Os desafios de morar só

Fala Doutor

Os desafios de morar só

Psicóloga e psicanalista aponta benefícios e malefícios da solidão

Os desafios de morar só
Vale do Taquari

O número de brasileiros que moram sozinhos aumenta de forma gradativa. Conforme dados do IBGE, entre 2005 e 2015, a taxa de pessoas que vivem sem a companhia de outras passou de 10,4% para 14,6%, atingindo 10,4 milhões de pessoas.

Uma situação que, por vezes, é fruto de opção, em outras, de obrigação. Para a psicóloga e psicanalista Rebeca Katz, tais circunstâncias influenciam totalmente no modo como as pessoas encaram este momento.

“Para cada pessoa, o enfrentamento de estar só, consigo mesmo, pode ser mais fácil ou mais difícil. As experiências novas sempre despertam algo. Mas cada um pode reagir de modo diferente.”

Há pessoas que sentem-se felizes com isso. Rebeca acredita que isso ocorre, principalmente, quando há uma motivação maior, como um emprego ou oportunidade de aperfeiçoamento.

“De certa forma, morar sozinho é considerado um meio para alcançar um objetivo.” Para outras, residir de modo solitário também é uma maneira de evoluir na área pessoal. Ação que antigamente não era possível. “As pessoas saíam de casa somente para formar uma nova família.”

Agora se testam sozinhas. Isso é muito válido. Sempre é preciso confrontar-se consigo mesmo. “É um autoconhecimento incrível.”

Ela ressalta, inclusive, que ficar só pode representar o preenchimento de um vazio. A solidão interna não tem necessariamente a ver com quantas pessoas estão ao redor, mas sim em como a própria pessoa se sente.

“Às vezes, você pode estar cercado de pessoas, mas sentir-se sozinho mesmo assim. É sempre bom correr atrás daquilo que vai lhe fazer bem. Se manter uma certa distância é melhor, faça isso.”

O lado ruim

Em alguns casos, a pessoa não teve escolha, precisou morar sozinha. Ou, optou pela vida solitária para se isolar, se esconder, ou até por “não querer incomodar”.

“Pode ser que a atitude provenha de angústias ou questões não muito bem resolvidas. O que nunca é bom. Isso é um alerta para algo que está por vir.”

A psicóloga ressalta que sempre é necessário manter a convivência. “A gente sempre quer estar perto de quem gosta. Quando isso não acontece mais, é porque há problemas a serem resolvidos.” Os seres humanos são sociáveis, e precisam desse contato, aponta.

[bloco 1]

Medo da solidão

Por outro lado, há pessoas que fazem isso em excesso. Apesar de morarem sozinhas, buscam sempre a companhia de outros. O que também não é saudável.

“É uma espécie de síndrome: se eu paro, penso, se penso, eu choro. Não consigo ficar comigo mesmo, porque vou bater de frente com meus problemas.”

Esse incômodo gera prejuízos, e pode provocar doenças. Conforme aconselha Rebeca, quando se atinge esses dois extremos – de querer ficar muito só, ou de nunca estar sozinho – é preciso buscar auxílio médico.

Por meio de um trabalho quase investigativo, o psicólogo pode auxiliar a identificar as causas dessas atitudes. “Tudo tem um sentido. É preciso falar, pensar, para saber melhor o que nos angustia.”

Adaptada à solidão

Maristela Dick Born, 54, mora sozinha faz três anos – só tem a companhia da cadela Dorinha e da gata Gaia. Uma situação nova, que chegou após a criação dos três filhos, e dois casamentos.

“Primeiro, achei que não me adaptaria. Tinha medo de conhecer meus medos, minhas angústias. Mas aos poucos foi melhorando.”

Hoje, com residência no bairro Florestal, a enfermeira trabalha oito horas por dia. No restante do tempo, se dá a oportunidade de curtir os amigos, dançar, estudar. Enfim, se divertir.

“Me casei muito cedo. Não pude aproveitar. Agora, tudo é motivo para festa.” Ela afirma que esse foi um dos melhores benefícios em estar só. “Quando tem alguém, a pessoa sempre acaba te cortando. Eu não tenho ninguém que me anime, mas ninguém que me desanime.”

Outra alegria é não precisar dar satisfações, organizar tudo à sua maneira, fazer na hora que quer, se tiver vontade.

Além dos ganhos, a nova fase também trouxe desafios. Um deles, aprender a decidir sozinha. “Se tenho um problema, até posso perguntar para o outro: O que tu acha? Mas no fim a decisão é só minha.” Além disso, teve que se aproximar das redes sociais.

Por meio delas, consegue conversar e desabafar. “Gosto muito de ter alguém para contar como foi o dia. Isso me faz falta. Mas aí o Facebook me ajuda.”

Maristela se adaptou tão bem que hoje já não quer mais companhia para morar. Nem mesmo de um namorado. Próxima da aposentadoria, já faz planos. Cursa inglês para no futuro ocupar o tempo viajando.

Acompanhe
nossas
redes sociais