Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a maior parte dos beneficiados utilizará o dinheiro do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) para quitar débitos. O levantamento feito nas capitais do país aponta que apenas 9,6% dos trabalhadores com direito a sacar gastarão com compras e lazer.
A maior parte, 65%, pretende pagar contas atrasadas ou poupar o dinheiro. Com isso, dos R$ 43,1 bilhões que devem ser sacados até julho, R$ 30,8 bilhões serão destinados para quitar dívidas ou à economia pessoal. A projeção é que R$ 17,7 bilhões sejam destinados para os credores, enquanto R$ 13,1 bilhões para investimentos.
Dessa forma, apenas R$ 3,7 bilhões serão destinados para o comércio, contrariando as expectativas do governo federal.
Comerciantes satisfeitos
Mesmo com um resultado aquém do esperado, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Lajeado (CDL-Lajeado), Heinz Rockenbach, nega frustração. “A quitação de dívidas é também muito importante para o comércio. Ao colocar suas contas em dia, o consumidor volta a ter crédito.”
Apenas em Lajeado, o índice de inadimplência no SPC foi de 15% no fim de 2016. Em fevereiro deste ano, foi pedida a retirada de pouco mais de duas mil pessoas do cadastro de maus pagadores. Em contrapartida, mais dois mil tiveram os nomes negativados junto à CDL.
Em razão disso, Rockenbach considera mais importante os consumidores quitarem dívidas ao invés de assumir novos compromissos. “Investimentos e aquisição de bens são importantes e necessários, porém, não podem ser priorizados em detrimento da quitação de débitos atrasados.”
Melhora no 2º semestre
Economista e professor da PUC-RS, Alfredo Meneghetti considera positivo o fato de os brasileiros priorizarem o pagamento de contas em atraso. “O enfrentamento da dívida será a prioridade dos consumidores porque o nível de endividamento é muito alto e as taxas de juros são um excesso, e hoje não se encontra rentabilidade, ou vantagens, no comércio.”
Para ele, essa atitude resultará em uma melhora econômica no segundo semestre. Na avaliação de Meneghetti, o país tendo menos endividados e a esperada melhora da economia, deve aumentar a atividade econômica a partir de julho.
Os primeiros saques iniciaram no dia 10 e, nos primeiros quatro dias, foram pagos R$ 4 bilhões em todo país. Para o RS, a projeção é que sejam sacados R$ 2,6 bilhões de acordo com a projeção da Caixa Econômica Federal (CEF).
Nesse primeiro momento, sacaram os nascidos entre os meses de janeiro e fevereiro. A partir do dia 10 de abril, começam a receber nascidos em março, abril e maio. Os pagamentos encerram no dia 31 de julho.
“Hoje o mercado está sedento de oportunidades”
Professor de Economia na PUC-RS, Alfredo Meneghetti avalia como positiva a decisão de pagar contas com o recursos do FGTS. Porém, ele chama atenção para a possibilidade de investir o dinheiro em fundos mais rentáveis.
Jornal A Hora – Quitar dívidas é o melhor destino para o FGTS ou é importante investir?
Alfredo Meneghetti – A primeira orientação é fazer o enfrentamento da dívida. A segunda que podemos dar para o cidadão equilibrado é buscar alguma aplicação. Hoje o mercado está sedento de oportunidades porque abre um leque muito grande para que o cidadão, através do seu empoderamento, faça aplicações no mercado financeiro olhando não só para os papéis de banco, mas ele poder se tornar o home broker (investidor).
Essa medida não frustra as intenções do comércio e do próprio governo que esperava que o dinheiro fosse injetado na economia?
Meneghetti – Em parte sim, mas por outro lado o comércio pode usufruir no médio prazo à medida que no momento em que os consumidores forem enfrentando seus endividamentos, eles ficarão mais livres e com mais capacidade para o consumo. No momento em que liberar uma parcela para pagamento da dívida, o cidadão pode reverter esse valor para o consumo. Esperamos os efeitos no segundo semestre, porque as contas inativas vão ser repatriadas no bolso do cidadão no primeiro semestre.
Pela sua projeção, podemos ter vendas de Natal melhores do que em 2016 em razão dos saques do FGTS?
Meneghetti – O consumo das festas do fim de ano deve ter um impacto muito bom pela liberação desse apoio das contas inativas, mas também pelas repercussões positivas do crescimento da economia a partir do segundo semestre. Este primeiro semestre é um momento de ajustes, com encaminhamento de reformas, fazendo com que tenhamos uma recuperação do emprego.
Para quem não tem conhecimento de mercado, qual o melhor caminho para investimentos?
Meneghetti – Para esse cidadão, que é leigo e não tem tempo para buscar mais informações financeiras, a indicação é constituir uma carteira simples, constituída de 50% de poupança e os outros 50% de certificado de depósito bancário. Ele não pode esquecer que o certificado tem de ser negociado com o gerente para conseguir taxas menores.
