O primeiro ensaio para a greve do dia 28 ocorreu ontem em alguns pontos do estado. Em Lajeado, por volta das 8h30min, cerca de 500 trabalhadores de 15 categorias sindicais bloquearam a BR-386, km 344, na altura do bairro Montanha.
O movimento foi organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Via Campesina, Movimento do Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Trabalhadores sem Terra. Com um caminhão de som, exigiram a interrupção das reformas da Previdência e trabalhista, propostas pelo governo Michel Temer.
Conforme o vice-presidente do SindiComerciários, Ricardo Ewald, o ato serviu para alertar a população sobre os impactos das medidas na vida dos trabalhadores. “Isso mexe com todos. Não adianta fazer previdência privada, porque essa só vai pode usar quando se aposentar, mas quando mais se precisa, não cobre direitos como licenças-maternidade, paternidade, auxílio-doença, férias mínimas de 30 dias, seguro-desemprego.”
Segundo Ewald, as terceirizações vão quebrar a Previdência e gerar “caos social”. “Qual o poder de barganha terá um sindicato para uma multinacional com milhares de funcionários? O poder é todo do capital. A população deve acordar para esse perigo e a hora é agora.”
Uma fila de veículos se formou desde os primeiros minutos após o bloqueio da rodovia federal. Por volta das 10h, o engarrafamento superava quatro quilômetros, o que dava um acréscimo de cerca de uma hora na viagem, segundo a Polícia Rodoviária Federal.
O comando da PRF tentou negociar com os manifestantes para estabelecer um horário para liberar a rodovia. Os líderes do protesto alegaram que aguardavam determinações da central que gerencia os movimentos em outros pontos do estado e do país.
Sem horário certo para o fim do protesto, a PRF desviou o trânsito por bairros adjacentes, a fim de diminuir o congestionamento.
Bandeiras de movimentos sindicais de trabalhadores rurais foram estendidas na BR-386, junto a faixas de protesto
Alimentos distribuídos
Enquanto sentavam nos canteiros centrais da rodovia, os trabalhadores rurais dividiram lanches que trouxeram de casa. Nas bacias, pães, bolos, frutas, água e refrigerante. Ao meio-dia, um carreteiro foi servido. Por volta das 14h, o protesto encerrou.
Próxima paralisação
No dia 28, os manifestantes saem do bairro São Cristóvão, pela av. Senador Alberto Pasqualine em direção à av. Benjamin Constant, Júlio de Castilhos. O protesto encerra no Posto Faleiro, onde haverá discursos e distribuição de material informativo sobre as reformas.
Engarrafamento na entrada de Lajeado pela BR superou quatro quilômetros
Apoio e críticas
Na cabine do caminhão, Pedro Moresco, 52, acenava de forma positiva para o manifestantes. “Estão lutando pelos nossos direitos. Agora, estou me prejudicando por chegar atrasado, mas esses minutos aqui podem vale muito mais adiante. Também quero me aposentar”.
Motorista de uma transportadora de veículos, Fermino Gonçalves Vieira vinha de Passo Fundo e precisava entregar a carga ainda hoje em Soledade. Ele estava contrariado com o movimento. “Estou aqui há uma hora e isso aí não vai dar em nada. Só prejudica a nós, trabalhadores. Não basta a roubalheira, ainda não nos deixam trabalhar. Eu quero ir para casa ainda hoje.”
Uma das representantes do MPA, Léia da Silva, afirmou que o movimento está organizado em 19 estados e o protesto foi promovido pelos representantes dos vales do Taquari e Rio Pardo. “É a luta de direitos. Todas as políticas públicas atingem não só os camponeses, mas os trabalhadores urbanos. Nós conversamos com as pessoas e explicamos por que estamos aqui. Não há como um agricultor trabalhar até os 65 anos. Isso é desumano.”
Reforma é termo errado
Para Rudimar Muller, ex-prefeito de Cruzeiro do Sul e representante do deputado Elvino Bohn Gass, está comprovado que a Previdência não é deficitária, ela dá lucro. “Quando você fala em reforma, as pessoas entendem que será para melhorar, mas o que se vê nessa reforma golpista é o desmonte da esfera pública para ficarmos reféns de grandes conglomerados econômicos.”
No fim da manhã de ontem, caingangues também interromperam o trânsito
Índios também bloquearam
Tribo caingangue, localizada às margens da BR-386, entre Estrela e Bom Retiro do Sul, bloqueou a rodovia, nas proximidades no trevo de acesso a Bom Retiro do Sul. Conforme o cacique Carlos Soares, o protesto foi para exigir a retirada do Governo Temer do poder e também a contratação de professores e merendeira na escola da aldeia. “Este governo está cortando todos os nossos direitos. Tiraram a Dilma e botaram um outro pior. Não temos merendeira, nem professor de Caingangue.”
Segundo o cacique, várias vezes tentaram um encontro com servidores públicos para resolver a situação, sem sucesso. “Deixei tudo agendado e não recebo resposta sobre as contratações.”
Afirma que as crianças ficam sem merenda e as professoras precisam liberá-las mais cedo para que possam comer em casa.
