candidato à presidência em 2014, Eduardo Jorge mostra preocupação com as políticas ambientais. Sem descartar uma nova candidatura, ele refuta a profissionalização da política.
A Hora – O senhor viveu um momento muito forte do movimento estudantil, o qual perdeu força nos últimos anos. Como ele poderia retomar o protagonismo de outros tempos?
Eduardo Jorge – Você está falando de uma época do século passado. Em 1967, eu tinha 17 anos, o Brasil vivia uma ditadura e boa parte dos países do mundo eram ditaduras, de esquerda ou de direita. O mundo estava dividido, era uma Guerra Fria com focos na Guerra Quente em várias partes do mundo. Esse é um ambiente totalmente diferente do que os jovens vivem hoje. O ME na época vivia imerso nesse tipo de ambiente, as movimentações eram de ruptura. Portanto, temos que avaliar que a juventude hoje vive um momento completamente diferente. Então não se pode comparar os movimentos que lutavam contra as ditaduras com a realidade atual, com democracia. É outra forma de participar.
Muitos intelectuais apontam que as democracias representativas estão em crise, com candidatos autoritários ganhando destaque. O senhor acredita que o sistema democrático está em risco?
Jorge – A democracia nunca é definitiva, ela é sempre um processo em construção com possibilidade de regressão. Tudo depende da mobilização e concentração de cada povo. Então não existe essa fatalidade histórica de que após implantar a democracia ela vai crescendo até o desaparecimento do Estado, como pregava o comunismo. A democracia é um regime que está sempre em crise.
Em 2014 o senhor concorreu à presidência. Para 2018, como o senhor e o partido vão se posicionar?
Jorge – Eu fui candidato em 2014 com a única finalidade de divulgar o programa do PV, dizer que ele é um partido necessário para o Brasil, que tem um programa diferente. Era uma campanha nitidamente programática, sem a menor condição de disputar com as três grandes candidaturas já consolidadas. Para 2018, a direção do partido não definiu a sua estratégia, eu não faço questão de ser candidato a nada. Não quero mais ser revolucionário profissional como Lenin dizia, nem político profissional como dizia o PT.
“O que tenho é muita fé na capacidade de indignação dos jovens”
O jovem da atualidade não está mais conservador?
Juremir Machado da Silva – Eu não vejo que ele esteja mais ou menos conservador, mas a sociedade como um todo está muito calada, seguimos tendo escândalos de corrupção mas ninguém está nas ruas. Acredito que os jovens precisam ir para rua cobrar os governantes.
E qual o papel do Movimento Estudantil nesse cenário?
Machado da Silva – O ME sempre esteve a frente das grandes mudanças sociais do país e do mundo. Eu acredito na impetuosidade juvenil, na sua rebeldia e vontade de mudar o mundo.
Como o senhor tem visto o ME atualmente nas faculdades?
Machado da Silva – Eu não acompanho tão de perto, não me considero o mais preparado para essa avaliação. O que tenho é muita fé na capacidade de indignação e de ação dos jovens, que podem pressionar os governantes.