Vocação suicida

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor editorial e de produtos

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

Vocação suicida

Passados 12 dias da Operação Carne Fraca, ficam cada vez mais latentes os exageros da Polícia Federal e a vocação suicida da sociedade brasileira. Quando o delegado Maurício Moscardi Grillo deixou a entender ao país e ao mundo que a “nossa carne”, quase toda, estava deteriorada e imprópria para o consumo, criou-se um espetáculo que gerou uma impressionante sucessão de efeitos deletérios.
A Operação Carne Franca, reforçou, com bastante clareza, o quanto o brasileiro detesta suas empresas e as multinacionais. Não acredita na sua propaganda e comemora o fracasso e o insucesso. Um tiro no próprio pé. Aqui, no ‘Vale dos Alimentos’, cinco grandes empresas que industrializam carne – BRF, Minuano, JBS, Languiru e Cosuel – empregam milhares de pessoas, sem contar os frigoríficos menores e as agroindústrias.
Informados por uma mídia faceira em reproduzir o caos alardeado pela polícia, de que a indústria brasileira de carnes é uma ameaça mortal à saúde do planeta, canarinhos trituraram as empresas, seus donos, publicitários e artistas de televisão que tentam construir uma “imagem de confiança” sobre os produtos.
Não importou, nem um minuto sequer, lembrar que um país que é o maior exportador de carne do mundo não pode chegar a esse patamar vendendo lixo. Ou, então, que consiga produzir toneladas de carne podre que não tenha cheiro. Ou, que policiais e procuradores tenham confundido vitamina C com veneno. Sobraram precipitação e suspeitas. Faltaram provas.
Antes de ser mal interpretado, destaco a relevância da Operação Carne Fraca. Os excessos midiáticos e ‘pirotécnicos’ não aniquilam a desfaçatez e o esquema corrupto deflagrado pela PF. É imperdoável que empresas que pretendem disputar mercado global sejam, para dizer o mínimo, coniventes com grandes esquemas fraudulentos. Precisam ser, sobremaneira, exemplares do ponto de vista ético. E, nesse caso, não foram. E merecem ser punidas por isso.
Ainda assim, é imperioso evitar a generalização e desacreditar todas as empresas ou frigoríficos. Até porque, na guerra acirrada do comércio mundial, autoridades sanitárias de vários países aproveitaram o episódio para defender indústrias locais, em geral menos eficientes que as nossas.
Os excessos de procuradores e delegados da PF precisam ser apontados e corrigidos, mas jamais no sentido de cercear as investigações. Pelo contrário. A faxina provocada pelos três anos da Lava-Jato, igualmente liderada pela Polícia Federal e o Judiciário, devolveram ao país a esperança real de que a corrupção pode ser combatida.
Nossa vocação suicida, expressa com tanta intensidade na Operação Carne Fraca, não pode servir de escudo para que oportunistas de plantão – leia-se, políticos enlameados com a Lava-Jato – se aproveitem dos erros e fragilidades institucionais para voltar ao desonroso passado de impunidade.


Alívio imediato

Grupo de líderes regionais recebeu ontem, em Brasília, a notícia de que a ANTT adiará o cronograma do processo de privatização da BR-386 e criará o grupo de discussão para debater melhor o edital. Parabéns à mobilização regional, que se opôs ao absurdo projeto apresentado e conseguiu barrar o escárnio que se construía na BR-386.


Exemplo para copiar

Chama atenção o baixo percentual gasto com a folha de pagamento em Poço das Antas. Município com cerca de três mil habitantes, investe 32% do orçamento em funcionalismo público. Rápido olhar pela maioria das cidades da região e do país permite somar nos dedos a quantidade de prefeituras que gastam abaixo de 40%.
Aliás, a maioria está perto de estourar o limite permitido por lei, beirando ou até passando dos 50%, como é o caso de Lajeado.
A propósito, no ano passado, Poço das Antas foi eleito município destaque em atendimento nas escolas infantis, sem crianças na fila.


Estratégia inteligente

A Secretaria de Agricultura de Lajeado finaliza a licença ambiental para derrubar cerca de 90 eucaliptos – espécie inadequada para o local – no Parque dos Dick. Leilão será realizado para vender a madeira, e o dinheiro arrecadado viabilizará reformas e investimento no parque.

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