Operação Carne Fraca abala cadeia produtiva

Vale do Taquari

Operação Carne Fraca abala cadeia produtiva

Essencial para economia gaúcha e do Vale, a venda de carnes começou a sofrer os impactos a ação deflagrada pela Polícia Federal (PF) na semana passada. A ação colocou sob suspeita o produto brasileiro no mercado internacional.

Operação Carne Fraca abala cadeia produtiva
Vale do Taquari

A venda de frango para fora do país representou 10,1% das exportações gaúchas no mês de fevereiro. O levantamento foi feito pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) antes de a Polícia Federal (PF) deflagrar a Operação Carne Fraca, que denunciou o uso de propina para fiscais liberarem produtos impróprios para o consumo. Tão logo a ação foi anunciada, a indústria começou a sentir impactos como cancelamento de exportações e princípio de uma retração no mercado interno.

De acordo com a apuração, o dinheiro era usado para financiar, de forma irregular, o PMDB e o PP. Mesmo tendo como foco desvios “pontuais” em algumas empresas, como classificou a própria PF, a ação colocou sob suspeita toda a cadeia produtiva. Com isso, mesmo empresas que não tiveram nomes envolvidos na operação acabam prejudicadas.

No Vale do Taquari, a venda de carne de frango e suína está entre uma das principais atividades econômicas. Ao menos três empresas com fábricas em municípios da região vendem os produtos para fora do país. São elas Languiru, Minuano, BRF e a JBS (duas investigadas pela PF).

A unidade da BRF em Lajeado, emprega cerca de 3,2 mil pessoas e abate 420 mil aves e 2,8 mil suínos por dia. A União Europeia decidiu vetar a compra de produtos da empresa, mesmo procedimento adotado pelo governo de Hong Kong.

Exportação de frango também é fundamental para a Languiru, que nessa sexta-feira, tinha 40 navios carregados do produto em direção ao Oriente Médio. A venda para fora do país representa aproximadamente 15% do faturamento mensal da empresa, o que significa um valor de R$ 20 milhões por mês vindo do exterior.

O presidente da Languiru, Dirceu Bayer, considera cedo para avaliar e projetar o impacto financeiro, mas lamenta o momento da operação. “Nós viemos de dois anos muito ruins, justamente quando seria o momento de recuperação acontece esse fato.”

Bayer afirma ser favorável a operação, entretanto questiona o fato de todo o mercado ter sido prejudicado. “Ninguém está autorizado a comercializar produtos fora do padrão de qualidade, esses tem que ser penalizados. O problema é que afeta toda uma cadeia, então não acho correto a forma como foi divulgado.”

foto exportações valeProblema Doméstico

Uma semana após a divulgação da Carne Fraca a venda dentro do país foi a primeira a enfrentar problemas. “Até o momento a operação impactou no mercado interno da venda de frango, no suíno nem tanto.”

O bom resultado nas vendas para fora do país ocorre em razão do principal comprador da empresa.  “Praticamente 90% do frango da Languiru é vendido para o Oriente Médio, então nós não somos tão afetados diretamente”, afirma Bayer. Mesmo assim, ele diz que a empresa enfrentará problemas. “O impacto nos atinge, mas pelo menos conseguimos acessar os mercados.”

Na avaliação do presidente da Languiru, a situação deve ficar mais problemática para quem está focado no mercado asiático. “O problema principal de todos é a China e Hong Kong, que são grandes mercados do frango. Vamos ter um reflexo muito grande se não conseguirmos exportar para esses locais.”

Países exportadores já anunciaram embargo aos produtos brasileiros e mercado interno teve pequena retração

Países exportadores já anunciaram embargo aos produtos brasileiros e mercado interno teve pequena retração

Déficit de fiscais

Uma das dificuldades para combater as fraudes é a dificuldade na fiscalização. O problema ocorre pela falta de profissionais para fazer o serviço. De acordo com o representante do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) no Vale do Taquari, Ricardo Cimirro, a situação é grave em todo país.

Levantamento da Anffa aponta um déficit de 48% dos profissionais em todo país. No Vale, existem sete fiscais para atuar em 64 estabelecimentos, autorizados a comercializar produtos como laticínios e carnes para todo o país.

Cimirro defende a reestruturação da carreira funcional, com abertura de concursos para preencher as vagas deixadas por quem se aposentou. “A fiscalização tem que ser maior, porque no Brasil já estamos com menos fiscais do que deveria.” Além disso, pede o fim de nomeações feitas por apadrinhamento político. “Defendemos que não sejam feitas indicações políticas para cargos técnicos e superintendências, evitando interferência política.”

Na avaliação de Cimirro, os problemas ocorrem também devido a necessidade produção cada vez maior. “Em uma empresa da região, o gerente iniciou o trabalho e entregava o produto muito rápido, depois começou a aumentar a devolução. Ele queria mostrar produção, mas começou reduziu a qualidade.”

Cimirro vai além da questão industrial ao avaliar os problemas nos produtos que chegam à mesa do consumidor. De acordo com ele, o problema muitas vezes decorre do processo que transcorre até os alimentos serem disponibilizados nas gôndolas de supermercados. “Muitas vezes os produtos saem muito bem da indústria, mas por falta de manutenção ou transporte, chega no mercado com problemas.”

Chance para os Pequenos

Enquanto as grandes indústrias tentam recuperar a credibilidade arranhada após a Operação Carne Fraca, os pequenos produtores, frigoríficos e açougues tem a chance de melhorar as vendas. De acordo com números da Emater, o Vale do Taquari e Caí possuem 30 agroindústrias que trabalham com carnes. Estas vão desde cortes, até a produção de embutidos.

Proprietária de um pequeno açougue no centro de Arroio do Meio, Micheli Becker Delvin acredita que os clientes devem priorizar os negócios locais. “Em uma grande empresa é mais difícil de controlar tudo. Aqui, se o boi chega com problemas devolvemos na hora.”

Diferente de Michele, o açougueiro Felipe Renz é menos entusiasta sobre uma mudança no comportamento do consumidor. Ao contrário da colega, que compra seus produtos de um pequeno frigorífico, Renz escolheu como fornecedor grandes empresas da área de corte de gado.

“Trabalhamos com produtos mais selecionados, e portanto um pouco mais caros. E o consumidor ainda vai optar primeiro pelo preço do que pela qualidade.” Renz acredita que nos próximos meses as grandes empresas investigadas pela PF começarão a vender produtos mais baratos, conseguindo recuperar parte do mercado perdido.

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