Festival aguça olhar sobre produção de filmes

Lajeado

Festival aguça olhar sobre produção de filmes

Desde a primeira sessão pela manhã, as poltronas do Teatro Univates ficaram lotadas

Festival aguça olhar sobre produção de filmes
Lajeado

No primeiro dia de festival, a organização comemora os resultados. Nas sessões de abertura, os curtas foram assistidos por estudantes da rede pública. Após as exibições, espectadores e produtores debateram e contaram como foram feitas as obras.

Hoje o festival continua nas sessões ininterruptas. Elas começam às 8h45min e encerram às 11h30min. A mostra competitiva apresenta o Cine Escola, com encerramento às 17h. Após o debate, às 19h15min, é a vez da sessão adulta, que conta com obras experimentais que abordam o nu com linguagem documental.

Enquanto as sessões encerravam, era o momento de reconhecer quem havia feito as obras. Diretor e protagonista andavam juntos do teatro ao auditório onde havia o debate após as exibições. Para o diretor e produtor independente, Marco Poglia, a apresentação do curta A Vida Tocando é uma vitrina para o trabalho. O filme dirigido por ele e por Vinícius Corrêa conta a história do violonista Nivaldo José, que perdeu a visão ainda jovem e decidiu estudar música clássica.

Após as sequências de exibições, realizadores e plateia debatem sobre o filme no auditório do prédio 11

Após as sequências de exibições, realizadores e plateia debatem sobre o filme no auditório do prédio 11

Improvisão

Com pouco recurso, inseriu o projeto no financiamento coletivo e recebeu cerca de R$ 5 mil para gravar, produzir, filmar, editar e dirigir. Apostou na plataforma Catarse para fazer o material. Depois de alguns apoios empresariais importantes, conseguiu pôr a ideia em prática.

Poglia exibiu o curta em alguns festivais e pretende seguir produzindo. Agora, o filme recebeu legendas e áudio-descrições, uma forma de mostrar o trabalho para outros países e democratizar os acessos a quem tem necessidades especiais. “As leis de incentivo deveriam ser ampliadas. A gente fez o filme sem o inscrever em edital justamente para conseguir realizá-lo. Porque está muito complicado com o cenário atual.”

A produção independente foi uma forma de conseguir produzir a história. Bastou duas câmeras e um gravador de áudio. O enredo foi experimental. Poglia conhecia a história de Nilvaldo José e queria fazer dela um filme. “Meu grande lance é música, mas eu acho muito legal a forma de ajudar as pessoas com deficiências. Meu filme já foi acompanhado por cegos, em uma exibição na Fiergs.”

Diretor Marco Poglia e o protagonista do A Vida Tocando, Nivaldo José

Diretor Marco Poglia e o protagonista do A Vida Tocando, Nivaldo José

Organização surpreende

Alexandre Estevanato veio de Ribeirão Preto (SP) para acompanhar o festival. Diretor do curta Apaixonadinho, atua no mercado do cinema faz 12 anos. Para ele, o evento demonstra uma organização prática surpreendente. “Desde a atenção que todos deram aos realizadores aos excelentes filmes, a organização do espaço e da equipe de produção foi fundamental.”

Para ele, o cinema se divide em duas etapas: antes do digital e pós- digital. “Antes, só com as películas, era mais difícil e não tinha tantos incentivos. Hoje, embora as leis sejam morosas, lentas, quem consegue se enquadrar tem mais facilidade.

Para a produtora Cíntia Sumidami, realizar uma ficção de 13 minutos foi um desafio. Foram oito meses de coletas e edição. Exibir o trabalho em um festival é um grande momento. “Este encontro com outros realizadores é muito produtivo. a gente está mergulhado no festival, começa a conversar com as pessoas e a cabeça está fervilhando com novas ideias.”

“A gente quase ficou sem o Ministério da Cultura e é tudo muito complicado e uma batalha bem grande.”

Amanhã chega Julia Lemmertz

Ela se aproximou pelo cinema na infância. Filha de atores, Julia Lemmertz brincava nos sets de filmagens e, quando faltava uma criança em alguma cena, era ela que preenchia o espaço. Depois dessas primeiras experiências, fez teste para atuar na primeira minissérie. E passou.

Logo vieram as aulas de teatro, as oportunidades em novelas e filmes.

Foi standing da mãe no filme Paixão e Sombras. Era em um momento em que era preciso entrar em um local de água profunda, do qual a mãe tinha medo.

Julia atuou no filme de Ismael Canepelle, Os Famosos e os Duendes da Morte, gravado em Arroio do Meio, Lajeado e Estrela

A Hora – Qual a influência de um festival desses para o futuro do cinema local?

Julia Lemmertz – Muitos filmes são realizados e não encontram uma forma de serem lançados. É oportunidade de assistir filmes que talvez só vá ser exibido no festival. Muitas vezes demora para ser lançado. Eventualmente nem vá ser lançado. A gente não tem uma indústria de cinema, a gente faz cinema, faz filmes, então, o festival é este lugar de encontro.

Como está o cenário no RS?

Julia – O cinema do RS tem coisa boa acontecendo. Tem que ter espaço para esses filmes. Esta região dos vales tem lugares lindos para serem explorados. Tem muita gente disposta a trabalhar e ajudar. Gravar em metrópoles tem um movimento intenso. Aqui é mais fácil de se locomover e abraçar uma produção. Tem uma juventude muito a fim de abrir caminhos profissionais.

O cinema gera muitos empregos, desde roteiro, cenário, maquiagem, câmera, assistência de set, enfim. O turismo e o cinema se atraem pelas imagens belas. Com certeza o RS tem muitos lugares para serem descobertos turisticamente.

Como você percebe a cultura do cinema no país hoje?

Julia – O país em crise e o primeiro a sentir isso é a cultura. A gente quase ficou sem o Ministério da Cultura e é tudo muito complicado e uma batalha bem grande. Esses filmes de baixo orçamento são exemplos de resistência. Ninguém faz cinema para se mostrar, mas por necessidade de falar algum a coisa, de refletir sobre o seu tempo e sobre o que está acontecendo na sua cidade, no país. Sem essa resposta artística, o mundo fica muito pobre. A gente tem uma cultura muito maltratada pelos governantes. E isso não é só de agora. Os incentivos estão diminuindo cada vez mais.

O que fazer para mudar esse quadro?

Julia – Os editais estão cada vez mais concorridos e tem muita gente que fica de fora, então, é preciso criar mecanismos que possibilitem realizar e, principalmente, exibir. De que adianta fazer um filme para deixar na gaveta? O povo, todos aqueles que gostam de cinema, de filmes, aqueles que pensam em uma vida cultura rica, devem pedir por isso. Batalhar para que as coisas aconteçam.

E os projetos futuros?

Julia – Temos um espetáculo que viajou pela Alemanha. A Tragédia e a Comédia Latino-Americana traz textos de literatura brasileira. O diretor Filipe Rirsh ganhou o prêmio Bravo por melhor espetáculo de 2016. A gente ainda tem convites para outros festivais, mas com 11 atores e uma banda de música a gente consegue ir a Alemanha e Portugal, mas não consegue ir a Porto Alegre.

Ainda terei participação na novela da Rede Globo, Novo Mundo. E tem ainda o lançamento de outro filme do Canepelle, Música para Quando os Ouvidos se Apagam.

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