Voluntários recolhem lixo e estimulam preservação

Vale do Taquari

Voluntários recolhem lixo e estimulam preservação

A 11ª edição do Viva o Taquari Vivo inicia às 7h30min deste sábado. Em dez anos, cerca de 33 toneladas de lixo e entulhos foram retirados do leito e das margens. A iniciativa rompeu as fronteiras de Lajeado e já ocorre em seis cidades. Reconhecida em nível estadual e nacional, a ação busca conscientizar sobre importância de preservar o manancial.

Voluntários recolhem lixo e estimulam preservação
Vale do Taquari

“No passado, quando ainda havia a famosa ilha entre Lajeado e Estrela, a gente costumava beber água do Rio Taquari. Hoje, quase não encontramos peixes. E não dá para enxergar nem um palmo dentro d’água de tão escura.”

A lembrança do aposentado Celso Francisco da Silva, 64, morador do bairro São Cristóvão, é compartilhada entre outros tantos pescadores profissionais e amadores. Eles vivem próximos ao Rio Taquari e atestam a degradação do manancial.

Na tarde dessa sexta-feira, ao lado de amigos, Silva, pescava no Taquari, perto do Porto dos Bruder. Lá, nos meses mais quentes, dividem o espaço com banhistas, moradores e proprietários de veículos náuticos.

A precariedade do histórico porto lajeadense é mesma da água do rio. Na rampa de desembarque das lanchas, garrafas pet, sacolas plásticas e outros dejetos se acumulam. Parte do material fica preso entre os galhos da vegetação. São cenas comuns.

Nessa quarta-feira, no Dia Mundial da Água, a fiscalização da prefeitura retirou lixo depositado quase na barranca do rio. Sofás, restos de construção, roupas, colchão, eletrodomésticos – como caixas de som e televisores – foram descartados de forma irregular. Algo corriqueiro, segundo os moradores ribeirinhos.

A sujeira espanta os peixes, garante Nilson Schmidt, amigo de Silva. Aos 57 anos, morador do bairro Centenário, frequenta o principal rio da região desde “que se conhece por gente”. Tomava banho no local onde hoje desemboca o poluído Arroio Forqueta, um dos mais comprometidos afluentes da bacia Taquari-Antas. “O gosto do peixe até não muda. Mas tem menos.”

Pela 11ª vez, centenas de voluntários percorrem às margens do Rio Taquari para recolher lixo.

Pela 11ª vez, centenas de voluntários percorrem às margens do Rio Taquari para recolher lixo.

Vigília quase diária

Silva e Schmidt não garantem presença no evento deste sábado. “Eu já participei. Acho uma iniciativa muito positiva. Mas desta vez não tenho como ir”, diz o mais velho dos amigos. “Mas nossa vigília é constante. Estamos sempre levando algum lixo deixado pelos outros aqui. Não custa nada, né”, acrescenta o parceiro de pescaria, enquanto desvia a linha de restos de construção.

Silva reitera que o local já foi considerado um balneário. Em dias de grande movimentação, centenas de pessoas se banhavam nas margens lajeadense e estrelense do Taquari. Após a conclusão da eclusa, em Bom Retiro do Sul, a ilha sumiu. “Hoje, então, não dá para colocar a boca n’água. Muito poluída. Culpa do pessoal que não consegue segurar o próprio lixo.”

Mais de 30 toneladas recolhidas

A 11º edição do Viva o Taquari Vivo é organizado pela ONG Parceiros Voluntários, com apoio de diversas entidades e governos municipais de pelo menos seis cidades margeadas pelo rio – Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Bom Retiro do Sul, Cruzeiro do Sul e Venâncio Aires. O evento deste ano ocorre neste sábado, a partir das 7h30min. Em caso de chuva, será transferido.

Conforme a organização, os voluntários devem se encontrar no Porto dos Bruder, em Lajeado, no Parque Municipal da Lagoa, em Estrela, no bairro Navegantes, em Arroio do Meio, no Clube Náutico Delta, em Cruzeiro do Sul, na Vila Mariante, em Venâncio Aires, e próximo a eclusa, em Bom Retiro do Sul.
Em 2016, a iniciativa teve a participação de mais de 600 voluntários. Foram 4,2 toneladas de lixo retirados das margens do rio. Desta vez, esperam recolher quantidade inferior em relação ao ano passado. Algo que até ocorre entre as duas últimas edições, mas de forma tímida. Há dois anos, foram retirados 4,7 toneladas.

Desde o início das ações, em 2007, são cada vez mais inusitados os materiais recolhidos pelos voluntários. Em 2014, por exemplo, um revólver calibre 38 foi encontrado. Além disso, é comum a retirada de sofás, estofamentos de carro, colchões, roupas, pneus, televisores, garrafas, latas, sacolas plásticas, isopor, vidro, entre outros entulhos e dejetos.

“É preciso sensibilizar a comunidade”

Keli Hepp, bióloga que atua na área ambiental da empresa lajeadense Docile, participa desde 2009 da ação voluntária. Neste sábado, espera levar ao menos 70 funcionários da empresa para auxiliar na limpeza. A participação dos funcionários já é praxe, comemora.

“É preciso sensibilizar a comunidade sobre a importância de preservarmos nossos mananciais. E também aproveitamos para levar essa consciência para dentro da empresa”, afirma. Ela também costuma mobilizar amigos, vizinhos e familiares. “É uma forma de potencializar essa mensagem. Mostrar a importância de preservamos por uma melhor qualidade de vida”, conclui.

Um dos idealizadores do projeto, o publicitário Gilberto Soares, é outro voluntário com participação garantida. Ele faz questão de relembrar que, em 2014, a Agência Nacional das Águas selecionou o projeto como um dos semifinalistas do Prêmio ANA, entre mais de 400 inscritos no país. Em 2016, a ação foi finalista do Prêmio de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa do Estado.

Desde 2007, mais de 30 toneladas foram retiradas das margens e do leito do rio

Desde 2007, mais de 30 toneladas foram retiradas das margens e do leito do rio

Dicas e informações

• A ação tem o objetivo de coletar resíduos e lixo nas margens e dentro do Rio Taquari. Não há remuneração pelo serviço, que é voluntário. A ação inicia às 7h30min e deve durar até o meio-dia;

• No sábado pela manhã, haverá atividades recreativas e de educação ambiental, por meio das equipes de Educação Ambiental da Secretaria do Meio-Ambiente e da Secretaria da Educação de Lajeado. Também haverá pintura com uso de tintas naturais, distribuição de cartilhas e sacolas de câmbio para carros;

• Haverá sacolas para recolhimento de lixo. Se possível, leve também algum material;

• Caso as condições do clima possam prejudicar a ação ou a segurança dos voluntários, a atividade será transferida, e o aviso será feito pelos meios de comunicação.

• Use camiseta confortável e, se possível de manga longa, para proteção contra picada de insetos, e calças jeans para evitar animais peçonhentos, boné ou chapéu para proteger do sol, e sapatos ou tênis confortáveis e de fácil limpeza, se possível, impermeáveis;

• Se entrar em alguma embarcação, use colete salva-vidas;

Acompanhe
nossas
redes sociais